2 – A DOR DA SAUDADE
Foi através
de uma Agência de Beja, via internet, que encontrou uma casa velha, isolada no
alto de um monte. Deixou-se contagiar com as imagens da planície alentejana,
banhada pelo sol que se estendia até onde o céu tocava a terra, naquele
horizonte feito de cor e luz e decidiu comprar a casa da colina. E até o nome
lhe trazia a paz que precisava. Quem sabe, pensou, “casa da colina” até poderia
ser o título do livro que iria escrever.
Nada mais o preocupou, nem se inteirou do
estado em que a casa se encontrava. Ficara apaixonado pela localização e tudo o
mais esqueceu. O pessoal da agência, ainda lhe dissera que a casa precisaria de
pequenas reparações, mas que seria fácil e económico encontrar quem as fizesse.
Assinou o contrato, pagou e deixou a questão
da reparação para decidir à vista da casa.
Era pouco
exigente, não queria uma mansão, uma casa de novo-rico, com uma arquitetura que
até ofenderia o lugar. Para ele, a casa seria sempre e só a casa da colina, o
espaço para aguardar com tranquilidade o fim do caminho.
Na
publicidade, e nos contactos com o vendedor, foi sabendo que a casa se
encontrava a uma distância não superior a um quilómetro de uma pequena aldeia,
onde iria encontrar mercearia, padaria, uma taberna para afogar em vinho as
suas mágoas. Aos sábados a povoação animava-se com uma feira onde poderia
conhecer pessoas simples, camponeses que aproveitavam para o seu comércio e até
alguma distração com os desafios lançados pelos habituais vendedores,
apregoando a excelência dos produtos e o seu preço de saldo. Eram feirantes
habituais em todas as aldeias, vilas e até cidades do interior cada vez mais
deserto do País e faziam parte do colorido que ainda restava no interior do
País, cada vez mais esquecido.
O entusiasmo
do vendedor apregoando a oportunidade de um bom negócio, deu para o convencer.
Um sítio calmo, onde poderia isolar-se quando lhe apetecesse, ou encontrar
alguma convivência, quando para isso estivesse disposto.
Emalou as
coisas indispensáveis, carregou-se de livros, principalmente de poesia, um saco
com os medicamentos, toda a roupa que encontrou, os sapatos que utilizava,
roupa de cama e pretendeu encheu uma mala de viagem de bom tamanho.
Enganara-se, nem metade cabia, teve que juntar mais um saco, uma mochila dos
tempos em que fizera campismo e mais dois ou três sacos com compras de
supermercado, que admitia iria precisar nos primeiros dias.
O transporte
seria um autocarro expresso que o levaria até Beja. Depois uma única ligação diária
até ao destino. Partiu de táxi até ao terminal dos autocarros e teria que
utilizar idêntico transporte da povoação até à casa da colina.
Estava tudo
em ordem, confirmou, agora era apenas o primeiro passo e o desafio de enfrentar
o cansaço dum dia de viagem.
Mas, apesar
da esperança de uns dias diferentes, havia sempre o medo da saudade. Já sentira
um frémito quando do barco em que atravessou o rio Tejo, olhou para a cidade
que iria deixar. Lisboa era a sua cidade, sê-la-ia sempre, com o rio, a luz, e
as suas colinas. Dizia adeus a Lisboa e essa seria sempre mais uma dor que o acompanharia na partida.
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