quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

Guilherme Camarinha
ALEGORIA AO VINHO DO PORTO
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE


CAPÍTULO XIII

Já entendi, temos de seguir o dinheiro, repete Carlos enquanto caminha para o restaurante que o Álvaro lhes havia recomendado. Não ficava longe e tinha salas que ofereciam alguma discrição. E acabamos a comer num lugar reservado e aposto que as pessoas são capazes de nos julgar um casal de namorados. Não, não gosto do lugar, repetia Carlos com aborrecimmento.
Pedro ignorou, entrou no restaurante e pediu uma mesa num reservado no primeiro andar.
Para completar o desagrado de Carlos o dono do restaurante que os acompanhou, era muito educado mas parecia pertencer à confraria a que ele chamava Opus Gay.
Sentou-se contrafeito e abanava a cabeça em sinal de insatisfação. Se fosse outra pessoa ir-me-ia já embora, confessou.
Pedro não deu muita importância, mas sublinhou que se estavam ali era porque o Álvaro os havia aconselhado. E terminou dizendo:
- Não protestes o Álvaro é teu amigo e não meu.
Encomendaram o almoço, que Carlos comia com evidente prazer. Afinal dizia ao menos a comida era boa.
Pedro pelo contrário quase não tocara no prato. Estava ausente, mergulhado nos pensamentos, quiçá procurando o fio da meada.
Já Carlos pedira os cafés quando Pedro rompeu o silêncio a que se tinha remetido.
Carlos, hoje vamos ficar no Porto e o programa é o seguinte:
Tu vais até ao Banco onde o Bernardo trabalhava, fala com a Direcção de Pessoal e tentas obter a ficha, que deve existir, do Dr. Bernardo. O banco deverá ter os dados actualizados até à data em que ele saiu, certamente teria cartões de crédito e cartões de visita onde para além da identificação deviam ter fotografias. Não procures o Doutor Silvestre com que estivemos no primeiro dia. Usa o teu encanto, tenta conhecer uma secretária disponível e desejosa de conversar. Eu acho que se quiseres consegues captar a confiança. Podes ter sorte e fazeres amizade com uma mulher que te diga mais alguma coisa útil sobre o nosso amigo.
Eu vou falar com aquele figurão que nos espiou quando estivemos a almoçar com o Florindo. Tenho a morada que me deste e vou apertar com ele.
Se for preciso algum contacto manda mensagem ou correio electrónico. Caso contrário encontramo-nos amanhã ao pequeno almoço naquele café onde hoje estivemos.
E se não acontecer algo de novo, regressaremos a Lisboa. Confesso que começo a ficar farto das pessoas que aqui encontramos que sabem tanto que até me assusta, mas que depois o que dizem vale pouco ou quase nada. 
Terminado o almoço, cada um seguiu o destino combinado.
Pedro foi à morada pretendida, era um edifício de escritórios com muitas placas identificativas. Numa encontrou o que procurava. O escritório em nome de  Peres & Lima – Consultores Associados, situado no piso quinto letra F. Olhou para o relógio, eram quase quinze horas, tempo adequado para uma visita.
Tocou a campainha, a porta foi aberta e recebido numa pequena sala de visitas por uma senhora que se apresentou como Rosalina Lima, sócia da firma. A recepcionista faltara naquele dia e era ela que recebia os clientes.
Com sorrisos a Dr.ª Rosalina, como constava do cartão de visita, acompanhou o Pedro ao gabinete, amplo e decorado com requinte e fez questão de se dizer que para além de sócia principal, os negócios mais importantes passavam pelas suas mãos. Em que o posso ajudar?
Pedro não se identificou,  foi dizendo:
-A senhora sabe que na minha actividade é preciso muita descrição. O vosso nome foi-me recomendado por um amigo de confiança e por isso aqui estou. No meu negócio sou obrigado a manobrar verbas muito significativas. Gosto que o dinheiro esteja sempre à minha disposição, num Banco sediado no Luxemburgo ou na Suíça. A conta deverá ser numerada e permitir a sua mobilização através da Internet. O que é que sugere?
- Meu caro, vamos esquecer os nomes, nós podemos garantir o serviço que nos pede. Naturalmente a operação terá um custo elevado, dependendo do seu montante, poderá ser da ordem dos vinte por cento. E de quanto é que estamos a falar?
- Dependerá como imagina, uma parte será gerada em Portugal e andará na casa de cinco milhões de Euros por mês. Mas a maior parte, chegará ao banco de destino, através duma sociedade de capital de risco. Em média poderão esperar movimentos líquidos de vinte milhões de dólares por mês.
Pedro captou cobiça nos olhos da sua interlocutora. Ela ficou agarrada à cadeira como se a surpresa lhe tivesse tolhido os movimentos. Foram apenas alguns segundos, logo esboçou um sorriso afirmando:
- Nós estamos habituados a todo o tipo de operações, eu percebi o que pretende e temos capacidade para o aconselhar a montar o esquema.
Lidamos com operações de todo o tipo, algumas  de valores semelhantes, e estamos no mercado desde há pelo menos dez anos e nunca recebemos qualquer queixa. Para segurança mútua, costumamos elaborar um contrato simples, em apenas dois exemplares. O nosso  será mantido fora dos nossos arquivos. Temos um cofre bancário para o efeito. Se pretender poderemos indicar o Banco mais conveniente para guardar o seu exemplar.
- Sim é uma boa ideia, não tinha pensado nisso, eu tenho o cofre em casa o que não me dá muita segurança.
- Então eu recomendo o Banco Nacional de Gibraltar. Vai ver que será muito bem recebido.
Eu terminei Dr.ª Rosalina. Vou hoje para o estrangeiro e estarei de volta da próxima sexta-feira. Nessa altura assinaremos o contrato e procederei à entrega da primeira tranche do valor a circular. Pode ser assim?
- Claro que pode, eu falo com o meu sócio para que ele também esteja presente. A sua enbtrega será em numerário, calculo? Sim, então combinamos para a mesma hora?



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