quarta-feira, 8 de abril de 2015

A CASA DA COLINA







2 – A DOR DA SAUDADE


 


 


Foi através de uma Agência de Beja, via internet, que encontrou uma casa velha, isolada no alto de um monte. Deixou-se contagiar com as imagens da planície alentejana, banhada pelo sol que se estendia até onde o céu tocava a terra, naquele horizonte feito de cor e luz e decidiu comprar a casa da colina. E até o nome lhe trazia a paz que precisava. Quem sabe, pensou, “casa da colina” até poderia ser o título do livro que iria escrever.


 Nada mais o preocupou, nem se inteirou do estado em que a casa se encontrava. Ficara apaixonado pela localização e tudo o mais esqueceu. O pessoal da agência, ainda lhe dissera que a casa precisaria de pequenas reparações, mas que seria fácil e económico encontrar quem as fizesse.


 Assinou o contrato, pagou e deixou a questão da reparação para decidir à vista da casa.


Era pouco exigente, não queria uma mansão, uma casa de novo-rico, com uma arquitetura que até ofenderia o lugar. Para ele, a casa seria sempre e só a casa da colina, o espaço para aguardar com tranquilidade o fim do caminho.   


Na publicidade, e nos contactos com o vendedor, foi sabendo que a casa se encontrava a uma distância não superior a um quilómetro de uma pequena aldeia, onde iria encontrar mercearia, padaria, uma taberna para afogar em vinho as suas mágoas. Aos sábados a povoação animava-se com uma feira onde poderia conhecer pessoas simples, camponeses que aproveitavam para o seu comércio e até alguma distração com os desafios lançados pelos habituais vendedores, apregoando a excelência dos produtos e o seu preço de saldo. Eram feirantes habituais em todas as aldeias, vilas e até cidades do interior cada vez mais deserto do País e faziam parte do colorido que ainda restava no interior do País, cada vez mais esquecido.  


 


O entusiasmo do vendedor apregoando a oportunidade de um bom negócio, deu para o convencer. Um sítio calmo, onde poderia isolar-se quando lhe apetecesse, ou encontrar alguma convivência, quando para isso estivesse disposto.


Emalou as coisas indispensáveis, carregou-se de livros, principalmente de poesia, um saco com os medicamentos, toda a roupa que encontrou, os sapatos que utilizava, roupa de cama e pretendeu encheu uma mala de viagem de bom tamanho. Enganara-se, nem metade cabia, teve que juntar mais um saco, uma mochila dos tempos em que fizera campismo e mais dois ou três sacos com compras de supermercado, que admitia iria precisar nos primeiros dias.


 


O transporte seria um autocarro expresso que o levaria até Beja. Depois uma única ligação diária até ao destino. Partiu de táxi até ao terminal dos autocarros e teria que utilizar idêntico transporte da povoação até à casa da colina.


Estava tudo em ordem, confirmou, agora era apenas o primeiro passo e o desafio de enfrentar o cansaço dum dia de viagem.


 


Mas, apesar da esperança de uns dias diferentes, havia sempre o medo da saudade. Já sentira um frémito quando do barco em que atravessou o rio Tejo, olhou para a cidade que iria deixar. Lisboa era a sua cidade, sê-la-ia sempre, com o rio, a luz, e as suas colinas. Dizia adeus a Lisboa e essa seria sempre mais uma dor que o acompanharia na partida.


 


 


 





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