segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ENCONTRO COM O DESTINO





                                                   Júlio Pomar


14 - CONFISSÕES

Os dias, os meses passaram a correr. O trabalho e a dedicação que cada uma das amigas dedicava ao estudo e ao trabalho não lhes deixaram muito tempo livre para convívios. Faziam uma vida tão concentrada nas suas experiências, feita de correrias, de noites sem dormir, que raramente se encontravam a só.
 Todavia algo iria mudar.
O mês de Dezembro aproximava-se a passos largos, a neve cobria a cidade transformando-a num postal de Natal. As noites tão longas e frias eram um pretexto para ficarem em casa disponíveis, para conversar, rir e  também para confissões.
E foi Li, que numa dessas noites, mostrou a carta que acabara de receber do Paulo, e comentou que, a relação não teria passado de uma breve ilusão que não resistira a dois meses de separação. Mas na verdade, reconhecia, que talvez tivesse sido ela a culpada pelo apagamento daquela frágil luz. Sentira-se atraída, e traída, pela beleza do luar, pela tranquilidade da paisagem, pelo cantar ritmado das ondas do mar, pelos momentos de silêncio, mas reconhecera, fora imprudente.
Conhecera agora que existia um abismo que não ousara transpor e a sua correspondência com Paulo, era cada vez mais uma conversa de amigos. A paixão não chegara sequer a nascer ou então fora uma ilusão que a distância fizera esmorecer.
Contava que se sentia culpada por ter dado esperanças, mas pelo teor da última carta que acabara de receber, percebera que também Paulo deixara morrer o fogo e que o que restaria era apenas amizade. Paulo anunciou-lhe que saíra de White Rock e rumara para Nova Iorque, onde a irmã já estava a frequentar um estágio numa escola de música. Confessava que a solidão o fizera partir, talvez  para encontrar o Paulo José, que deixara um dia esquecido, numa pequena cidade do seu País. Ficaria com a irmã, Cecília, e tentaria recomeçar a viver.
Mas o que me espanta, diz Li para a amiga, é que o Paulo nem me diz adeus, nem me dá um contacto, simplesmente acabou.    Confesso que sinto mágoa, acreditei que poderia ser feliz mas enganei-me. Mas eu olharia de frente pediria perdão, salvando a amizade. Nunca seria capaz de simplesmente, terminar sem uma palavra, nem que fosse um adeus.
Bárbara ouviu a confissão e com a mão no ombro da amiga, tranquilizou-a:
- Eu receava esse final, tinha avisado. Felizmente fico contente porque não vejo dor nas tuas palavras. Esquece, ao fim e ao cabo não foi nada importante, como tu própria reconheces. O Paulo é um homem confuso e perdido. Tem um comportamento difícil de entender. Dá ou quer dar mas não se solta, não se entrega. Na vida algo de muito grave o marcou e ele não consegue viver com o passado. Eu tive um pressentimento que afastei, mas se me perguntares qual, não sei sequer responder.
Eu não tencionava falar sobre este assunto. Mas não fiquei admirado com o desfecho. Paulo escreveu-me uma vez, uma única vez, e contou-me que tinha tido problemas com os Primos, proprietários do resort que ele dirigia e onde estivemos nas férias, e tinha decidido abandonar o projecto. Mas para mim ele, simplesmente, fugiu.
E na carta confessou-me que, por razões do foro íntimo, receava não ser capaz de te fazer feliz e pediu-me ajuda para te explicar as suas dúvidas e ao seus receios. Mas não mos disse e eu nem os perguntei.
Entre nós, recomendo-te, esquece, não tentes compreender o que nem ele é capaz de explicar. Mas não lhe queiras mal. Ele é infeliz e uns lampejos de felicidade foi tudo o que alcançou durante os dias em que esteve a teu lado.
Partiste e a noite tomou o teu lugar e ele, mais uma vez, perdeu-se na escuridão. 


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