sábado, 25 de abril de 2015

A CASA NA COLINA








UMA LÁGRIMA FURTIVA


 


Joana não escondeu o sorriso, há tanto tempo que não ouvia um galanteio e, reconhecia, soube-lhe bem.


Mas, como quase tudo na vida o sorriso foi breve, a realidade duma vida que Joana escondia, depressa a fez esquecer o sorriso. Não era uma jovem ansiando pelo amor, tinha passado os trinta anos e muitas esperanças perdidas no nevoeiro dos dias. Mas guardava para ela o passado, refugiando-se na natureza, bebendo o brilho das flores e o cantar dos pássaros, espalhando o corpo no colorido dos campos, afogando o desejo mergulhando nas águas frias da ribeira.


Nas noites em que sentia a solidão, qual ferida que não cicatriza, tentava adivinhar o seu destino lendo as estrelas do céu.


Agora olhava para Luís e sentia-se inquieta, e só ao longe, como um murmúrio ouviu que Luís, olhando no vazio, abria o coração.


- O apelo que me fez vir para este lugar se foi escrito, não terá sido por mim. Todavia senti-o à flor da pele, quando num momento de rotura com o passado, me deixei apaixonar pela imagem da casa da colina. E, acredite, não me arrependo do caminho que escolhi. Tomara eu ter coragem mas sobretudo talento para escrever uma história de contornos ainda não claros mas a que já dei o nome. Irá chamar-se “A Casa na Colina”.


Imagino a sua perplexidade. Então este desconhecido, vindo sabe-se lá donde e por que razão, quer escrever um livro? Não se assuste, para já apenas tenho o projeto, o nome para ser mais claro e tenho dúvidas que passe do primeiro capítulo. Esse será o nosso encontro e as suas palavras, perante um desconhecido, meio louco, que se encontrou, perdido e desorientado na serra. Por fim, confesso-lhe, eu fugi do passado que quero esquecer, lutando por viver na ilusão do futuro.


Vou tentar seguir o caminho que me propôs, mas lembre-se, que em algum momento, eu poderei vacilar e não ter recuperado a energia perdida. Nesse momento, esqueça-me.


Vou subir para o terraço para fumar um cigarro. Já lá estive e pude ver que ele também é um refúgio para a Joana. Se assim for e quiser partilhar o silêncio da noite, convido-a a subir comigo.


Luís ia a pegar numa cadeira, mas Joana, disse-lhe:


 - Não é preciso. Você senta-se no cadeirão e eu no tamborete.


Assim fizeram, sem mais palavras e Luís apenas não resistiu a uma carícia leve nos cabelos que Joana deixara ondular pela brisa ligeira do entardecer.


Joana aninhou-se nos seus braços e, sem palavras, deixaram que os corpos se procurassem, e fizeram amor, como se fora a primeira vez.


Joana ficou serena e olhando para a estrela que era a sua companheira nas noites de solidão, deixou que uma lágrima furtiva lhe aflorasse aos olhos e percorresse o rosto afogueado.

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