quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

UMA NUVEM NEGRA

                                              Lisboa   -    Original de Carlos Botelho
                                               TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE


CAPÍTULO VI

Pode ser importante senhor Manuel, respondeu o Inspector mostrando o saco de plástico.
Se tiver sorte talvez aqui possa encontrar uma história de vida e de morte.
- Mas Senhor Inspector, como é que aquilo que aí traz, parece um telemóvel quebrado, pode contar uma história?
- Pois, parece um telemóvel partido, até poderá nada ter a ver com o crime, mas na realidade é um aparelho novo que chamam i Phone. Nele haverá muito que descobrir.
Senhor Manuel, vou pedir-lhe um favor. Para seu bem e para ajudar a Polícia a descobrir quem matou e porquê o senhor não diga a ninguém que eu encontrei este aparelho. Mas mesmo a ninguém, ouviu?
Perante o ar preocupado do guarda, Pedro foi mais explícito:
- Nós nunca sabemos se não haverá gente perigosa a procura deste objecto perdido. Acredito que quem matou o fez por desconfiar que a vítima teria escondido informações neste pequeno aparelho. Não fale sobre este assunto, e mesmo se alguém, pode até ser um cliente conhecido, lhe fizer perguntas sobre a minha passagem por este lugar e se mostre curioso pela nossa conversa, o senhor diga apenas que eu lhe perguntei se o lugar das arribas era bom para a pesca e que espécies se podia encontrar.
Não lhe vou deixar o cartão, voltarei a passar por aqui amanhã e virei equipado como um pescador domingueiro. 
Tudo o resto esqueça. É muito importante para o meu trabalho e pode ser muito importante para a sua vida. Não arrisque a falar sobre o assunto e não dê a entender que esconde alguma coisa.
Eu vou seguir para Lisboa e não se admire que dentro em breve, um carro com um casal de namorados esteja parado por aqueles lados. Serão Polícias e quando partirem, algum tempo depois, serão substituídos por outro carro, que ficará até ao entardecer. Não preste atenção, finja que são os habituais namorados.
O guarda ficou assustado mas ao mesmo tempo pensou que o assunto iria morrer por ali.
O Inspector conduziu, calmamente o automóvel, como se estivesse de passeio. Só depois de cruzar Cascais tomou a direcção da auto-estrada, mantendo um andamento irregular, para despistar algum eventual perseguidor.
Nada aconteceu, chegou ao gabinete e seguiu de imediato para o Laboratório da Polícia Científica.
Entregou o saco com o aparelho quebrado, pedindo para que o mesmo fosse analisado e tudo fosse marcado com o número G nuvem negra, que passaria a ser a denominação do crime em investigação. Quero cópias de tudo o que for encontrado, quando é que pensa poder ter alguma coisa para me dar, perguntou?
O especialista riu-se, comentou que todos pediam resultados para o imediato mas ninguém lhe perguntava se tinham alguém que o pudesse ajudar.
E acrescentou:
 - Sabe Inspector o que me acaba de entregar, pode significar muita hora, muitos dias de trabalho e o resultado ser zero. Vamos ver como é que ele está. Abriu o aparelho, constatou que ele estava mesmo muito danificado, não tinha sinal, teria apanhado água e tinha a certeza que o mesmo estava protegido com chave.
Mostrou-o colega dizendo:
- Rica prenda Inspector, vai ser um tremendo desafio, vamos a ver se o consigo vencer.
- Se o senhor não conseguir, então a eventual prova foi ao ar e vou ter de começar tudo de novo, respondeu Pedro Gonçalves. E terei de mudar o nome do inquérito de G nuvem negra, para G noite cerrada. Não me faça isso amigo Dionísio. Você consegue descobrir uma agulha num palheiro.
Como tinha prometido acertou com o comando da PSP a vigilância do local. Depois abriu o correio electrónico na esperança que alguém tivesse apresentado o desaparecimento da vítima. Mas ninguém o fizera.
Todavia a GNR de Leiria informava que o rosto do morto aparentava alguma semelhança com um condutor que tinha sido controlado numa operação stop na A1, pelas quatro da manhã, quando conduzia um Mercedes a mais de duzentos quilómetros por hora. O teste de álcool dera negativo. Os documentos tinham sido apreendidos e ele notificado para comparecer no Tribunal do dia seguinte. Contudo não cumprira.
Em anexo enviavam cópia da carta de condução e do título de registo do automóvel.
O nome do condutor era Francisco Esteves Moreira e o automóvel, pertença de um rent-a-car, fora alugado no aeroporto Sá Carneiro, no Porto.
A cada momento o mistério se adensava. O nome seria autêntico? O retrato era apenas vagamente semelhante e a única certeza que  Pedro tinha era que estaria muito longe da verdade e muito dependente dos dados que o Dionísio conseguisse extrair do aparelho.
Na realidade, apenas sentia a convicção que a vítima teria sido executada nas arribas do Guincho, e antes teria conseguido atirar fora o i Phone.
Mas ali teria sido apenas o desenlace, a história viria de outros contactos, outros negócios. Temia não conseguir encontrar o fio à meada. Isso seria para ele, como se um manto de silêncio tombasse sobre o corpo de um desconhecido.


Sem comentários:

Enviar um comentário