quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

UMA NUVEM NEGRA

                                            Desenho de Guilherme Camarinha
                                             Faculdade de Direito de Lisboa
                                 MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE


CAPÍTULO XVIII

Após ter confirmado a identidade do cadáver, Luísa, a viúva, respondeu a algumas perguntas do Subinspector Gonçalves.
O Ministério Público deu entretanto o acordo à retirada do cadáver e cumpridas as formalidades, Luísa e o irmão regressaram ao Porto, tendo previamente contratado uma Agência Funerária para o transporte para Braga, onde o cadáver deveria ser sepultado.
Pedro e Carlos tomaram o comboio do fim do dia e seguiram para a cidade do Porto.
No trajecto foram ligando os factos e delineando a estratégia de investigação. Sentiam que o corpo encontrado representaria apenas a ponta do iceberg e que porfiando na colheita de informações chegariam ao núcleo do que admitiam ser uma organização criminosa. Mas estavam no princípio e o caminho não seria fácil.
Dormiram num hotel do centro da cidade, bem perto dos serviços centrais do Banco onde o Bernardo trabalhava.
E começaram logo por obter a confirmação duma suspeita. O Director de Pessoal, consultou no computador os dados do registo de pessoal, imprimiu e foi lendo.:
- O Dr. Bernardo dos Santos, começou a trabalhar neste Banco no ano de 1996, numa agência em Matosinhos, deu provas de excelente desempenho, formou-se em Economia enquanto trabalhador estudante. Em 2003, assumiu funções da Direcção Financeira Internacional, sendo responsável por um dos Departamentos.
Sem que nada o fizesse supor, decidiu em Dezembro de 2008, portanto vai fazer três anos, pedir a rescisão do contrato. Lembro-me que o pedido foi analisado numa reunião do CA, que antes de decidir promoveu uma Auditoria exaustiva de todas as operações em que o Dr. Bernardo estivera ligado. No pedido de demissão o nosso colaborador não mostrara insatisfação, não constava ter sido aliciado pela concorrência. Perante a inexistência de actos ou situações menos claras no Departamento sob sua responsabilidade, o CA optou por convocar o colaborador e tentar perceber a razão da demissão.
Nessa reunião o Dr. Bernardo confirmou apenas que se sentia cansado, receava ter uma depressão e por isso, e só por isso, precisava de mudar de vida, dando mais apoio à família. E até se comprometeu por escrito, que não iria exercer a mesma actividade em qualquer outra instituição financeira em Portugal.
E a demissão foi assinada de comum acordo.
- Diga-me Dr. Joaquim Silvestre, o compromisso assinado pelo Dr. Bernardo referia a sua renúncia ao exercício da mesma actividade num Banco em Portugal, mas nada o impedia de prestar serviços de consultoria e não só, desde que em qualquer instituição financeira fora do País, é assim que devo entender, perguntou o Subinspector?
- Tem razão senhor Inspector, é assim. E então o Dr. Bernardo que dizia estar cansado foi trabalhar num fundo financeiro sediado num paraíso fiscal e com um simples escritório de representação em Portugal, mais propriamente aqui no Porto. Mas sabe como é, fomos enganados mas ninguém gosta de o reconhecer.
- Imagino que sim, disse o Inspector, e naturalmente ele aliciou clientes importantes do vosso Banco?
- Compreenda Inspector não lhe poderei dar essa informação, pois nem a posso garantir.
- Mas o senhor sabe o nome do Fundo e a morada aqui no Porto, não é verdade?
- O Dr. Silvestre, não respondeu. Hesitou um pouco, depois entregou à Polícia o documento que imprimira e no verso escreveu algumas palavras, dizendo:
- Lamentavelmente não poderei dar mais informações o que vos disse e escrevi é tudo quanto sei.
Pedro sorriu para o colega, despediram-se e saíram para a rua. Enquanto tomavam um café, Carlos comentou:
- A mim parece-me que o nosso amigo falou bem, mas o que disse não nos vai valer de nada, a não ser que o recado que ele escreveu no papel que te deu tenha algum interesse. Será assim?
- Amigo, não te escapou nada. O homem teve medo de falar, mas escreveu o caminho. Vais ver que ainda vamos colocar gente fina em sobressalto.
Vamos fazer assim, diz Pedro. Eu não acredito que o escritório do Bernardo ainda esteja aberto. Tu vais confirmar e tenta obter informações junto dos vizinhos. A morada está aqui escrita no papel. Inventa qualquer coisa mas não fales em Polícia. Eu aproveitarei e irei falar com os colegas do Porto, pode ser que eles saibam algo sobre a actividade do dito Fundo. Tenho aqui o nome que o nosso amigo escreveu.
Depois vamos almoçar a um restaurante que não visito há bastante tempo. É o restaurante o Buraco na Rua do Bolhão. Quem chegar primeiro reserva a mesa.




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