GRAÇA MORAIS
O sagrado e o profano
MANUFACTURA DE TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE
CAPÍTULO X
Pedro cumprindo o que havia combinado regressou à cidade do Porto. Em Campanhã tomou um táxi e seguiu para um hotel que conhecera, há muito tempo, situado na Avenida dos Aliados. Não tinha nada de especial, apenas ficava perto do hotel onde o Carlos continuava hospedado. Facilmente se encontrariam, mesmo andando a pé. E foi logo à chegada que da cabine telefónica ligou para combinar o encontro. Seria na Avenida perto do Edifício da Câmara Municipal.
Entretanto Carlos havia copiado o arquivo fotográfico que o porteiro lhe havia entregue e partilhou as dezenas de fotografias que o arquivo continha, em correio electrónico que enviou para o seu computador pessoal e para a caixa de correio do Inspector Pedro Gonçalves.
Depois no centro de negócios do hotel, alugou uma impressora lazer e imprimiu todas as fotografias. Organizou um dossier que guardou no cofre do quarto.
Jantaram juntos e foram até ao Aeroporto. Percorreram a zona de chegada mas não encontraram qualquer cacifo reservado aos viajantes. Perguntaram mas não havia nada que se parecesse.
Desistiram, regressaram à cidade. Quando desceram perto da Estação de São Bento, deram uma espreitadela mas também ali não encontraram os cacifos que esperavam.
Pedro retirou a chave do bolso, olhou-a com mais atenção comentando:
- Já te aconteceu estares tão convicto duma razão que te tenhas esquecido do mais óbvio?
- Quantas vezes, e olha que perdi horas a tentar perceber o porquê de uma determinada situação, quando a solução era tão evidente que a tinha rejeitado. Estás a pensar assim com causa da chave, não é?
- Pois, meti na cabeça que este tipo de chave corresponderia a um cacifo num aeroporto ou numa gare de caminho de ferro e nem voltei a pensar em outra alternativa. Mas agora, depois da viagem para nada, tropecei com a evidência. Então ao Bernardo, que foi tantos anos funcionário de um Banco não lhe seria mais fácil e cómodo ter um cofre alugado? E porque não no banco onde trabalhou e teve altos cargos com responsabilidade?
- Percebo, diz Carlos, mas só temos a chave e não acredito que o cofre a existir tenha sido alugado no seu nome, pois acredito que quando ele saiu do Banco toda a sua história foi investigada. Não foi isso que o tal Director Doutor Silvestre nos disse? Mas ou me engano muito, ou este desconfiava da existência desse cofre e não nos disse por interesse ou porque não sabe onde é e nem que será o titular.
- Tens razão mas estou cá a pensar, diz Pedro. O Bernardo era um homem sabido e esperto mas que se deixou enredar numa aventura e acabou preso numa ratoeira. Quem era a pessoa em que ele confiaria em caso de dificuldades?
- Agora percebo senhor Inspector, diz o Carlos com ar trocista, andámos os dois a dormir na forma. Se eu, casado e com filhos, me deixasse apanhar pelos olhos duma loira sabida e treinada nas técnicas da sedução, poderia embarcar na viagem mas teria colocado o cinto de segurança. E essa segurança faria todo o sentido para proteger a família. Meu caro Sherlock, o cofre estará num outro Banco, quero crer, mas em nome da mulher, mãe dos filhos. Só assim faz sentido.
- Elementar meu caro Dr. Watson, tão elementar que apostaria, terá razão.
Carlos, no meu computador está registado o contacto com a Dona Luísa Maria Magalhães Esteves dos Santos. Amanhã pela manhã arranjarei um pretexto qualquer para combinar uma visita particular. No final apresentaremos o dossier com as fotografias. Estou curioso para ver a reacção. Além de que quero que ela nos conte algo, que receio ter esquecido quando ela foi reconhecer o corpo do marido.
Pedro, eu vi a senhora de relance, não me pareceu uma viúva inconsolável nem com problemas de dinheiro.
E se a senhora também for cúmplice do crime?
Por favor Carlos, não digas mais nada ou não vou conseguir dormir a pensar nos meandros em que nos andamos a meter. Parece que a nuvem é cada vez mais escura e já não sei se vejo uma luz ou o clarão de um relâmpago.
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