UMA LÁGRIMA FURTIVA
Joana não escondeu
o sorriso, há tanto tempo que não ouvia um galanteio e, reconhecia, soube-lhe
bem.
Mas, como quase
tudo na vida o sorriso foi breve, a realidade duma vida que Joana escondia,
depressa a fez esquecer o sorriso. Não era uma jovem ansiando pelo amor, tinha
passado os trinta anos e muitas esperanças perdidas no nevoeiro dos dias. Mas
guardava para ela o passado, refugiando-se na natureza, bebendo o brilho das
flores e o cantar dos pássaros, espalhando o corpo no colorido dos campos, afogando
o desejo mergulhando nas águas frias da ribeira.
Nas noites em que
sentia a solidão, qual ferida que não cicatriza, tentava adivinhar o seu
destino lendo as estrelas do céu.
Agora olhava para
Luís e sentia-se inquieta, e só ao longe, como um murmúrio ouviu que Luís,
olhando no vazio, abria o coração.
- O apelo que me
fez vir para este lugar se foi escrito, não terá sido por mim. Todavia senti-o
à flor da pele, quando num momento de rotura com o passado, me deixei apaixonar
pela imagem da casa da colina. E, acredite, não me arrependo do caminho que
escolhi. Tomara eu ter coragem mas sobretudo talento para escrever uma história
de contornos ainda não claros mas a que já dei o nome. Irá chamar-se “A Casa na
Colina”.
Imagino a sua perplexidade. Então este
desconhecido, vindo sabe-se lá donde e por que razão, quer escrever um livro?
Não se assuste, para já apenas tenho o projeto, o nome para ser mais claro e
tenho dúvidas que passe do primeiro capítulo. Esse será o nosso encontro e as
suas palavras, perante um desconhecido, meio louco, que se encontrou, perdido e
desorientado na serra. Por fim, confesso-lhe, eu fugi do passado que quero
esquecer, lutando por viver na ilusão do futuro.
Vou tentar seguir o caminho que me propôs,
mas lembre-se, que em algum momento, eu poderei vacilar e não ter recuperado a
energia perdida. Nesse momento, esqueça-me.
Vou subir para o terraço para fumar um
cigarro. Já lá estive e pude ver que ele também é um refúgio para a Joana. Se
assim for e quiser partilhar o silêncio da noite, convido-a a subir comigo.
Luís ia a pegar numa cadeira, mas Joana,
disse-lhe:
- Não é preciso. Você senta-se no cadeirão e
eu no tamborete.
Assim fizeram, sem mais palavras e Luís
apenas não resistiu a uma carícia leve nos cabelos que Joana deixara ondular
pela brisa ligeira do entardecer.
Joana aninhou-se nos seus braços e, sem
palavras, deixaram que os corpos se procurassem, e fizeram amor, como se fora a
primeira vez.
Joana ficou serena e olhando para a estrela que
era a sua companheira nas noites de solidão, deixou que uma lágrima furtiva lhe
aflorasse aos olhos e percorresse o rosto afogueado.
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