domingo, 15 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

GLÓRIA DE LISBOA
António Lino
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XIV

Ao abandonar o escritório especializado nas operações de lavagem de dinheiro,Pedro ficou, novamente, desiludido. Tinha a sensação de que andara a perder tempo ouvindo conversas que já conhecia de cor, especialmente  com a visita que acabara de fazer. Na realidade o escritório era apenas uma cópia da actividade conhecida como  o esquema de Ponzi, ou de forma popular,o banco da Dona Branca.
Quando falara em milhões os olhos da Dr.ª. Rosalina quase saltaram das órbitas. Na realidade aquele escritório era uma casa de usurários e nem faziam sequer ideia do tipo de operações que ele deixara como isco.
A visita redundara em nada,  seria fácil denunciar à Polícia aquele escritório e apanhar os responsáveis. Alguém iria ficar a perder, mas quem arrisca tem que se convencer que pode perder. O Inspector Florindo seria um deles?
Gibraltar era um paraíso fiscal que toda a gente conhecia. Mas domiciliar operações nos bancos lá sediados, não era actividade para principiantes. Uma sociedade de amadores, tipo da Dr.ª. Rosalina e marido, não passariam da porta de entrada.
O que mais lhe custava, era ter a percepção que andava às voltas com um crime de morte,  que a solução estava tão perto e que não conseguia pegar nas pontas.
Era fácil, pensava, o crime foi premetidado para baralhar,  dando tempo a alguém para  levantar dinheiro ou activos que a sociedade do Dr. Bernardo teria em carteira e depois desaparecer.
Estava mergulhado nos seus pensamentos e continuava a passear sem destino pela baixa da cidade. Era cedo para regressar ao hotel. Passou por uma cafetaria na Avenida dos Aliados, tinha um espaço envidraçado que dava par a rua, entrou e escolheu uma mesa com vistas para o movimento. Pediu um café e uma aguardente velha  e reparando que estava numa zona permitida a fumadores, aproveitou, acendeu um cigarro e por momentos ficou olhando para os carros que paravam no sinal vermelho, que protegia uma passagem de peões.
Pediu a conta e enquanto retirava a carteira para pagar, reparou numa senhora alta e loira, com um casaco de peles, comprido e de bom corte e que aguardava passagem. Teve o pressentimento que aquela silhueta lhe não era desconhecida, deixou uma nota de vinte euros em cima da mesa, nem esperou pelo troco e saiu correndo para a rua.
Quando chegou à passagem de peões o sinal já estava vermelho, as transeuntes já tinham atravessado, deu uma corrida entre os automóveis que começaram a circular, ouviu um coro de buzinadelas e algumas palavras pouco agradáveis mas esqueceu. Agora circulava por entre a gente que se dirigia para o transporte de regresso a casa. Da senhora que vislumbrara, nem sinal.
Atravessou o jardim e preparava-se para atravessar a faixa ascendente da Avenida, quando um Mercedes com motorista que subia lentamente a rua, parou e a senhora que tinha perdido de vista, entrou no automóvel que arrancou e se perdeu no trânsito. Mas agora Pedro sorriu, o pressentimento confirmara-se. Ele reconhecera a mulher, já a vira e não havia muito tempo. Não era loira, nem vestia como agora, um vestido vermelho debaixo dum casaco de peles. Aquela mulher estivera no seu gabinete em Lisboa depois de ter reconhecido como sendo do marido o cadáver encontrado no Guincho. Dera o nome de Luísa Maria Magalhães Esteves dos Santos. Quem diria, murmurou Pedro, como está  mudada. 
Abanando a cabeça de incredulidade apontou a matrícula do Mercedes.
Ligou para Lisboa de uma cabine pública. O colega que o atendeu, um velho companheiro e amigo, não fez perguntas. Ouviu o número da matrícula e o pedido para que o mesmo fosse investigado. Depois devia mandar a informação por correio electrónico. Raul tenho urgência em receber notícias, acrescentou Pedro.
- Fica descansado, vou já tratar do assunto. Entretanto quando puderes liga ao Dr. Dionísio, o homem do Laboratório. Ele anda fulo não te encontra e nem respondes no telemóvel.
- Está bem, eu vou falar com ele.
Regressou ao hotel, eram horas de jantar mas estava excitado e não podia perder tempo.
Abriu o computador, viu as últimas mensagens, mas ainda não recebera a resposta sobre os dados da Mercedes.
Aproveitou para redigir o relatório para o Director sobre o estado da investigação. Deu conta de todos os indícios já recolhidos, identificou crimes financeiros e fiscais que envolviam gente da Polícia. Pedia o acordo para continuar a investigação por mais algum tempo, pouco, findo o qual estaria em condições de solicitar a emissão de mandatos de busca e detenção. Fez o envio.
Redigir o relatório ocupou-lhe bastante tempo. Quando acabou lembrou o pedido do Director do Laboratório de Investigação Científica e ligou pelo telefone fixo do quarto.
Do outro lado o Dr. Dionísio estava fulo, protestando que perdera muitas horas de volta dos equipamentos que ele lhe deixara e afinal o resultado era próximo do zero.
Especificou o pouco que conseguira:
- O iPhone estava completamente virgem e apenas num dos CD encontrei o rasto do que parecem ser duas ou três páginas de uma lista telefónica. Os números estão apagados mas os alguns dos nomes ainda se conseguem  ler. As moradas não tanto, estão quase sumidas, mas pelos nomes percebemos  que podereria seria uma lista telefónica de um País de lingua Espanhola, muito provávelmente da América Latina. 
Pedro agradeceu a ajuda e pediu um outro favor:  
- Dionísio, peço mais um favor, tenta enviar o CD para o meu correio electrónico! 
O colega  resmungou qualquer coisa que não se percebera e desligou.
Enquanto ao telefone, deu pela chegada de duas mensagens no correio electrónico. A primeira, do Carlos dizia que estava no bom caminho e que se estava a divertir com sucesso.
A outra era do Raul que enviava os dados do Mercedes. A viatura tinha um só registo, sinal que fora comprada nova, tinha seis meses e estava no nome de Frederico Magalhães e tinha a morada numa rua da Maia.
Pedro respirou fundo, o mistério começava a tomar forma e eram a de uma mulher vestida de vermelho.



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