quinta-feira, 30 de abril de 2015

A CASA NA COLINA








CORPO E ALMA


 


Foi de mãos dadas que percorreram a praia. O mar subia par lhe acariciar os pés, o vento soprava uma música que lhe perturbava os sentidos.


Foram horas, quase em silêncio, que percorreram a areia da praia deserta. Sentia-se nascer e crescer uma cumplicidade uma ternura e o desejo de partilha. Porém em alguns momentos sentiam a angústia duma vida sofrida.


Quando regressaram a casa deixaram perder o encantamento daquele dia junto ao mar.


Afinal, o medo venceu.


Luís procurou na bagagem o livro que, tinham quase a certeza havia escolhido para a viajem. E encontrou-o. “Vinte poemas de amor e uma cancão desesperada” de Pablo Neruda. Naquele momento queria reler e reviver o poema vinte. Era a poesia que, naquele momento, mais prazer lhe daria ler em voz alta. Ah se eu pudesse voltar a viver um grande amor, exclamou com um suspiro. E a imagem que lhe ocupava a cabeça era a de Joana, com os seus olhos tristes e os seus silêncios.


 Sabia e sentia que podia dar todo o amor do mundo, mas porquanto tempo?


 


Durante alguns dias o relacionamento entre os dois passou a ser menos envolvente. Era uma situação confusa, parece que ninguém queria dar o passo em frente.


Luís começou a caminhar pelos campos, seguindo os carreiros que Joana lhe tinha ensinado. O livro que sempre o acompanhava ficava por abrir, o caminho por entre as árvores passou a ser o lenitivo para as suas mágoas. Abraçava as árvores, acariciava as flores campestres que encontrava no caminho, num momento de libertação e reconhecimento pela natureza.


 Ficava fascinado com o intenso trabalho das abelhas, e passava horas olhando e admirando o seu intenso labor, carregando o pólen para a colmeia. Sabia pelos livros a importância que as abelhas têm sobre a natureza, sobre o futuro do homem. Mas nunca imaginara estar horas a testemunhar a organização da sociedade perfeita.


Voltou à sombra que escolhera, sentou-se encostado ao velho tronco, e foi assaltado pela dúvida. Afinal o que se estaria a passar na sua vida, perguntava-se:


- Como é que tudo começara, e porque se encontrava, agora, só e perdido?


- Afinal ele queria encontrar um local, para viver só, com os seus medos e angústias. Mas o destino, quando nada esperava, levou-lhe ao encontro, uma mulher, ainda jovem mas com uma forma de estar na vida tão diferente, que o perturbava. Sentia que Joana escondia sentimentos e a sua solidão teria alguma coisa a ver com um desgosto de amor. Porque percebera que ela era uma mulher que se dava e se escondia dum momento para o outro. Como se a paixão fosse qualquer coisa que lhe despertasse sensações, que queria esquecer. Joana vivera um sonho de amor, só podia ser, e algo correra mal e a fizera descrer. De repente deixava o sonho de amor e ficava com medo.


Ele estava perdido num labirinto de paixões. Desejava Joana com todas as forças de que ainda era capaz e estava disposto a enfrentar o futuro.


Mas seria justo prometer algo que não se tem a certeza de cumprir?


Um dia igual a tantos outros encontrou o paraíso na beira de uma pequena represa, coberta de flores, estendida sobre uma pedra, oferecendo o corpo despido ao calor do sol, encontrou a deusa dos seus sonhos. Joana estava ali, e pronta para se entregar.


Sem palavras… para quê? Luís tirou a roupa, nadou na lagoa e foi anichar-se junto ao corpo que se lhe oferecia.


E foi com a força da paixão quase esquecida, que se entregaram, gemendo de dor e de prazer, juntos num momento sem fim, um momento em que repartiram o corpo e a alma.


 

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