quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ENCONTRO COM O DESTINO


                                                         William Turner
                                 
8 –  O DESAFIO

            Apesar do cansaço, Paulo e os primos ficaram a conversar até altas horas.
De repente, Ana percebeu que Paulo estava no limite da resistência.
Recordou que eram horas de ir deitar, eram três horas da manhã, hora local o que significava que para Paulo eram horas de se levantar, ele que já nem se lembrava quando dormira.
Amanhã, sábado, teremos muito tempo para conversar, lembrou.
            Foram descansar. Para Paulo tinham preparado um sofá convertível, colocado num recanto da sala comum e protegido com um biombo amovível.
 Ana sabia que muito dificilmente conseguiria manter os filhos da cama. Era sempre assim, nos dias de escola era um martírio para os levantar, mas ao sábado e com uma visita de alguém que não conheciam, estariam despertos bem cedo.
Eram miúdos irrequietos mas sabiam tomar conta um do outro, preparavam os cereais para o pequeno almoço e sentavam-se na sala a verem os programas de televisão com histórias de animação. A Mãe levantou-se apenas para verificar se eles, uma rapariga de seis anos e um rapazito de quatro, estavam aconchegados e recomendar silêncio, pois o primo que dormia no sofá estaria muito cansado.
Mas as crianças não resistiram e foram espreitar o convidado.
Paulo dormira mal, o cansaço não ajudara e passara a noite e rever a vida que não lhe trazia boas recordações. Acordou cedo alagado em suor. O pouco que dormira fora entrecortado por pesadelos e a presença dos miúdos curiosos, foi um momento de acalmia e, ao fim de tantos anos, sorriu com afecto.
Levantou-se e fez companhia às crianças enquanto se ria com as histórias de bonecos animados que passavam na televisão, mas acabou por cerrar os olhos e dormir sossegado e tranquilo.
Acordou ouvindo a conversa muito sussurrada entre as crianças e a Mãe. Estavam na cozinha e Paulo sentindo-se embaraçado, passou de fugida para o quarto de banho que lhe tinham reservado, para tratar da sua higiene pessoal.
Quando acabou, sentiu-se outro, estava feliz e começava a sentir-se parte da família. E que bem que isso lhe fazia.
Aproveitaram o dia de sábado para visitarem os dois restaurantes que os primos possuíam em Toronto. Eram restaurantes diferentes quer na decoração quer na ementa. Um, o mais antigo, tinha um chefe Português que Júlio encontrara num restaurante no Porto e aliciara para vir para o Canadá. E fora uma excelente escolha. O outro, mais recente, tinha uma cozinha mais elaborada e uma chefe Canadiana, natural da parte Francófona.
No domingo, já com Paulo ambientado á mudança de fuso horário, discutiram então o projecto para o espaço em Vancouver, desde as linhas gerais até aos planos de pormenor.
Paulo ouviu e deu opinião e surpreendeu-se a ele mesmo com as ideias que lhe surgiram e foram aceites pelos Primos. Júlio propôs que fosse Marie Louise, a gerente do restaurante em Toronto, a acompanhar Paulo na execução do novo projecto. Garantia que ela tinha uma personalidade muito aberta à inovação e confiava que com Paulo iria constituir uma equipa de sucesso.
Júlio garantira o financiamento do projecto mas caberia a Paulo e a Marie escolherem o decorador e a selecção dos empregados.
Está tudo combinado, Marie também se mostrou entusiasmada com a mudança para outra cidade, até porque, está a sair de um casamento falhado e a mudança de ares lhe irá fazer bem, concluiu Ana, sem deixar de esboçar um sorriso cúmplice.
E assim, no outro lado do mundo, entre a floresta e o oceano Pacífico, Paulo um inadaptado engenheiro, carregando recordações dolorosas, iria começar a viver um desafio. E ao contrário do que ele mesmo esperava, estava tranquilo, não tinha receio de falhar.

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