LE CORBUSIER
Les deux musiciens
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE
CAPÍTULO IX
Quando Carlos entrou no restaurante e desceu as escadas viu numa mesa do fundo o Pedro e outro indivíduo que não conhecia.
Pedro fez as apresentações, o companheiro era o Inspector Florindo Matos da direcção de investigação de tráfico de estupefacientes.
Conversaram de tudo, de assuntos correntes, actualidades, da família mas ninguém tocara o assunto principal.
A certa altura, terminada a refeição, o Inspector Florindo pediu desculpa aos colegas e abeirou-se da mesa dum desconhecido sentado só, numa mesa do fundo da sala. Cumprimentou-o com deferência e a sinal do desconhecido sentou-se na mesa.
Pedro percebeu algo estranho na atitude do colega. Em surdina deu instruções a Carlos para que logo que o colega regressasse à mesa, arranjasse uma desculpa para sair mais cedo e seguisse o desconhecido que parecia estar a dar instruções. Depois se reuniriam no hotel e fariam o ponto da situação.
Aproveitando o regresso à mesa do Inspector Florindo, Carlos olhou para o relógio, riu dizendo que tinha um encontro marcado e não se podia atrasar. Despediu-se dos colegas e saiu.
Pedro encolheu os ombros e comentou para o Inspector Florindo:
- Você também deve ter na sua brigada colaboradores como o agente Carlos. É muito competente mas perde-se por um rabo de saias. E aí vai ele ao encontro de alguma amiga.
Este ficou mais relaxado, deu um gole no whisky velho que tinha pedido e comentou:
- Ai, esta juventude que nunca mais aprende!
Pedro pediu a conta mas o colega olhou-o avisando:
- Caro amigo, aqui quem manda sou eu, a despesa é por minha conta. Quando eu for a Lisboa será então consigo. Não leve a mal mas é assim.
- Eu compreendo meu amigo, mas fui eu que convidei e por isso devo ter o privilégio de pagar e insistiu com o dono do restaurante pela conta.
Foi o Senhor Rafael, patrão do restaurante quem com um sorriso confirmou que a conta já tinha sido paga.
Não foi com surpresa que Pedro ouviu a informação. O patrão ia dizer por quem, mas foi interrompido pelo Inspector Florindo que desviou a conversa.
Pedro percebeu o embaraço do colega. E confirmou a razão. A conta fora paga pelo desconhecido que entretanto já abandonara o restaurante.
Despediram-se com Pedro a agradecer os esclarecimentos que lhe tinham sido dados assim como a atenção com o colega o tinha recebido. Em jeito de despedida asseverou:
- Meu caro amigo e colega vou sair para Lisboa, convencido que você e os seus colegas sabem muito mais do que eu, que como lhe contei, tropecei neste mundo do dinheiro por mero acaso. E assim a minha investigação será limitada ao mistério da morte na praia do Guincho. Quase de certeza ali houve razões de ciúmes e traições entre um casal desavindo. Também é esta a sua opinião?
- Sim, claro nem poderia ser de outra forma. Nós controlamos o mundo da droga e estamos em contacto com o vosso Departamento em Lisboa e com a Interpol.
Asseguro-lhe que, como teve ocasião de verificar, nada escapa ao nosso controlo. É pena aliás, eu já sugeri ao nosso Director Geral que fosse a Direcção do Porto a superintender as questões da lavagem do dinheiro. Estamos mais avançados e o combate seria ainda mais eficaz.
De qualquer modo se precisar de alguma colaboração, já sabe, tem o meu número de telefone e basta ligar.
- Muito obrigado colega, não me esquecerei, respondeu Pedro enquanto se afastava na direcção do Hotel.
Atravessava a Avenida dos Aliados quando viu o Carlos, sentado num banco do jardim, folheando um jornal e fumando um cigarro. Não mostrou surpresa pelo encontro e continuou a caminhar para o Hotel.
Entrou, pediu a chave e aguardou no quarto, passeando de um lado para o outro. O que havia obtido do Inspector Florindo fora apenas palha. Nem uma ideia nem uma indicação ou informação pertinentes. Mas não subestimou o colega, ele saberia muito mais do que quisera dizer. Teria medo, tudo indicava que sim, ou então sentia-se comprometido e não pelas melhores razões.
Carlos entrou no quarto, estava visivelmente satisfeito e deixou-se cair no sofá.
Chefe, esta vida é na verdade cheia de surpresas, e a sorte também conta.
- Vá lá, já percebi que descobriste algo importante. Sou todo ouvidos.
- Sabe Inspector cada vez mais me convenço da sua razão, quando me falou que a nossa investigação poderia ser incómoda para muita gente. Eu tinha alguma dúvida que só há pouco tempo desapareceu.
Foi assim:
- Quando fui investigar o escritório do Dr. Bernardo dei com a porta fechada mas a caixa de correio, que eu consegui espreitar, estava vazia. Alguém se encarregava de retirar o correio. O prédio tem portaria e o porteiro é esperto e nada lhe escapa. Assim que me viu descer pelas escadas desde o quarto andar, perguntou-me se tinha encontrado o Dr. Bernardo.
Não me mostrei surpreendido mas sim algo desconfiado. E o Senhor Aurélio, assim se chama o porteiro, continuou, dizendo que eu já tinha visto muita gente a bater com o nariz na porta. E sem me dar tempo de dizer algo, precisou:
- O Doutor Bernardo, deixou o gabinete há mais de quinze dias. Na semana passada eu vi três indivíduos que não conhecia, a subirem ao quarto andar. Subi pelo elevador de serviço e vi que eles estavam a entrar no escritório do Dr. Bernardo. Fiquei de atalaia e dei por eles a descerem carregando umas malas que me pareciam cheias de papéis e cada um levava também um daqueles computadores portáteis. Voltaram de novo, demoraram mais tempo e quando desceram apenas levavam uma pasta de cabedal. Os indivíduos que fizeram a limpeza do escritório eram profissionais, mas não do serviço de mudanças. Estavam bem vestidos e não pareciam Portugueses, pelas poucas palavras que os ouvir dizer. Na rua transversal pude ver um Mercedes parado, com o sinal de stop aceso e ao volante uma loira que dava as ordens. Depois de carregado o Mercedes arrancou e rapidamente deixei de o ver. Era um carro grande e preto. a matrícula não reparei nela, mas até me pareceu estrangeira.
Chamei a Polícia mas como a porta não tinha sido arrombada o Agente não deu muita importância.
O porteiro ficou a olhar para mim e eu tomei uma decisão. Mostrei-lhe a minha identificação dizendo:
- Senhor Aurélio, o outro Polícia não deu grande importância ao que me acabou de contar, mas eu dou, porque procuro os amigos do Dr. Bernardo, já que ele foi encontrado morto numa praia perto de Lisboa.
O porteiro lamentou a morte do inquilino:
- Ele era um senhor muito educado e generoso, eu sabia que ele tinha muito movimento no escritório e tinha uma secretária loira que se não era a condutora do Mercedes era uma sósia.
Senhor Inspector, eu gostaria que as pessoas que mataram o Dr. Bernardo fossem condenadas e se me prometer que eu não serei envolvido no inquérito, posso ajudar a Polícia.
- Fique descansado, nós sabemos proteger as nossas fontes.
- Então aguarde só um bocado que eu vou a casa e já volto.
O porteiro sabia o que fazia, admito até que ele conheceria visitantes, mas tive a maior das surpresas quando ele me entregou, disfarçadamente um pequeno embrulho, dizendo que sempre tivera o prazer da fotografia.
- Carlos deixa os pormenores, vamos é abrir o embrulho.
Não foi uma surpresa, lá dentro de um envelope castanho, havia algumas fotografias já reveladas e uma disquete de máquina fotográfica digital.
Das fotos reveladas duas sobressaíram à vista dos dois Polícias. Uma era o do Inspector Florindo a outra era do desconhecido que estava no restaurante e que o Carlos havia seguido.
- Carlos onde é que este cavalheiro foi parar? - Esta é a outra surpresa. O cavalheiro é quadro de uma Sociedade Financeira. Tenho anotado o nome e a morada.Carlos, foi óptimo. Confesso que depois de ter ouvido o Dr. Florindo falar tanto e não dizer nada, quando percebi que o amigo que ele cumprimentou no restaurante era uma pessoa importante, eu senti como uma força que empurrava uma nuvem negra para nos esconder o caminho. Amanhã eu vou tomar o comboio para Lisboa, desço em Aveiro e regresso ao Porto para outro hotel. Tu ficas e esperas que eu te ligue pelo telefone fixo. Nada de telemóveis. Temos que encontrar o cacifo a que esta chave corresponde. Quem sabe, lá estará parte mais importante desta história.
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