POEMA
DE AMOR
Joana
levantou-se, murmurou até amanhã, e desapareceu.
Luís ficou mais um pouco, reviveu o
momento em que, sem uma palavra se haviam juntado dois corações e dois corpos sedentos de carícias. Reganhou o
equilíbrio emocional, desceu a escada e deitou-se na cama. Teve alguma dificuldade
em adormecer. Tinha sido um dia cheio de sensações e de recordações. Tão
diferente do habitual que não conseguiu dar descanso à memória.
Apesar
da noite mal dormida, acordou bastante cedo, barbeou-se, tomou um duche rápido,
a água estava mesmo fria, limpou-se com energia e sentiu de novo o calor.
Vestiu uns calções e uma camisola leve, calçou ténis e desceu.
Joana
não estava na sala, mas tinha deixado uma chávena, pão e manteiga e no fogão a
cafeteira que ainda fumegava. Serviu-se, generosamente de café, comeu uma fatia
de pão com manteiga, e sentiu que a felicidade chegara.
Sentia-se
leve e sedento de companhia. A noite, aquela primeira noite, seria o prenúncio
do verão escaldante e sentiu voltar a energia e o vigor que julgara ter
perdido.
Ouviu
o ruído da motoreta, saiu à rua e Joana já o esperava sentada ao volante.
-
Hoje está um dia de sol que me despertou a vontade para me espreguiçar na areia
da praia. Há muito tempo que não faço embora o mar ser uma das minhas paixões. Não
é longe, vai ver como em pouco mais de uma hora chegamos a uma praia deserta.
Entretanto
vamos passando pelos meus refúgios campesinos. Espero que não se canse da
viajem.
Com
os solavancos a cumplicidade entre o corpo de Joana, e as mãos de Luís passou a
ser mais natural. Ele bem sentia a pele macia da companheira, por baixo dos
seios soltos. Isso excitou-o como há muito tempo se não sentia, e fazia-o
desejar que a viajem fosse até ao fim do mundo.
Mas
Joana parou à sombra de uma velha oliveira e explicou:
- Esta oliveira marca a separação de três propriedades.
Naquela encosta que se vê à esquerda, plantei um olival novo. São quatrocentas
oliveiras plantadas há dois anos e que são regadas num sistema gota a gota.
Pertencem-me e eu trato-as como se trata um filho. Dia sim, dia não, faço-lhe
uma visita, falo com elas, limpo algumas ervas e sento-me numa pedra que me
permite espraiar os olhos pelos campos e beber a vertigem dos campos mágicos do
meu Alentejo. E esqueço as desventuras e os desgostos, porque como Luís deve
calcular, também os sofri. Colho desde o primeiro dia o benefício da
tranquilidade e da beleza da natureza e espero e que daqui a dois anos já possa
colher o fruto do investimento, e que foi todo o dinheiro que tinha disponível.
A
seara que se estende daqui até aquele monte, e indicou uma elevação bem
distante é minha e de meu irmão. Foi a herança que recebemos dos nossos Pais.
Cultivamos o trigo ou outro cereal conforme o mercado ou se o ano for seco ou
chuvoso. É o Manuel quem toma as decisões. Este ano, como choveu bastante
semeamos trigo e é de esperar uma boa colheita.
Os
terrenos que não estão cultivados são de pouca qualidade, embora seja neles que
construímos duas pequenas barragens de terra, guardando a água das chuvas e de
um pequeno regato que por ai corre. É uma zona pedregosa, cheia de flores
selvagens, com o cheiro da alfazema e da esteva. Passo muito do meu tempo,
estendida numa rocha, molhando os pés na água, e ouvindo o chilrear da
passarada que aqui faz os seus ninhos.
Mas
hoje sinto o apelo do mar. Preciso de ouvir o murmúrio das ondas que ouço, como
um poema de amor.
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