quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UMA NUVEM NEGRA




JULIO POMAR
                                                         


3º. CAPÍTULO

Com o envelope endereçado à Polícia posto de lado, o Subinspector continuava a análise dos documentos da carteira encontrada no bolso do suicida.  
Retirara tudo, mas para além de papéis sem significado, apenas encontrara o Cartão de Cidadão. Nem um cartão bancário ou um cartão de visita. Nada, parecia que a carteira teria sido rebuscada.
Carta de condução também não tinha. Cada vez mais pressentia que o que parecia ser um simples suicídio era capaz de encerrar algum mistério.
Falou para a brigada que se ocupara da vistoria do carro para esclarecer se através da matrícula haviam conseguido identificar o proprietário. A resposta não o surpreendeu. O carro tinha sido dado como roubado nos arredores do Casino do Estoril e o proprietário já o tinha confirmado. A PSP acrescentou que o cartão de cidadão em nome Bernardo Augusto Lima dos Santos havia sido dado como perdido alguns dias atrás.
O Subinspector começou a desenhar o cenário. O homem encontrado morto dentro de um carro roubado teria sido assassinado e tudo o mais seria uma tentativa de camuflagem. Como e porquê é que tinha de descobrir!
Mas, perguntava-se, quem seria afinal o morto? Descobrir a identidade teria de ser o primeiro passo. Foi à Morgue apenas para confirmar que o rosto do cadáver correspondia ao retrato do cartão de Cidadão e como já esperava, não era da mesma pessoa.
Deu instruções para que fosse localizado o titular do cartão, queria ser ele a proceder ao interrogatório e mandou averiguar se em qualquer posto das Forças de Segurança ou nas urgências dos Hospitais de Lisboa, Porto, Coimbra e principalmente Braga, houvera alguma denúncia do desaparecimento de um homem que aparentava ter à volta de quarenta anos.
Mas o que mandara fazer era rotina, não esperava grandes resultados e tomou a decisão de abrir o envelope.
Admitiu que o referido envelope tivesse sido manuseado sem luvas, ninguém pensaria em crime quando tudo parecia ser evidente. Demasiado evidente, reconhecia agora. Calçou as luvas e com todo o cuidado abriu o sobrescrito. Retirou quatro CD embrulhados em papel branco de fotocópia. Franziu o nariz, algo lhe dizia que aqueles CD seriam apenas mais uma peça do mistério que se adensava minuto a minuto.
Escolheu um e introduziu no computador e esperou. Pensava que estivesse protegido com qualquer palavra-chave mas não, era um CD completamente inofensivo. Um filme da Pantera Cor-de-rosa. Ficou enfurecido alguém andava a brincar.
Voltou a guardar tudo no envelope, meteu num saco de plástico, fechou e foi levá-lo ao Laboratório da Polícia Científica. Ainda encontrou o colega responsável contou-lhe em resumo o que sabia e pediu a pesquisa de impressões digitais e a leitura por especialistas do conteúdo dos CD, não fosse haver alguma mensagem, disfarçada no meio de filme.
Foi para casa, a mulher percebeu que ele estava naqueles dias em que era insuportável e não fez muitas perguntas. Pedro sentou-se no sofá, fechou os olhos e rebobinou as horas recentes. De repente lembrou-se que alguém lhe falara de um acidente verificado perto do local e que desse acidente resultara um morto e um ferido. Tinha gravado o número do telefone do oficial da Polícia que lhe tinha comunicado o crime, ligou e quis saber mais pormenores.
O Comissário confirmou que o ferido Luís Tavares se encontrava no Hospital de Cascais, sob prisão porque era um foragido suspeito de envolvimento em assaltos a viaturas, designadamente, viaturas isoladas no eixo Estoril, Guincho.  
Pedro desanuviou o semblante e vislumbrou uma pequena luz, que talvez o ajudasse a explicar a nuvem negra que envolvia o crime.





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