NAU CATRINETA - Almada Negreiros
TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE
TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE
CAPÍTULO IV
Logo pela manhã O Subinspector Pedro Gonçalves, deslocou-se ao Hospital de Cascais e depois da necessária identificação, aguardou a autorização médica para interrogar o ferido Luís Tavares.
Quando entrou na enfermaria, abriu o cortinado que isolava a cama onde o ferido dormitava com a respiração tranquila.
Não esperava aquela surpresa, ele conhecia o doente, já o tinha encontrado num processo que havia investigado e lembrava-se de que ela fora condenado a cinco anos, mas pelos vistos ou fugira ou andaria em liberdade condicional.
Acordou abanando-lhe a cabeça e o Luís abrindo os olhos ia começar a protestar quando reconheceu o Polícia. Calou-se e ensaiou um gemido, que apenas fez rir o Subinspector.
- Então companheiro, a fingir que não sabes quem eu sou? Não vale a pena, eu nunca me esqueço duma cara e tu também não.
O ferido continuava de olhos fechados mas parara os gemidos.
O Subinspector falou-lhe ao ouvido: - Tu tens uma folha de serviço bem recheada, já foste apanhado e condenado, mas talvez nunca te tivesses metido numa encrenca como a que agora arranjaste. Assassínio, com os teus antecedentes, vais ter uma estadia prolongada na prisão.
O ferido abriu de repente os olhos e fitou o interlocutor, dizendo numa voz sumida:
- Assassínio? O senhor Inspector sabe que eu nunca matei ninguém. Por favor não me acuse de um crime que não cometi. O meu sócio morreu, já soube, mas foi no acidente e até era ele que ia a conduzir. Eu não fui culpado.
- Olha lá, tu pensas que eu estou aqui porque o teu sócio se espatifou no carro? Achas que eu não tenho mais nada que fazer? Ou estás a esquecer o desgraçado que ontem ao fim do dia, estava no carro parado no Guincho a ver o pôr do sol e vocês assaltaram e mataram?
- Garanto-lhe senhor Inspector, não sei de que crime fala. Nós vimos um carro parado, com um homem ao volante, não nos agradou o cenário e fugimos. Não roubamos nada.
-Pensas que eu vou acreditar nessa mentira? Pensa bem, é melhor contares a verdade, mas bem contada para eu ver o que posso fazer por ti.
- Se eu contar o que se passou o senhor vai pensar que eu estou a inventar, diz o ferido com ar cada vez mais preocupado.
- Experimenta e logo te digo o que penso. Começa lá a contar a verdade, mas toda, ouviste?
- Então foi assim. E foi com os olhos nos olhos que começou a contar ao Polícia a sua aventura.
- O Fernando estava no exterior do Casino Estoril a ver se alguém se esquecia de fechar a porta do carro e fosse mais fácil roubar. Um dos porteiros começou a olhar desconfiado e ele foi ter comigo ao lado oposto ao parque de estacionamento.Acabara de chegar quando um automóvel preto, parou para perguntar onde era a entrada para o parque. O condutor era um homem ainda novo, forte e a seu lado uma mulher loira que dava nas vistas. O Fernando foi à frente do automóvel até à cancela do parque e quando se despediu o condutor perguntou-lhe se ele era homem para ganhar, sem perigo duzentos euros. O Fernando virou as costas e ouviu a mulher falar alto, protestando que o companheiro não servia para nada. Queres ver disse?
- Saiu do carro, e aproximando-se do Fernando refez a proposta.
- Ele falou no dinheiro mas não te disse que eu também sou parte do prémio. Assim já queres?
O Fernando aceitou, mas com a condição de que eu também faria parte do grupo e assim teria que ser prémio a dobrar. Ela aceitou.
Fernando seguiu do carro do casal enquanto que eu fui conduzindo o Honda que tínha acabado de roubar. Chegados perto do Guincho, o carro negro com o casal e o meu amigo, entrou num caminho de terra e foi parar aí a uns vinte metros de outro carro que lá estava parado. Eu segui em frente e entrei no desvio um pouco mais além, apaguei as luzes e desliguei o motor. Depois ouvi barulho. Desci do carro e vejo o Fernando a correr na minha direcção. Foi ele a entrar para o lugar do condutor, arrancou com as luzes apagadas enquanto pela janela me chamava. Assim que me sentei, acelerou, ganhou a estrada de asfalto e de luzes apagadas acelerou tudo o que o carro foi capaz de dar. Vimos vir na nossa direcção um carro com os faróis no máximo, guiando a alta velocidade no meio da estrada e o Fernando para evitar o choque entrou na areia, despistou-se e ali acabou a nossa aventura.
Não sei mais nada, o Fernando enquanto guiava como um louco e só dizia entre dentes: Maldita a hora ou o momento em que estes gajos nos encontraram. E depois foi o silêncio.
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