CORPO
E ALMA
Foi
de mãos dadas que percorreram a praia. O mar subia par lhe acariciar os pés, o
vento soprava uma música que lhe perturbava os sentidos.
Foram
horas, quase em silêncio, que percorreram a areia da praia deserta. Sentia-se
nascer e crescer uma cumplicidade uma ternura e o desejo de partilha. Porém em alguns momentos sentiam a angústia duma vida sofrida.
Quando
regressaram a casa deixaram perder o encantamento daquele dia junto ao mar.
Afinal,
o medo venceu.
Luís
procurou na bagagem o livro que, tinham quase a certeza havia escolhido para a
viajem. E encontrou-o. “Vinte poemas de amor e uma cancão desesperada” de Pablo
Neruda. Naquele momento queria reler e reviver o poema vinte. Era a poesia que,
naquele momento, mais prazer lhe daria ler em voz alta. Ah se eu pudesse voltar
a viver um grande amor, exclamou com um suspiro. E a imagem que lhe ocupava a
cabeça era a de Joana, com os seus olhos tristes e os seus silêncios.
Sabia e sentia que podia dar todo o amor do
mundo, mas porquanto tempo?
Durante
alguns dias o relacionamento entre os dois passou a ser menos envolvente. Era
uma situação confusa, parece que ninguém queria dar o passo em frente.
Luís
começou a caminhar pelos campos, seguindo os carreiros que Joana lhe tinha
ensinado. O livro que sempre o acompanhava ficava por abrir, o caminho por entre
as árvores passou a ser o lenitivo para as suas mágoas. Abraçava as árvores,
acariciava as flores campestres que encontrava no caminho, num momento de
libertação e reconhecimento pela natureza.
Ficava fascinado com o intenso trabalho das
abelhas, e passava horas olhando e admirando o seu intenso labor, carregando o
pólen para a colmeia. Sabia pelos livros a importância que as abelhas têm sobre
a natureza, sobre o futuro do homem. Mas nunca imaginara estar horas a
testemunhar a organização da sociedade perfeita.
Voltou
à sombra que escolhera, sentou-se encostado ao velho tronco, e foi assaltado
pela dúvida. Afinal o que se estaria a passar na sua vida, perguntava-se:
-
Como é que tudo começara, e porque se encontrava, agora, só e perdido?
-
Afinal ele queria encontrar um local, para viver só, com os seus medos e angústias.
Mas o destino, quando nada esperava, levou-lhe ao encontro, uma mulher,
ainda jovem mas com uma forma de estar na vida tão diferente, que o perturbava.
Sentia que Joana escondia sentimentos e a sua solidão teria alguma coisa a ver
com um desgosto de amor. Porque percebera que ela era uma mulher que se dava e se escondia
dum momento para o outro. Como se a paixão fosse qualquer coisa que lhe
despertasse sensações, que queria esquecer. Joana vivera um sonho de amor, só podia
ser, e algo correra mal e a fizera descrer. De repente deixava o sonho de amor
e ficava com medo.
Ele
estava perdido num labirinto de paixões. Desejava Joana com todas as forças de
que ainda era capaz e estava disposto a enfrentar o futuro.
Mas
seria justo prometer algo que não se tem a certeza de cumprir?
Um
dia igual a tantos outros encontrou o paraíso na beira de uma pequena represa,
coberta de flores, estendida sobre uma pedra, oferecendo o corpo despido ao
calor do sol, encontrou a deusa dos seus sonhos. Joana estava ali, e pronta
para se entregar.
Sem
palavras… para quê? Luís tirou a roupa, nadou na lagoa e foi anichar-se junto
ao corpo que se lhe oferecia.
E
foi com a força da paixão quase esquecida, que se entregaram, gemendo de dor e
de prazer, juntos num momento sem fim, um momento em que repartiram o corpo e a
alma.
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