sábado, 11 de abril de 2015

A CASA NA COLINA









O CANTE ALENTEJANO




Ainda estava a viver a sentir o poema do fado da saudade, quando ao aproximar-se da cidade de Beja se lembrou a história singular de um povo que cantava, sem música nem instrumentos e com vozes masculinas, melodias e poemas tradicionais, herança dos seus antepassados, cuja memória se perdia no tempo.


O seu sangue alentejano lembrou-lhe a nostalgia dos que sempre permaneceram nas suas aldeias vilas e cidades sem nunca terem esquecido serem um Povo diferente, triste e solidário, rebelde e imune aos atropelos que os senhores feudais  os haviam sempre praticado. Era um Povo que não se revia das doutrinas da Igreja, que noutros tempos, fora sempre uma aliada, de peso, dos donos da terra. Enquanto que a eles apenas era reconhecido o direito de a trabalhar até morrer. 


A camioneta de passageiros, velha e gasta, continuava a rolar por estradas que mais pareciam veredas, atravessando a planície indiferente à luz do sol que crestava o rosto dos trabalhadores.


Luís ansiava por chegar à aldeia que havia escolhido e já se imaginava a ouvir o cantar do Alentejo.


Como companheiros de viajem apenas um casal de velhotes, que dormitava, e um jovem que de sacola ao ombro regressava da escola.


Foram duas horas de solavancos, de silêncios até que a pobre camioneta parou numa pequena praça, que circundava um pequeno canteiro, com uma oliveira de tronco gasto pelos anos.


Nem uma pessoa conseguiu ver, apenas casas, poucas e pequenas, caiadas de branco e rodapés de azul vivo. O sonho de ouvir o cantar do seu Alentejo iria morrer por ali. 


Enquanto o motorista o ajudou a retirar a sua bagagem, malas e sacos onde guardara a sua riqueza, o casal de velhos e o jovem estudante, companheiros de viajem meteram-se ao caminho por uma ruela próxima e, num segundo ,desapareceram.


Ficou sentado numa parede do canteiro e à sombra da oliveira fechou os olhos e por breves instantes, dormiu.


E foi ali, naquela praça vazia, duma aldeia perdida, que esbarrara com o destino. Olhou para o monte na sua frente, viu no seu alto a casa da colina. Estava no sítio certo, aquela casa seria o seu refúgio. Só não sabia como lá chegar, nem via caminho e, na verdade, não teria já forças para carregar a bagagem.


Estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe.


Desistiu de começar a caminhada, não seria capaz de a fazer, olhou em busca de auxílio e o melhor que encontrou foi um banco de pedra, acostado à parede de uma casa da esquina, lugar que lhe pareceu o paraíso. O sol ainda queimava, eram duas horas da tarde, mas o banco estava protegido por videiras suspensas que lhe davam a sombra. Fez dois ou três transportes das malas e do resto dos sacos que trouxera, ficou alagado em suor e deixou-se cair no banco de pedra, aproveitando para fumar um cigarro. Tempo, era tudo o que tinha de esperar até a aldeia dar sinais de vida.


Cerrou os olhos e descansou. 















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