Capítulo II
Os assaltantes conduziram de luzes apagadas e a toda a velocidade na estrada de acesso à Malveira da Serra. Conheciam bem o caminho, já o haviam feito mais de uma vez, pois era ali que escolhiam o itinerário para a fuga após cada assalto. Sabiam que a Polícia andava à sua procura, que já terem sido identificados por vítimas de roubo e agressões sexuais e o que menos precisavam, era serem considerados suspeitos no crime da morte do condutor do veículo abandonado nas arribas.
O seu único pensamento era de entrar na serra de Sintra, abandonarem o carro roubado e regressarem a pé, por caminhos da serra, que já conheciam. Mas a velocidade a que conduziam foi fatal. Numa curva apertada, para se desviarem de um carro que circulava em sentido contrário com os faróis no máximo, entraram na areia que invadira parte da estrada, perderam o controlo da viatura, capotaram dando várias voltas até se imobilizarem, numa árvore.
O condutor, levava o cinto de segurança apertado, ficou preso, por momentos inconsciente, mas sentiu o cheiro do combustível derramado. O medo de incêndio deu-lhe forças para, de rastos e gemendo de dores, abandonar o carro, acabando por ficar imobilizado na ravina.
Perdeu os sentidos e só os recuperou quando os paramédicos de uma ambulância o imobilizavam e prepararam para transporte ao hospital. Na ambulância ouviu alguém falava que o outro acidentado tivera menos sorte. Fora encontrado já sem vida. O colega, o Fernando, morrera e ele fora o culpado pelo erro de condução. Perdera um amigo mas, quando a polícia o procurasse, iria afirmar que Fernando seria o chefe e ele apenas o condutor. Talvez assim fosse melhor para ele. E, no meio da tragédia, sorriu.
A Polícia foi investigar o carro parado nas arribas e encontrou o corpo já sem vida do condutor. Chamou o Comando que comunicou a ocorrência à Polícia Judiciária.
Ainda não eram oito horas da noite, o carro estava sinalizado e a Polícia Científica dera o acordo à retirada do cadáver para ser efectuada a respectiva autópsia. Encontraram a arma do crime, uma pistola caída no tapete do automóvel, e tudo apontava para um suicídio. Fizeram à colheita de impressões digitais e a recolha de todos os documentos na posse do morto e guardados nos compartimentos interiores da viatura.
O carro foi então rebocado para as instalações da Polícia.
O Inspector de serviço era o subinspector Gonçalves, um homem ainda novo, de óculos graduados, que cursara direito e acabara por optar por uma carreira de Investigação Criminal.
O morto tinha toda a documentação na carteira que não fora mexida. Começou por ver os dados do Cartão de Cidadão. O nome, Bernardo Augusto Lima dos Santos, nascido a 24 de Janeiro de 1969, natural da freguesia da Sé, concelho de Braga.
Profissão economista.
Estava a verificar os documentos da carteira quando um colega lhe foi entregar uma carta que fora encontrada junto aos documentos do carro. Era um envelope fechado, volumoso e tinha escrito o endereço. Para sua surpresa, o destinatário era a própria Polícia Judiciária.
De repente, o que parecia ser um simples suicídio, poderia ser algo mais.
Recostou-se na cadeira, olhando para o envelope, sem saber que decisão tomar. Abrir ou entregar à Direcção?
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