segunda-feira, 27 de abril de 2015

A CASA NA COLINA








 


POEMA DE AMOR


 


Joana levantou-se, murmurou até amanhã, e desapareceu.


 Luís ficou mais um pouco, reviveu o momento  em que, sem uma palavra se haviam juntado dois corações e dois corpos  sedentos de carícias. Reganhou o equilíbrio emocional, desceu a escada e deitou-se na cama. Teve alguma dificuldade em adormecer. Tinha sido um dia cheio de sensações e de recordações. Tão diferente do habitual que não conseguiu dar descanso à memória.


Apesar da noite mal dormida, acordou bastante cedo, barbeou-se, tomou um duche rápido, a água estava mesmo fria, limpou-se com energia e sentiu de novo o calor. Vestiu uns calções e uma camisola leve, calçou ténis e desceu.


Joana não estava na sala, mas tinha deixado uma chávena, pão e manteiga e no fogão a cafeteira que ainda fumegava. Serviu-se, generosamente de café, comeu uma fatia de pão com manteiga, e sentiu que a felicidade chegara.


Sentia-se leve e sedento de companhia. A noite, aquela primeira noite, seria o prenúncio do verão escaldante e sentiu voltar a energia e o vigor que julgara ter perdido.


Ouviu o ruído da motoreta, saiu à rua e Joana já o esperava sentada ao volante.


 
Esta arrancou por uma rua, atravessou a praça vazia, avisando:


- Hoje está um dia de sol que me despertou a vontade para me espreguiçar na areia da praia. Há muito tempo que não faço embora o mar ser uma das minhas paixões. Não é longe, vai ver como em pouco mais de uma hora chegamos a uma praia deserta.  


Entretanto vamos passando pelos meus refúgios campesinos. Espero que não se canse da viajem.


Com os solavancos a cumplicidade entre o corpo de Joana, e as mãos de Luís passou a ser mais natural. Ele bem sentia a pele macia da companheira, por baixo dos seios soltos. Isso excitou-o como há muito tempo se não sentia, e fazia-o desejar que a viajem fosse até ao fim do mundo.


Mas Joana parou à sombra de uma velha oliveira e explicou:


- Esta oliveira marca a separação de três propriedades. Naquela encosta que se vê à esquerda, plantei um olival novo. São quatrocentas oliveiras plantadas há dois anos e que são regadas num sistema gota a gota. Pertencem-me e eu trato-as como se trata um filho. Dia sim, dia não, faço-lhe uma visita, falo com elas, limpo algumas ervas e sento-me numa pedra que me permite espraiar os olhos pelos campos e beber a vertigem dos campos mágicos do meu Alentejo. E esqueço as desventuras e os desgostos, porque como Luís deve calcular, também os sofri. Colho desde o primeiro dia o benefício da tranquilidade e da beleza da natureza e espero e que daqui a dois anos já possa colher o fruto do investimento, e que foi todo o dinheiro que tinha disponível.


A seara que se estende daqui até aquele monte, e indicou uma elevação bem distante é minha e de meu irmão. Foi a herança que recebemos dos nossos Pais. Cultivamos o trigo ou outro cereal conforme o mercado ou se o ano for seco ou chuvoso. É o Manuel quem toma as decisões. Este ano, como choveu bastante semeamos trigo e é de esperar uma boa colheita.


Os terrenos que não estão cultivados são de pouca qualidade, embora seja neles que construímos duas pequenas barragens de terra, guardando a água das chuvas e de um pequeno regato que por ai corre. É uma zona pedregosa, cheia de flores selvagens, com o cheiro da alfazema e da esteva. Passo muito do meu tempo, estendida numa rocha, molhando os pés na água, e ouvindo o chilrear da passarada que aqui faz os seus ninhos.


Mas hoje sinto o apelo do mar. Preciso de ouvir o murmúrio das ondas que ouço, como um poema de amor.  


 


 



























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