segunda-feira, 7 de novembro de 2011

ENCONTRO COM O DESTINO




                                          Graça Morais

7 - INTERMEZZO

                        O entusiasmo arrefeceu logo que Paulo José se sentou a bordo do avião que o iria levar para Newark. Num pequeno bloco assinalara os horários e o trajecto e agora, só agora, reparara que passaria largas horas antes de chegar ao destino.
Os primos haviam sugerido que voasse para Newark e depois no último voo para Toronto. Lá estariam à sua espera, iriam falar sobre o projecto Vancouver, do modelo de negócio que tinham estudado e a expectativa da sua implementação.
Ficou um pouco nervoso, já não via os primos há anos e receava ter ou ir causar alguma decepção.
Na realidade a necessidade de sair para outro lugar, longe de tudo e de todos, era tão imperiosa que não se importara sequer em perceber o que os primos dele esperavam.
Mas, por uma vez na vida, decidiu arriscar. Quando estava para partir não foi sequer a casa. A Mãe era fria e como sempre desligada daquele filho. Do Pai guardava mágoas que tardava em esquecer e receava que qualquer observação que ele fizesse, fosse o rastilho para uma confrontação, tantas vezes adiada.
Para o irmão Henrique, bastou uma mensagem por telemóvel, tão frias e distantes eram as relações entre os dois.
Apenas de Cecília, agora sua companheira na casa em Lisboa, ouviu palavras de apoio e de encorajamento. Ela era diferente, independente sim, mas tinha sentimentos, coisa rara naquela família.
Esteve com ele no Aeroporto e a sua alegria contrastava com a ansiedade e o receio do irmão. Paulo relembrava as palavras da irmã mais nova, sussurradas ao ouvido, quando lhe deu um caloroso abraço. Dissera-lhe:
"- Vai meu irmão, enfrenta o destino sem medo, não olhes para trás, nunca. Eu sei a razão do teu desassossego, mas para mim tu serás sempre o irmão que comigo brincou e me ensinou os desafios da vida. Prometes que me darás notícias e, quem sabe, talvez um dia eu siga o teu caminho."
Foram estas palavras que lhe deram ânimo. Sim, o passado estava enterrado e o futuro seria um caminho aberto que estava nas suas mãos, percorrer.
Chegou a Toronto, noite cerrada e viu no primeiro relance a figura do primo Júlio e da mulher Ana. Tinham sido colegas de liceu mas nunca mais se haviam encontrado. Ficou feliz, muito feliz quando os abraçou. Tinham sido amigos e a amizade não se esquece.
Vais ficar em nossa casa, temos um quarto disponível, pois vamos ter muito de conversar. Depois iremos para Vancouver, estaremos contigo apenas alguns dias, pois tencionamos que sejas tu a assumir a responsabilidade do restaurante/bar que já existe,  que compramos, para que queremos transformar em qualquer coisa de diferente.
Nós ficaremos em Toronto, temos dois restaurantes que nos ocupam todo o tempo e dois filhos a frequentar a escola. Estamos convencidos, vais ficar apaixonado pelo projecto, ia dizendo o primo Júlio enquanto levantavam a bagagem e depois conduzia o carro atravessando a cidade, até parar junto de uma moradia num bairro cheio de jardins e parques iluminados.
Chegamos, diz Ana, sê bem-vindo a nossa casa!
E para sua surpresa, Paulo sentiu naqueles breves instantes, um calor de família, como nunca conhecera. Aquele momento fora um clarão de luz, por entre as trevas duma vida sombria.

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