O CANTE ALENTEJANO
Ainda estava a viver a sentir o poema do fado da saudade, quando ao aproximar-se da cidade de Beja se lembrou a história singular de um povo que cantava, sem música nem instrumentos e com vozes masculinas, melodias e poemas tradicionais, herança dos seus antepassados, cuja memória se perdia no tempo.
Ainda estava a viver a sentir o poema do fado da saudade, quando ao aproximar-se da cidade de Beja se lembrou a história singular de um povo que cantava, sem música nem instrumentos e com vozes masculinas, melodias e poemas tradicionais, herança dos seus antepassados, cuja memória se perdia no tempo.
O seu sangue
alentejano lembrou-lhe a nostalgia dos que sempre permaneceram nas suas aldeias
vilas e cidades sem nunca terem esquecido serem um Povo diferente, triste e
solidário, rebelde e imune aos atropelos que os senhores feudais os haviam
sempre praticado. Era um Povo que não se revia das doutrinas da Igreja, que noutros tempos, fora sempre uma aliada, de peso, dos donos da terra. Enquanto que a eles apenas era reconhecido o direito de a trabalhar até morrer.
A camioneta
de passageiros, velha e gasta, continuava a rolar por estradas que mais
pareciam veredas, atravessando a planície indiferente à luz do sol que crestava
o rosto dos trabalhadores.
Luís ansiava
por chegar à aldeia que havia escolhido e já se imaginava a ouvir o cantar do
Alentejo.
Como
companheiros de viajem apenas um casal de velhotes, que dormitava, e um jovem
que de sacola ao ombro regressava da escola.
Foram duas
horas de solavancos, de silêncios até que a pobre camioneta parou numa pequena
praça, que circundava um pequeno canteiro, com uma oliveira de tronco gasto
pelos anos.
Nem uma pessoa
conseguiu ver, apenas casas, poucas e pequenas, caiadas de branco e rodapés de azul
vivo. O sonho de ouvir o cantar do seu Alentejo iria morrer por ali.
Enquanto o
motorista o ajudou a retirar a sua bagagem, malas e sacos onde guardara a sua
riqueza, o casal de velhos e o jovem estudante, companheiros de viajem
meteram-se ao caminho por uma ruela próxima e, num segundo ,desapareceram.
Ficou sentado
numa parede do canteiro e à sombra da oliveira fechou os olhos e por breves
instantes, dormiu.
E foi ali,
naquela praça vazia, duma aldeia perdida, que esbarrara com o destino. Olhou
para o monte na sua frente, viu no seu alto a casa da colina. Estava no sítio
certo, aquela casa seria o seu refúgio. Só não sabia como lá chegar, nem via
caminho e, na verdade, não teria já forças para carregar a bagagem.
Estava tão
perto e ao mesmo tempo tão longe.
Desistiu de
começar a caminhada, não seria capaz de a fazer, olhou em busca de auxílio e o
melhor que encontrou foi um banco de pedra, acostado à parede de uma casa da
esquina, lugar que lhe pareceu o paraíso. O sol ainda queimava, eram duas horas
da tarde, mas o banco estava protegido por videiras suspensas que lhe davam a
sombra. Fez dois ou três transportes das malas e do resto dos sacos que
trouxera, ficou alagado em suor e deixou-se cair no banco de pedra,
aproveitando para fumar um cigarro. Tempo, era tudo o que tinha de esperar até
a aldeia dar sinais de vida.
Cerrou os
olhos e descansou.
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