CRUZEIRO SEIXAS
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE
CAPÍTULO XII
Carlos conhecia bem a cidade, ali estudara e fora ali que começara o seu trabalho. Vamos de metro e depois vamos a pé. Assim quem nos quiser seguir, o que só por precaução admito será fácil de despistar.
Tinham começado a caminhar para a paragem do metro quando Carlos recebeu uma mensagem. Álvaro dizia que se encontrariam no café Luso.
Café Luso murmura Carlos, pensava que já nem existia, mas o caminho para lá será melhor de táxi.
Assim fizeram e numa mesa perto da entrada encontraram o colega que os aguardava lendo o jornal desportivo. Carlos aproximou-se e comentou:
-Eh pá não sei para que estás a ler, o jornal só fala da vitória do Benfica?
Deixa isso, apresento-me o meu chefe o Inspector Pedro Gonçalves e vamos lá falar de assuntos sérios.
- Tens razão meu amigo, falar de assuntos sérios! Mas até no futebol também os jornais desportivos têm os seus critérios. Este só fala do Benfica e lá para o fim deixa uma página para falar do FCP. O Pinto da Costa é que os conhece bem.
Aquela hora o café estava quase vazio pelo que puderam falar sem rodeios. Pedro abriu o computador portátil onde guardara as fotografias do cadáver, da mulher que o reconhecera como marido e as fotos dos clientes da Empresa do Dr. Bernardo, que o porteiro havia tirado.
Peço-lhe, dê uma olhada e diga o que pensa. Alguns dos clientes do Dr. Bernardo, são pessoas conhecidas e você, Álvaro poderá confirmar.
Este começou a analisar as fotos, que Pedro havia numerado, e num bloco de notas que retirou do bolso, começou a assinalar algumas das fotografias.
Não contente voltou a percorrer todo o arquivo, completou ou corrigiu um ou outro apontamento.
Acabou olhou para os dois colegas dizendo:
- A minha principal actividade tem tido a ver com o branqueamento de capitais. Vocês sabem como é que as lavandarias funcionam pelo que não vou perder tempo com o assunto.
Mas por força das pesquisas da minha pequena equipa conseguimos traçar o caminho utilizado e as pessoas envolvidas. E nesta procura acabámos por chegar a outro negócio ilegal porque o dinheiro movimentado corresponde a rendimentos legais que não são colectados, fuga ao fisco e até avultadas somas em dinheiro vivo, provenientes de outra fonte, a corrupção.
Todo o dinheiro envolvido nestas histórias precisa de acompanhamento para que se não perca no caminho. Alguns Bancos através de sociedades offshore, gerem uma grande fatia do negócio, mas as Sociedades de Investimento e ou os Fundos de Investimento são mais efectivos, menos exigentes e por aliciam os clientes para operações de risco.
No estudo que conseguimos desenhar,identificamos mais de uma dezenas de organizações para bancárias constituídas por quadros que abandonaram os Bancos ou continuam a eles ligados, através dos tais veículos onde se acomodam prejuízos ou lucros, consoante for o caso.
- Desculpe lá a minha interrupção, diz Pedro Gonçalves, nós percebemos os mecanismos, mas onde é que entra o nosso caso? Lavagem de dinheiro ou uma nova Dona Branca como eu receio?
- Pois é caro Inspector, pelas fotografias que assinalei e porque alguns dos intervenientes são do nosso conhecimento, eu diria que o vosso caso tem as duas componentes. E estendeu a folha onde havia escrito os nomes de alguns dos fotografados.
- Como assim, pergunta Carlos?
- É fácil, dos clientes do escritório do Doutor Bernardo, muitos dos quais eu vi nas vossas fotografias, são aforradores ambiciosos, vi por exemplo o Dr. Florindo, que se arriscam para terem um lucro maior. Esses são o esteio da actividade a que chamou da Dona Branca, mas outros são de outro calibre. São gestores de Fundos Imobiliários e Mobiliários que foram aliciados para os benefícios dos paraísos fiscais ou, os mais perigosos, empresários ligados à circulação da droga pelos portos nacionais e o seu encaminhamento para o mercado distribuidor, no norte da Europa. São importadores e exportadores e responsáveis pela gestão dos milhares de milhões que o negócio movimenta.
O escritório do Doutor Bernardo geria as duas actividades.
Agora deixa-me continuar e corrija o que estiver mal, propôs o Inspector Gonçalves:
- O Doutor Bernardo meteu-se numa camisa de onze varas, certo? Com a crise nos Bancos estes e os Fundos a eles ligados ficaram à beira da falência. Aos Bancos os respectivos Governos deitaram a mão mas os Fundos ficaram de fora. Alguns porque estavam nos tais veículos que os Bancos não reconheciam nas suas contas, outros porque fugiram por terem apostado e perdido. Os que se salvaram enriqueceram cada vez mais os outros deixaram muita gente aflita.
O Doutor Bernardo escolheu esconder-se. Encenou a sua morte, arranjou algum desgraçado para morrer por ele e com os capangas de confiança sumiu.
Estará no Brasil? Em Porto Rico? Ou, quem sabe no Uruguai. Aceito apostas, terminou.
- Chefe quer dizer que a mulher loura e o homem que contrataram os assaltantes para o Guincho eram parte da encenação ou também haviam sido enganados?
- Pois é o que temos de descobrir, mas acredito que eles eram comparsas trabalhando para o mesmo objectivo. Fingir a morte do Dr. Bernardo, concluiu Pedro.
Meus amigos, diz Álvaro que até ali se mantivera calado, na minha opinião vocês estão no rumo certo, mas ainda terão muitos passos para dar.
Sim, é verdade, devemos seguir o nosso instinto mas, como dizia o velho professor na Academia, quando não souberem o que fazer, sigam o dinheiro. É isso que faremos.
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