A ALEGRIA
Artur Castro acabava de sair da reunião mensal da Comissão Directiva da Empresa. Era a sua primeira com as funções de chefe de projectos especiais, para que fora, recentemente, escolhido.
Era um homem, com quarenta anos de idade, não conhecera outro trabalho nem outra Empresa. Aquela era a sua casa.
Começara a trabalhar na Empresa como projectista, estudara e licenciara-se, e apesar das exigências académicas, nunca havia invocado tal facto para se eximir a deslocações de trabalho, algumas vezes mais prolongadas, quando se discutiam as propostas em concurso internacional onde a Empresa concorrera ou dirigia os ensaios dos sistemas fornecidos.
E por isso conhecia meio mundo, mas na realidade apenas as salas de reuniões onde a proposta seria negociado ou o estaleiro, quando na fase final da obra, assistia aos ensaios.
Era um dia particularmente feliz, principalmente para alguém que subira na vida a troco de muito trabalho, estudo e aprendizagem.
Era a doutrina que costumava explicar a cada um dos colaboradores que recebera na sua divisão de projectos. Ali, naquela sala, estava o futuro da Empresa e o trabalho conjunto representava o sucesso e o bem estar dos outros trabalhadores. E eram muitos.
Quando a Administração o convidou, por breves momentos hesitou, mas acabou aceitando o desafio, confiando na equipa que com ele trabalhava.
Artur sabia que a concorrência era muito forte, designadamente a dos fabricantes asiáticos. Para a vencer, não seria pelo preço mas sim pela qualidade. Isso requeria muito trabalho de investigação e inovação.
Não era tarefa para um homem, era um desafio para uma pequena e coesa equipa de trabalho. Onde conseguira juntar o saber de experiência feito com o sabor académico em estado puro.
Dessa mescla, nasciam as ideias, as inovações, alguns erros e finalmente, os sucessos e o reconhecimento.
Estava feliz por ele e pelos colegas. Entrou na sala e foi recebido com aplausos.
Era uma manifestação espontânea, os colegas reconheceram nele as qualidades humanas. Eram colegas, amigos, competentes e solidários.
Ficou feliz e comovido ao verificar que em cima da sua secretária tinha uma oferta. Uma caixa, presumia, embrulhada em papel colorido e atada por laços que tentou desatar.
Mas estava nervoso, não tinha muito jeito com as mãos e foi Lucília uma das mais jovens engenheiras que o ajudou a desfazer o embrulho e a abrir a caixa.
Embrulhada em papel de celofane que rasgou, retirou e exibiu uma peça muito bonita de loiça da Vista Alegre. Agradeceu comovido e lembrou-se que a mulher já uma vez manifestara vontade de comprar uma taça como aquela. Mas era cara e a vida não estava mas gastos excessivos.
Agradeceu a todos, não era grande orador, as palavras saíam a conta gotas mas o sentimento estava lá e chegou ao seu destino, ao coraçãodos amigos.
Era sexta-feira e ao contrário do que era habitual, foi dos primeiros a abandonar o escritório e seguir para casa. Queria fazer uma surpresa.
Costumava esperar pelo autocarro que parava perto da porta da fábrica, mas teve sorte, um amigo ofereceu-lhe boleia, aceitou e depressa chegou ao seu destino. Morava num bom apartamento da Maia, e tinha três filhos. João bebé de berço, seis meses de vida, Filipa com irrequietos quatro anos e Joana já uma senhorita muito compenetrada no seu papel de ajudante, apesar dos nove anos de idade.
Joana era o apoio da Mãe. Apesar da idade, tinha um sentido de responsabilidade muito forte e conseguia cuidar dos irmãos enquanto a Mãe se ocupava da cozinha.
Joana era o apoio da Mãe. Apesar da idade, tinha um sentido de responsabilidade muito forte e conseguia cuidar dos irmãos enquanto a Mãe se ocupava da cozinha.
Maria da Graça a sua companheira, fora a única paixão da sua vida e era a alegria que fazia transbordar os corações. Na verdade Maria da Graça conseguia conciliar o seu trabalho numa agência bancária de um pequeno Banco, com a responsabilidade de gerir aquela família. E fazia-o com um sorriso de felicidade.
Antes de ir para casa, olhou para o relógio, dava tempo, foi comprar umas flores simples, como simples era a mulher, uns brinquedos para os mais novos e um livro para a Joaninha. Ele chama-a assim, mas ela não gostava, já era muito crescida para o diminutivo.
Chegou a casa e ficou na janela para assistir à chegada do automóvel de família, que Maria da Graça conduzia.
E esperou.
Virgem e o Menino Hans Memling (c. 1430/40–149
Óleo sobre madeira de carvalho
Convento de Jesus, Setúbal
Museu Nacional de Arte Antiga
LISBOA/PORTUGAL
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