domingo, 29 de janeiro de 2012

EM DEFESA DO PRESIDENTE

 Nem eu próprio queria acreditar quando me aventurei a escrever uma mensagem de apoio ao nosso Presidente. Como já disse em outro escrito, nunca votei nele, não lhe devo favores pelo que a minha opinião é pessoal e apenas a mim diz respeito. É fácil verificar que o Dr. Cavaco Silva passou de elo mais forte para elo mais fraco, parodiando aquela estopada com que a RTP nos castiga e onde è suposto avaliar o conhecimento dos Portugueses. O Dr. Cavaco Silva nunca foi homem de palavras, já sabíamos disso e também sei, ou sabemos, que o seu nome foi utilizado pelos que na sombra cresceram comendo as migalhas do Cavaquismo até poderem, como actual Primeiro Ministro disse um dia aos seus camaradas, meterem a mão no pote. E esse momento acabou por chegar.

Antes porém, pedimos aos nossos credores que nos ajudassem a arrumar a casa, e a receita desses economistas de serviço sabe-se lá a quem, foi subscrita por quase toda a gente no espaço Parlamentar, exceptuando, como é óbvio, aqueles que estarão sempre do contra. E Cavaco Silva, abençoou o feito. Estava tudo a correr bem. Tínhamos um governo para abanar a cabeça, capitaneado por dois líderes carismáticos de reconhecido valor. O Passos Coelho saído da arca dos barões do PSD, depois do Ângelo Correia ter aberto a porta e o Portas arquitecto e da sua própria imagem, que passou de feirante a diplomata. Mas ironia do destino o homem que de facto assumiu o poder foi um recatado e pouco falador Ministro das Finanças, um seguidor de uma doutrina económica falida enquanto as massas eram controladas pelo Ministro da Propaganda, personagem cinzenta e que se movimenta junto dos fazedores de opinião que passaram a ter lugar cativo nos meios de informação.



O que parecia ser um grupo de pouca valia, aprenderam que o poder reside no controlo dos meios de informação. E por isso o Presidente, endeusado pelos seus seguidores, mas com anticorpos no seu partido, provavelmente por não ter repartido com equidade as benesses, resolveu falar e deu um tiro num pé. Argumentando com a falta de equidade na distribuição dos sacrifícios exigidos, Cavaco foi infeliz quando ilustrou uma situação tão evidente e real com a sua própria situação. Não deixou de ter razão, mas pior foi que abriu o caminho para a demagogia de que é exemplo o comentário venenoso do Passos Coelho.

 Cavaco já devia ter aprendido que não pode falar de improviso. Terá que pedir apoio à mulher, pois os assessores não me parecem grandes espingardas. O que tiver a dizer sobre a falta de sentido de justiça do Governo quando à austeridade da troika, deve fazê-lo com cuidado e medindo as palavras. Porque o que disse ofendeu os pobres, classe média incluída, desviando as atenções do Povo do que é realmente importante que é o projecto de empobrecimento dos 99% da maioria a favor dos 1% que detêm o poder económico e financeiro. Cavaco Silva teve razão mas mais valia ter ficado calado. Se os que o criticam pela sua alegada pobreza, lhe fizerem a pergunta de quais são os seus rendimentos reais, não invente, aprenda com o mestre Professor Marcelo.
Eu tentei transcrever a resposta do ilustre comunicador, mas a minha cabeça não deu para tanto e perdi-me. Fiquei contudo com a ideia de que o Professor também será um candidato ao subsídio de inserção social. Deixo o endereço onde poderá ouvir o brilhantismo e o uso da arte das palavras. Mestre é Mestre e há muita gente que o ouve com a veneração devida aos eleitos.
Eu também, quer dizer.
Marcelo responde às perguntas dos leitores
Professor aceitou o desafio de um leitor e disse quanto ganha

http://www.tvi24.iol.pt/noticia.html?id=1319342&div_id=5796
No fim, se tiverem percebido alguma coisa da trapalhada em que ele se meteu, eu prometo dar a mão à palmatória.
Prometo que o farei, ou eu não me chame Zé.



sábado, 28 de janeiro de 2012

ESTA EUROPA

Quando a União Europeia foi pensada os Pais da ideia e os que lhe deram seguimento, pensaram uma coisa mas afinal, hoje é uma realidade diferente. Seria uma Europa de Pátrias, não haveria perdas de soberania, o objectivo seria a criação de um espaço de liberdade e de progresso. Fazia todo o sentido. A Europa atravessara na primeira metade do século vinte duas guerras mundiais terríveis pelo que urgia criar mecanismos para que a tragédia se não repetisse. E sob a direcção de políticos com prestígio, foram eliminando os azedumes e convergindo esforços.
Depois alargaram o seu projecto, aliciaram Países que não reuniam as condições para a adesão e que na mira de receberem os fundos estruturais, aldrabaram as contas, venderam a agricultura e as pescas, receberam rios de dinheiro que, no nosso caso encheram os bolsos de muita gente. Aliás os mesmos de sempre. Foram os anos de glória do Cavaquismo, e disso pouca coisa ficou. Que me lembre assim de repente, ficou o CCB e um bando de tesos que viraram ricos e anafados.
Depois foi a criação do Euro, e a contabilidade criativa foi de novo a porta de entrada. E um a um todos se foram sentar em Bruxelas ou e Estrasburgo. Dava para tudo. Até que um dia a bolha estoirou e a fraternidade e cooperação foram por água abaixo e cada um passou a olhar para o rabo a arder. Foi o salve-se quem puder e todos ficaram nas mão da Alemanha da senhora Merkel.
Agora já exige que a Grécia prescinda da soberania em termos orçamentais para receber a ajuda que a vai empurrar para o fundo do mar. Depois, daqui por algum tempo seremos nós e a Irlanda, depois a Itália que já está na corrida e a Espanha que se aproxima apoiada nos seus cinco milhões e trezentos mil desempregados. A França não ficará a rir por muito tempo, apesar do namoro Sarkozy/Merkel.
Quer dizer para que tudo se componha o Banco Central Europeu passa a ser Banco Central da Alemanha, poderá emitir moeda e títulos de dívida, mas os pedintes terão que aceitar ser uma um província ou uma freguesia da Grande Alemanha. Mas isso não era parecido com a doutrina do Adolf? Querem ver que ele já voltou e ninguém deu por isso? A nossa sorte e dos Países periféricos é que em Bruxelas existe uma Comissão Europeia, liderada por um mordomo bem-falante e que abre as portas e serve as bebidas, sempre que a chanceler alemã passa por lá. É fraco consolo, mas sempre poderá meter uma cunha a nosso favor. Os outros que se lixem. Em Estrasburgo temos a outra força de bloqueio, um Parlamento Europeu que aprova, o quê? Não percebi, peço desculpa.
Eu como se depreende não conseguia perceber para que servia a Comissão Europeia. Mas estava, mais uma vez, enganado. Reparam nesta notícia publicado no jornal Público, cito: A Comissão Europeia abriu um processo de infracção contra Portugal e outros 12 Estados membros pelo atraso na aplicação da legislação sobre as gaiolas das galinhas poedeiras. Até que enfim alguém se lembrou das pobres galinhas. Tenhamos esperança. Ainda um dia ouviremos a Comissão punir os Governos que têm maltratado os seus habitantes. Mas fica a pergunta. - Oh Ministra, então a senhora que tem no seu gabinete uma série de ajudantes sem nada para fazer, não acode às pobres galinhas? Olhe que elas não votam mas também têm cristas na cabeça. Pelo menos isso.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

INTERMEZZO


Sim fui buscar um estrangeirismo para título do pequeno texto que vou escrever.
Hesitei. Estou consciente de que tudo tem o seu tempo.
O tempo da esperança, do fracasso, da alegria e do desespero. Eu passei por todas essas fases, desde que decidi ocupar o meu tempo livre, cada vez mais solitário, a desenhar histórias, algumas sem eira nem beira, outras com tropeções aqui e ali, mas sempre com entusiasmo e vontade de seguir.
A cada história ou texto mal construído eu ia buscar forças para fazer melhor.
E foram essas forças que me disseram para não parar, escrever, escrever muito para que a solidão não matasse o pensamento.
Mas cada dia se torna mais difícil, é preciso aguardar que uma ideia ganhe forma e eu a consiga escrever.
Preciso de separar a esperança do desengano e a quimera da vida real.
Para isso terei que viver um intermezzo.
E escolhi momentos de rara beleza. A música de Prokofiev para o bailado Romeu e Julieta.
É um momento que espero ganhar a paz de que preciso.
Espero que este pedaço de sonho, também vos traga alguma tranquilidade, nestes tempos conturbados em que vivemos.
 

sábado, 21 de janeiro de 2012

EM PORTALEGRE


Aos que tiveram a paciência de ler, uma história cheia de boas intenções, mas que no seu desenrolar se mostrou confusa, aborrecida e repetitiva, apresento as minhas desculpas.
Quis ir para além e afinal só prolonguei a história porque me lembrei de a ilustrar com pequenas obras de arte executadas na Manufactura de Tapeçarias de Portalegre.
Não estarei habilitado a contar a história das Tapeçarias de Portalegre, nem tal me atrevo. Isso ficará como anexo a este post.
Todavia há uma razão muito funda que me traz alegrias, tristezas, dor e saudade. O lugar das minhas memórias chama-se Covas de Belém. Foi rodeado por oliveiras e pinheiros que cresci, que brinquei e que chorei. Ali na encosta da serra, aprendi a viver, ouvindo a música do vento e o canto dos pássaros; Ali vivi os meus sonhos e travei as minhas batalhas. E a cidade era Portalegre.
A cidade foi sempre esquecida. Foi importante centro industrial da cortiça e de lanifícios mas tudo isso morreu ou deixou apenas sinais e lágrimas dos que por lá ficaram.
Quando comecei a ilustrar os escritos com as Tapeçarias de Portalegre, fi-lo com o propósito de dar a conhecer uma arte, creio que única em Portugal, dando testemunho da dedicação e saber de homens de mulheres que emprestam ao que fazem, não só a técnica mas sobretudo o coração. E assim talvez algures no Mundo, alguém partilhe a beleza do trabalho e sinta que a arte, qualquer que ela seja é parte da vida. Da nossa vida. 
Finalmente posso fazer alguma coisa por Portalegre. Coisa pouca, mas com carinho.
Sim, como o poema de José Régio:
“ Em Portalegre cidade
Do Alto Alentejo cercada
Por serras, ventos, penhascos, oliveiras e
Sobreiros ….”
É ASSIM QUE EU ME LEMBRO DA VELHA CIDADE!
"Tapeçarias de Portalegre
uma história que data de 1946
|Vera Fino
Directora da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre

Embora Portugal seja um país de grande tradição têxtil, e grande parte dos feitos épicos dos portugueses tenham sido representados em tapeçaria, foram-no em tapeçarias encomendadas na França e na Flandres pois até ao século XVIII não existia a tradição da Tapeçaria em Portugal.
O Marquês do Pombal, após o terramoto de 1755 que destruiu grande parte daquelas peças, procurou fundar duas fábricas de tapeçarias, uma em Lisboa e outra em Tavira, as quais no entanto não lhe sobreviveram.
Só praticamente dois séculos depois, em Portalegre, voltou a existir tapeçaria em Portugal.
A história das tapeçarias de Portalegre é, assim, uma história recente. Data de 1946, quando dois amigos, Guy Fino e Manuel Celestino Peixeiro, resolveram fazer reviver a tradição dos tapetes de ponto de nó, em Portalegre. A concorrência era grande e o negócio não mostrava viabilidade. Foi então que Manuel do Carmo Peixeiro, pai de Manuel Celestino, desafiou os dois jovens a fazer tapeçaria mural com um ponto inventado por ele, anos antes, enquanto estudante têxtil em Roubaix. Todos se lançaram de alma e coração no projecto. A primeira tapeçaria surge em 1948 sob cartão de João Tavares (fig.1).
Outros pintores como Júlio Pomar, Maria Keil, Guilherme Camarinha, Renato Torres, Lima de Freitas, contam-se entre os primeiros que colaboraram com a Manufactura de Tapeçarias.
Fig.2.1
Fig.2.2
Foram tempos difíceis pois "os velhos do Restelo" não acreditavam que fosse possível tapeçaria portuguesa. A tapeçaria tinha que ser francesa ou flamenga.
O reconhecimento e a aceitação da tapeçaria de Portalegre só aconteceram em 1952, pela mão dos próprios tapeceiros franceses que se deslocaram a Portugal para a grande exposição "A Tapeçaria Francesa da Idade Média ao Presente". Guy Fino, aproveitando a ocasião, resolveu pôr em confronto as duas técnicas, expondo simultaneamente no SNI duas grandes tapeçarias sob cartão de Guilherme Camarinha que tinham sido tecidas para o Governo Regional da Madeira. Os técnicos franceses, convidados a visitar esta exposição, admiraram a técnica e a perfeição conseguida com o ponto de Portalegre. Estavam lançadas as tapeçarias de Portalegre.
Faltava no entanto cativar Jean Lurçat, o renovador da tapeçaria francesa, para a tapeçaria de Portalegre.
Depois de um primeiro contacto em 1952, Guy Fino conseguiu convencê-lo a visitar a Manufactura em 1958. Aí confrontou-o com duas tapeçarias (fig.2):
      - Uma tecida em França e que o próprio Jean Lurçat oferecera à esposa de Guy Fino,
      - e a sua réplica tecida em Portalegre.
Convidado a identificar a tapeçaria francesa, Lurçat escolheu a tecida em Portalegre.
Mais tarde veio a considerar as tecedeiras de Portalegre como as melhores tecedeiras do Mundo, fazendo tecer em Portalegre, de 1958 até à sua morte, um grande número das suas tapeçarias.
Este facto, conjuntamente com a obstinação de Guy Fino, em muito contribuiu para a internacionalização da tapeçaria de Portalegre.
A tapeçaria de Portalegre parte sempre de um original de um pintor (fig.3). É a transposição para um outro suporte e a uma outra escala da obra criada por um pintor. É no entanto muito mais que uma simples reprodução.
Fig.3
A tapeçaria de Portalegre é uma obra de arte original, única pelas suas qualidade intrínsecas e pela técnica usada para traduzir o modelo original. Este é ampliado para a dimensão final sobre um papel quadriculado próprio, em que cada quadrícula representa um ponto (desenho de tecelagem). A desenhadora tem em seguida que corrigir o desenho, tendo em atenção os contornos, as formas, as tonalidades das cores e todos os pequenos detalhes que a tecedeira deve ler e traduzir em tecelagem.
Tem ainda que escolher as cores fazendo a equivalência entre o original e as mais de 7000 cores da paleta de lãs da Manufactura.
De referir que a trama decorativa é composta de 8 cabos, o que permite misturar cores diferentes na mesma trama, levando a efeitos cromáticos muito ricos (fig.4).
Fig.4


Fig,5

Fig.6
As cores escolhidas são indicadas no desenho de tecelagem através do número de referência, sendo as diversas zonas de cor, coloridas com aguadas indicativas, de modo a auxiliar as tecedeiras na identificação da trama a usar.
Uma vez pronto, o desenho de tecelagem (fig.5) constitui o original para as tecedeiras, e pode, de algum modo ser considerado o equivalente ao "carton" na tapeçaria francesa, o qual foi desenhado em tamanho natural pelo cartonista.
Falta ainda preparar os novelos de lã, de acordo com a escolha feita pela desenhadora, os quais são suspensos do tear, e suspender também, um pouco mais abaixo, o desenho de tecelagem, à altura da cabeça das tecedeiras.
A tapeçaria começa a ser tecida pela base, do lado do avesso.
As tapeçarias de Portalegre são tecidas manualmente em teares verticais (fig.6). A trama decorativa envolve completamente os fios da teia levando a uma densidade de 2.500 a 10.000pontos/dm2. A tapeçaria cresce horizontalmente. Depois de  cada  passagem  da trama decorativa há a introdução de uma fina trama de ligação, a qual fica invisível, escondida pela espessura da trama decorativa.
Fig.7
Isto confere à tapeçaria de Portalegre uma grande resistência. A técnica de Portalegre permite realizar detalhes muito pequenos donde resultam formas muito precisas (fig.7).
As tapeçarias de Portalegre têm um grande poder decorativo que lhes advém do facto de serem baseadas num original de reconhecido mérito, das dimensões das peças, do facto da técnica de Portalegre dar origem a peças planas, e ainda do facto da trama decorativa ser 100% lã, o que faz com que, embora as cores utilizadas possam ser luminosas, a tapeçaria não tenha o brilho de um óleo, sendo mais suave para o olhar, melhorando além disso as condições acústicas e térmicas da sala onde se encontra.
As tapeçarias de Portalegre são séries limitadas de 1, 4 ou 8 exemplares, numerados e autenticados pelo pintor através da sua assinatura no "bolduc" - pequeno rectângulo de pano onde, para além da assinatura do pintor a tapeçaria é identificada pelo título, número e onde são ainda indicadas as das dimensões."
Se passar por Portalegre não deixe de visitar o museu da Tapeçaria. Fica bem no centro da cidade velha. Siga o website e saiba mais.
http://www.mtportalegre.pt/pt/

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

Renato Torres
Concerto de Orgão
MANUFACTURA DE TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XVI

O dia dos dois colegas começara bem. Tinham informações e documentação para elaborar o relatório. Escolheram o hotel do Pedro, estava mais perto e era menos conhecido, encerraram-se no quarto analisando os dados que haviam coligido e fizeram um relatório preliminar, que depois de lido e corrigido duas ou três vezes, acabaram mandando para a Direcção Central.
Tinham escolhido o caminho e estavam em condições de requerer a detenção de pessoas envolvidas no tráfico de droga, fuga de capitais e outros ilícitos criminais.
Solicitaram a aprovação da Direcção e o acordo da Procuradoria de Justiça para a conclusão das investigações.
Entretanto foram vigiar o apartamento onde sabiam estar a Luísa Maria, uma das peças chaves do mistério. O Mercedes preto estava estacionado numa rua paralela mas a pouco distância das traseiras do bloco de apartamento.
Ficaram de vigília.
 No que se referia ao crime de morte no Guincho, as peças estavam ajustadas e tudo apontava que a morte fora executada pela Luísa Maria e o seu cúmplice, que não era seu irmão mas sim seu amante, como disse a colega do Banco que Carlos convencera a falar.
No entanto ambos estavam de acordo que o planeamento do crime e as provas plantadas no local assim como a estratégia de contratar dois conhecidos assaltantes para serem os principais suspeitos, teria sido trabalho de um cérebro habituado a montagem de operações delicadas, atento aos pormenores, capaz de eliminar pistas e permanecer afastado, e isso só estaria ao alcance do Dr. Bernardo.
Parte do plano correu mal. O assaltante que haviam contratado no Estoril para ser incriminado desconfiou, fugiu com o companheiro, mas viria a morrer durante a fuga, num despiste de automóvel.
O casal que tinha montado o cenário, teve de improvisar, recolher a pistola, plantar as provas que serviriam para desviar a investigação para outro tipo de crime.
Estiveram hospedados num hotel da linha. A Luísa Maria recriou uma personagem, uma viúva abandonada e com filhos e reconheceu o corpo do marido.
Funcionários do Banco confirmaram ao Carlos que o Dr. Bernardo era cliente assíduo e detinha um cofre alugado em seu nome pessoal. E que dois ou três dias depois do crime do Guincho ele estivera no Banco, tivera acesso ao cofre e saiu dizendo que iria fazer uma viajem.
Pedro e Carlos elaboraram uma tese que apontava que o Dr. Bernardo se teria apropriado de fundos e estaria a ser perseguido por gente ligada ao mundo do crime. Sabia que desaparecer não seria suficiente e encenou a sua morte.
Tinha um colaborador de confiança, que também recrutara no mesmo Banco e foi ele a vítima escolhida. O  Banco entregara um dossier com o nome de David Ferreira, quarenta anos de idade, solteiro, natural de Braga e residente num condomínio da cidade de Gaia. Por ironia ou talvez não, o corpo do David Ferreira acabara sepultado na sua terra de origem mas sob o nome de Bernardo Augusto Esteves dos Santos, o nome do seu patrão.
Foi já de noite que receberam o acordo. Um Procurador do Porto estaria com eles, acompanhado pelo Inspector Ramires e Agente Delgado, da Directoria da PJ no Porto. Esperariam pelas oito horas da noite para entrarem no domicílio. Olharam um para o outro, encolheram os ombros, tinham que passar a noite em vigia.
Depois foi a identificação dos moradores no andar assinalado, Luísa Maria, de novo com o cabelo pintado de negro e do companheiro, Rodrigo Morais e a sua detenção para  posterior apresentação ao Juiz.
Foi também na sua presença que a Polícia identificou as malas de viajem já prontas. Numa delas encontraram uma caixa com um valor importante de dinheiro.
Estavam a preparar a fuga, mas rasto do Dr. Bernardo não encontraram nada.
Pedro e Carlos regressaram a Lisboa, o assunto seria agora seguido pelos colegas do Porto.
A meio da viajem de comboio. Pedro acordou o colega que dormia descansado dizendo:
- Carlos, tenho a sensação de que o Bernardo comeu as papas na cabeça da ex-mulher e do amante. Eles serão condenados e ele andará por algum sítio paradisíaco, utilizando o nome de David Ferreira a viver à grande.
- Pois é e até acho engraçado. A mulher chorou nos braços do amante e ele estará feliz da vida.
- Sim e se tiver juízo duvido que alguém o venha a identificar. Quem havia de dizer.
Com aquele aspecto de homem sério enganou meio mundo. E a nós também, rematou Pedro.
- Olha proponho que no nosso currículo a investigação fique registada como o caso da Nuvem Negra. Não sei porquê, mas andámos também perdidos no nevoeiro, gracejou Carlos. Fechou os olhos e continuou a dormir.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA



Mural na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Desenho de MANUEL LAPA
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XV

Não conseguia dormir. Fechava os olhos e via ao longe uma mulher de vermelho. Já passava da meia noite quando resolveu telefonar para casa. Beatriz atendeu e bastou ouvir a respirarão do marido para ficar preocupada.
- Pedro, estás bem? O colega não está por perto para te ajudar?
- Beatriz não exageres, sabes como eu sou, não é novidade, estou cansado e nestas alturas não consigo dormir. Precisei de ouvir a tua voz, sabes que me faz bem. Desculpa só ter ligado agora mas estava mesmo à luta com as ideias que me assaltam a cabeça.
Estou à janela, lá fora quase não se vê vivalma e o ar fresco e húmido parece que me atenua a dor de cabeça.
- Estou mesmo a ver que estás à janela fumando cigarro atrás de cigarro, como é costume. Isso não te ajuda. Deita fora e continua a falar comigo. Sabes Pedro não é fácil a vida de um Polícia, eu sei, mas olha que a vida de mulher de Polícia é bem mais dura.
- É verdade mas tu tens os miúdos, dão muito trabalho mas depois quando te deitas está feliz a acabas por dormir bem.
-Pedro pensas que eu não sinto a tua falta? Quantos dias, quantas noites eu quase nem de vejo e sempre que estás envolvido nalguma investigação que te desorienta, estás ao meu lado sem te lembrares que eu existo, que preciso de ti, que gosto de falar e de fazer amor.
- Desculpa meu amor, eu vou mudar, prometo, murmura Pedro.
- Mas eu não quero que tu mudes Pedro, quero apenas ser também parte das tuas alegrias e das duas tristezas e sentir o carinho duma mão amiga no meu rosto. Lembras-te como eu gostava dessas gestos? Olha ainda gosto! Vai meu amor, vai dormir, amanhã é um novo dia e, quem, sabe terás as duas dúvidas esclarecidas.
- Até amanhã Beatriz, fiquei tão feliz por te ouvir. Vou sonhar contigo e com os nossos filhos.
Desligou, voltou para a cama e adormeceu profundamente.
Como combinado foi tomar o pequeno almoço ao café do costume. Desta vez chegara primeiro, Carlos entrou todo risonho, barba por fazer e sentou-se à mesa.
- Estou com uma fome que nem te digo. Esta nossa vida de trabalho que nem nos dá tempo para comer uma francesinha, e riu-se alarvemente.  
- Oh Carlos, poupa-me as tuas aventuras, esquece o cansaço e conta lá o que sabes.
- Chefe, primeiro preciso de beber um café duplo, senão deixo que os olhos se cerrem.
Bebeu o café e enquanto aguardava uma refeição reforçada, começou a contar:
- Fiz tudo o que recomendou. Tive sorte, encontrei na sede do Banco uma senhora muito simpática que se dispôs a ajudar. Falou ao telefone com uma amiga, Secretária da Administração que aceitou conversar comigo.
Naturalmente agradeci a colaboração da Mariana e prometi que voltaria para lhe dizer o resultado.
A Secretária da Administração era, como são quase todas, muito senhora do seu nariz. Já não era criança mas fazia os possíveis por disfarçar as rugas e ao longe, até conseguia. Era contudo muito educada, ouviu o meu pedido, identifiquei-me para a tranquilizar e pediu para aguardar na sala de espera. Já estava a ficar cansado, esperei mais de uma hora, quando a Dr.ª. Ilda regressou com um envelope que me entregou. Aqui tem senhor Inspector, disse ela, o dossier tem todos os dados que constam do registo do nosso antigo Director Dr. Bernardo.  Uma parte é em papel, eram registos antigos, mas os dados mais recentes estão computorizados e copiados para esta drive que também leva consigo.
Fiquei muito sensibilizado com a atenção da Senhora e utilizei todo o meu vocabulário para enaltecer a colaboração recebida. Mas frisei que estava a correr um processo de averiguações pelo que os dados que me dera e a nossa conversa teriam que ficar em segredo. Acenou  sim, prontificou-se a esclarecer alguma dúvida se necessário e saí para o gabinete onde encontrara Mariana.
Eram já horas de almoço e sugeri um jantar para lhe agradecer a ajuda e para meu espanto ela acedeu.
Depois fui para o quarto de hotel, não sem antes ter comprado roupa interior, não trouxera a suficiente, abri o envelope e retirei os documentos e gravei o arquivo na drive para o disco do meu computador.
- Chefe, estava tão entusiasmado a contar o meu dia e deixei a comida no prato. Chamou o empregado e protestou dizendo que os ovos estavam frios e o bacon esturricado. Mande lá fazer tudo de novo se faz favor!
O Empregado pegou no prato, murmurou qualquer coisa que não se entendeu e seguiu para a cozinha.
- Está calmo, espera pela comida, esquece as conversas de conquistador e depois analisamos os dados que conseguiste e tentamos casar essas informações com o que eu obtive. Mas sem ter tido o teu género de trabalho, concluiu Pedro.
- Ok Chefe, mas só lhe digo que vai ficar siderado com uma fotografia da mulher do nosso amigo Bernardo!
- Não me digas que é loira e veste um vestido vermelho. Acertei?
- Carlos engasgou-se com a comida que mastigava, dizendo no final:
-Acertou, mas há coisas que só eu sei, porque a Mariana me disse. Ficámos empatados.
- Eu já admitia, dizia Pedro, a nossa vida para o Porto foram tempo perdido. Aliás, até escrevi no relatório que ontem enviei para a direcção. E quando menos se esperava, um só dia, uma só tarde, fizeram a diferença. Hoje devemos conhecer a história.
- Também tenho essa esperança. Mas tenho que corrigir. A diferença não foi um só dia, uma só tarde, foi também, uma longa noite.







domingo, 15 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

GLÓRIA DE LISBOA
António Lino
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XIV

Ao abandonar o escritório especializado nas operações de lavagem de dinheiro,Pedro ficou, novamente, desiludido. Tinha a sensação de que andara a perder tempo ouvindo conversas que já conhecia de cor, especialmente  com a visita que acabara de fazer. Na realidade o escritório era apenas uma cópia da actividade conhecida como  o esquema de Ponzi, ou de forma popular,o banco da Dona Branca.
Quando falara em milhões os olhos da Dr.ª. Rosalina quase saltaram das órbitas. Na realidade aquele escritório era uma casa de usurários e nem faziam sequer ideia do tipo de operações que ele deixara como isco.
A visita redundara em nada,  seria fácil denunciar à Polícia aquele escritório e apanhar os responsáveis. Alguém iria ficar a perder, mas quem arrisca tem que se convencer que pode perder. O Inspector Florindo seria um deles?
Gibraltar era um paraíso fiscal que toda a gente conhecia. Mas domiciliar operações nos bancos lá sediados, não era actividade para principiantes. Uma sociedade de amadores, tipo da Dr.ª. Rosalina e marido, não passariam da porta de entrada.
O que mais lhe custava, era ter a percepção que andava às voltas com um crime de morte,  que a solução estava tão perto e que não conseguia pegar nas pontas.
Era fácil, pensava, o crime foi premetidado para baralhar,  dando tempo a alguém para  levantar dinheiro ou activos que a sociedade do Dr. Bernardo teria em carteira e depois desaparecer.
Estava mergulhado nos seus pensamentos e continuava a passear sem destino pela baixa da cidade. Era cedo para regressar ao hotel. Passou por uma cafetaria na Avenida dos Aliados, tinha um espaço envidraçado que dava par a rua, entrou e escolheu uma mesa com vistas para o movimento. Pediu um café e uma aguardente velha  e reparando que estava numa zona permitida a fumadores, aproveitou, acendeu um cigarro e por momentos ficou olhando para os carros que paravam no sinal vermelho, que protegia uma passagem de peões.
Pediu a conta e enquanto retirava a carteira para pagar, reparou numa senhora alta e loira, com um casaco de peles, comprido e de bom corte e que aguardava passagem. Teve o pressentimento que aquela silhueta lhe não era desconhecida, deixou uma nota de vinte euros em cima da mesa, nem esperou pelo troco e saiu correndo para a rua.
Quando chegou à passagem de peões o sinal já estava vermelho, as transeuntes já tinham atravessado, deu uma corrida entre os automóveis que começaram a circular, ouviu um coro de buzinadelas e algumas palavras pouco agradáveis mas esqueceu. Agora circulava por entre a gente que se dirigia para o transporte de regresso a casa. Da senhora que vislumbrara, nem sinal.
Atravessou o jardim e preparava-se para atravessar a faixa ascendente da Avenida, quando um Mercedes com motorista que subia lentamente a rua, parou e a senhora que tinha perdido de vista, entrou no automóvel que arrancou e se perdeu no trânsito. Mas agora Pedro sorriu, o pressentimento confirmara-se. Ele reconhecera a mulher, já a vira e não havia muito tempo. Não era loira, nem vestia como agora, um vestido vermelho debaixo dum casaco de peles. Aquela mulher estivera no seu gabinete em Lisboa depois de ter reconhecido como sendo do marido o cadáver encontrado no Guincho. Dera o nome de Luísa Maria Magalhães Esteves dos Santos. Quem diria, murmurou Pedro, como está  mudada. 
Abanando a cabeça de incredulidade apontou a matrícula do Mercedes.
Ligou para Lisboa de uma cabine pública. O colega que o atendeu, um velho companheiro e amigo, não fez perguntas. Ouviu o número da matrícula e o pedido para que o mesmo fosse investigado. Depois devia mandar a informação por correio electrónico. Raul tenho urgência em receber notícias, acrescentou Pedro.
- Fica descansado, vou já tratar do assunto. Entretanto quando puderes liga ao Dr. Dionísio, o homem do Laboratório. Ele anda fulo não te encontra e nem respondes no telemóvel.
- Está bem, eu vou falar com ele.
Regressou ao hotel, eram horas de jantar mas estava excitado e não podia perder tempo.
Abriu o computador, viu as últimas mensagens, mas ainda não recebera a resposta sobre os dados da Mercedes.
Aproveitou para redigir o relatório para o Director sobre o estado da investigação. Deu conta de todos os indícios já recolhidos, identificou crimes financeiros e fiscais que envolviam gente da Polícia. Pedia o acordo para continuar a investigação por mais algum tempo, pouco, findo o qual estaria em condições de solicitar a emissão de mandatos de busca e detenção. Fez o envio.
Redigir o relatório ocupou-lhe bastante tempo. Quando acabou lembrou o pedido do Director do Laboratório de Investigação Científica e ligou pelo telefone fixo do quarto.
Do outro lado o Dr. Dionísio estava fulo, protestando que perdera muitas horas de volta dos equipamentos que ele lhe deixara e afinal o resultado era próximo do zero.
Especificou o pouco que conseguira:
- O iPhone estava completamente virgem e apenas num dos CD encontrei o rasto do que parecem ser duas ou três páginas de uma lista telefónica. Os números estão apagados mas os alguns dos nomes ainda se conseguem  ler. As moradas não tanto, estão quase sumidas, mas pelos nomes percebemos  que podereria seria uma lista telefónica de um País de lingua Espanhola, muito provávelmente da América Latina. 
Pedro agradeceu a ajuda e pediu um outro favor:  
- Dionísio, peço mais um favor, tenta enviar o CD para o meu correio electrónico! 
O colega  resmungou qualquer coisa que não se percebera e desligou.
Enquanto ao telefone, deu pela chegada de duas mensagens no correio electrónico. A primeira, do Carlos dizia que estava no bom caminho e que se estava a divertir com sucesso.
A outra era do Raul que enviava os dados do Mercedes. A viatura tinha um só registo, sinal que fora comprada nova, tinha seis meses e estava no nome de Frederico Magalhães e tinha a morada numa rua da Maia.
Pedro respirou fundo, o mistério começava a tomar forma e eram a de uma mulher vestida de vermelho.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

Guilherme Camarinha
ALEGORIA AO VINHO DO PORTO
MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE


CAPÍTULO XIII

Já entendi, temos de seguir o dinheiro, repete Carlos enquanto caminha para o restaurante que o Álvaro lhes havia recomendado. Não ficava longe e tinha salas que ofereciam alguma discrição. E acabamos a comer num lugar reservado e aposto que as pessoas são capazes de nos julgar um casal de namorados. Não, não gosto do lugar, repetia Carlos com aborrecimmento.
Pedro ignorou, entrou no restaurante e pediu uma mesa num reservado no primeiro andar.
Para completar o desagrado de Carlos o dono do restaurante que os acompanhou, era muito educado mas parecia pertencer à confraria a que ele chamava Opus Gay.
Sentou-se contrafeito e abanava a cabeça em sinal de insatisfação. Se fosse outra pessoa ir-me-ia já embora, confessou.
Pedro não deu muita importância, mas sublinhou que se estavam ali era porque o Álvaro os havia aconselhado. E terminou dizendo:
- Não protestes o Álvaro é teu amigo e não meu.
Encomendaram o almoço, que Carlos comia com evidente prazer. Afinal dizia ao menos a comida era boa.
Pedro pelo contrário quase não tocara no prato. Estava ausente, mergulhado nos pensamentos, quiçá procurando o fio da meada.
Já Carlos pedira os cafés quando Pedro rompeu o silêncio a que se tinha remetido.
Carlos, hoje vamos ficar no Porto e o programa é o seguinte:
Tu vais até ao Banco onde o Bernardo trabalhava, fala com a Direcção de Pessoal e tentas obter a ficha, que deve existir, do Dr. Bernardo. O banco deverá ter os dados actualizados até à data em que ele saiu, certamente teria cartões de crédito e cartões de visita onde para além da identificação deviam ter fotografias. Não procures o Doutor Silvestre com que estivemos no primeiro dia. Usa o teu encanto, tenta conhecer uma secretária disponível e desejosa de conversar. Eu acho que se quiseres consegues captar a confiança. Podes ter sorte e fazeres amizade com uma mulher que te diga mais alguma coisa útil sobre o nosso amigo.
Eu vou falar com aquele figurão que nos espiou quando estivemos a almoçar com o Florindo. Tenho a morada que me deste e vou apertar com ele.
Se for preciso algum contacto manda mensagem ou correio electrónico. Caso contrário encontramo-nos amanhã ao pequeno almoço naquele café onde hoje estivemos.
E se não acontecer algo de novo, regressaremos a Lisboa. Confesso que começo a ficar farto das pessoas que aqui encontramos que sabem tanto que até me assusta, mas que depois o que dizem vale pouco ou quase nada. 
Terminado o almoço, cada um seguiu o destino combinado.
Pedro foi à morada pretendida, era um edifício de escritórios com muitas placas identificativas. Numa encontrou o que procurava. O escritório em nome de  Peres & Lima – Consultores Associados, situado no piso quinto letra F. Olhou para o relógio, eram quase quinze horas, tempo adequado para uma visita.
Tocou a campainha, a porta foi aberta e recebido numa pequena sala de visitas por uma senhora que se apresentou como Rosalina Lima, sócia da firma. A recepcionista faltara naquele dia e era ela que recebia os clientes.
Com sorrisos a Dr.ª Rosalina, como constava do cartão de visita, acompanhou o Pedro ao gabinete, amplo e decorado com requinte e fez questão de se dizer que para além de sócia principal, os negócios mais importantes passavam pelas suas mãos. Em que o posso ajudar?
Pedro não se identificou,  foi dizendo:
-A senhora sabe que na minha actividade é preciso muita descrição. O vosso nome foi-me recomendado por um amigo de confiança e por isso aqui estou. No meu negócio sou obrigado a manobrar verbas muito significativas. Gosto que o dinheiro esteja sempre à minha disposição, num Banco sediado no Luxemburgo ou na Suíça. A conta deverá ser numerada e permitir a sua mobilização através da Internet. O que é que sugere?
- Meu caro, vamos esquecer os nomes, nós podemos garantir o serviço que nos pede. Naturalmente a operação terá um custo elevado, dependendo do seu montante, poderá ser da ordem dos vinte por cento. E de quanto é que estamos a falar?
- Dependerá como imagina, uma parte será gerada em Portugal e andará na casa de cinco milhões de Euros por mês. Mas a maior parte, chegará ao banco de destino, através duma sociedade de capital de risco. Em média poderão esperar movimentos líquidos de vinte milhões de dólares por mês.
Pedro captou cobiça nos olhos da sua interlocutora. Ela ficou agarrada à cadeira como se a surpresa lhe tivesse tolhido os movimentos. Foram apenas alguns segundos, logo esboçou um sorriso afirmando:
- Nós estamos habituados a todo o tipo de operações, eu percebi o que pretende e temos capacidade para o aconselhar a montar o esquema.
Lidamos com operações de todo o tipo, algumas  de valores semelhantes, e estamos no mercado desde há pelo menos dez anos e nunca recebemos qualquer queixa. Para segurança mútua, costumamos elaborar um contrato simples, em apenas dois exemplares. O nosso  será mantido fora dos nossos arquivos. Temos um cofre bancário para o efeito. Se pretender poderemos indicar o Banco mais conveniente para guardar o seu exemplar.
- Sim é uma boa ideia, não tinha pensado nisso, eu tenho o cofre em casa o que não me dá muita segurança.
- Então eu recomendo o Banco Nacional de Gibraltar. Vai ver que será muito bem recebido.
Eu terminei Dr.ª Rosalina. Vou hoje para o estrangeiro e estarei de volta da próxima sexta-feira. Nessa altura assinaremos o contrato e procederei à entrega da primeira tranche do valor a circular. Pode ser assim?
- Claro que pode, eu falo com o meu sócio para que ele também esteja presente. A sua enbtrega será em numerário, calculo? Sim, então combinamos para a mesma hora?



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

CRUZEIRO SEIXAS

MANUFACTURA TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XII

Carlos conhecia bem a cidade, ali estudara e fora ali que começara o seu trabalho. Vamos de metro e depois vamos a pé. Assim quem nos quiser seguir, o que só por precaução admito será fácil de despistar.
Tinham começado a caminhar para a paragem do metro quando Carlos recebeu uma mensagem. Álvaro dizia que se encontrariam no café Luso.
Café Luso murmura Carlos, pensava que já nem existia, mas o caminho para lá será melhor de táxi.
Assim fizeram e numa mesa perto da entrada encontraram o colega que os aguardava lendo o jornal desportivo. Carlos aproximou-se e comentou:
-Eh pá não sei para que estás a ler, o jornal só fala da vitória do Benfica?
Deixa isso, apresento-me o meu chefe o Inspector Pedro Gonçalves e vamos lá falar de assuntos sérios.
- Tens razão meu amigo, falar de assuntos sérios! Mas até no futebol também os jornais desportivos têm os seus critérios. Este só fala do Benfica e lá para o fim deixa uma página para falar do FCP. O Pinto da Costa é que os conhece bem.
Aquela hora o café estava quase vazio pelo que puderam falar sem rodeios. Pedro abriu o computador portátil onde guardara as fotografias do cadáver, da mulher que o reconhecera como marido e as fotos dos clientes da Empresa do Dr. Bernardo, que o porteiro havia tirado.
Peço-lhe, dê uma olhada e diga o que pensa. Alguns dos clientes do Dr. Bernardo, são pessoas conhecidas e você, Álvaro poderá confirmar.
Este começou a analisar as fotos, que Pedro havia numerado, e num bloco de notas que retirou do bolso, começou a assinalar algumas das fotografias.
Não contente voltou a percorrer todo o arquivo, completou ou corrigiu um ou outro apontamento.
Acabou olhou para os dois colegas dizendo:
- A minha principal actividade tem tido a ver com o branqueamento de capitais. Vocês sabem como é que as lavandarias funcionam pelo que não vou perder tempo com o assunto.
Mas por força das pesquisas da minha pequena equipa conseguimos traçar o caminho utilizado e as pessoas envolvidas. E nesta procura acabámos por chegar a outro negócio ilegal porque o dinheiro movimentado corresponde a rendimentos legais que não são colectados, fuga ao fisco e até avultadas somas em dinheiro vivo, provenientes de outra fonte, a corrupção.
Todo o dinheiro envolvido nestas histórias precisa de acompanhamento para que se não perca no caminho. Alguns  Bancos através de sociedades offshore, gerem uma grande fatia do negócio, mas as Sociedades de Investimento e ou os Fundos de Investimento são mais efectivos, menos exigentes e  por aliciam os clientes para operações de risco.
No estudo que conseguimos desenhar,identificamos mais de uma dezenas de organizações para bancárias constituídas por quadros que abandonaram os Bancos ou continuam a eles ligados, através dos tais veículos onde se acomodam prejuízos ou lucros, consoante for o caso.
- Desculpe lá a minha interrupção, diz Pedro Gonçalves, nós percebemos os mecanismos, mas onde é que entra o nosso caso? Lavagem de dinheiro ou uma nova Dona Branca como eu receio?
- Pois é caro Inspector, pelas fotografias que assinalei e porque alguns dos intervenientes são do nosso conhecimento, eu diria que o vosso caso tem as duas componentes. E estendeu a folha onde havia escrito os nomes de alguns dos fotografados.
- Como assim, pergunta Carlos?
- É fácil, dos clientes do escritório do Doutor Bernardo, muitos dos quais eu vi nas vossas fotografias, são aforradores ambiciosos, vi por exemplo o Dr. Florindo, que se arriscam para terem um lucro maior. Esses são o esteio da actividade a que chamou da Dona Branca, mas outros são de outro calibre. São gestores de Fundos Imobiliários e Mobiliários que foram aliciados para os benefícios dos paraísos fiscais ou, os mais perigosos, empresários ligados à circulação da droga pelos portos nacionais e o seu encaminhamento para o mercado distribuidor, no norte da Europa. São importadores e exportadores e responsáveis pela gestão dos milhares de milhões que o negócio movimenta.
O escritório do Doutor Bernardo geria as duas actividades.
Agora deixa-me continuar e corrija o que estiver mal, propôs o Inspector Gonçalves:
- O Doutor Bernardo meteu-se numa camisa de onze varas, certo? Com a crise nos Bancos estes e os Fundos a eles ligados ficaram à beira da falência. Aos Bancos os respectivos Governos deitaram a mão mas os Fundos ficaram de fora. Alguns porque estavam nos tais veículos que os Bancos não reconheciam nas suas contas, outros porque fugiram por terem apostado e perdido. Os que se salvaram enriqueceram cada vez mais os outros deixaram muita gente aflita.
O Doutor Bernardo escolheu esconder-se. Encenou a sua morte, arranjou algum desgraçado para morrer por ele e com os capangas de confiança sumiu.
Estará no Brasil? Em Porto Rico? Ou, quem sabe no Uruguai. Aceito apostas, terminou.
- Chefe quer dizer que a mulher loura e o homem que contrataram os assaltantes para o Guincho eram parte da encenação ou também haviam sido enganados?
- Pois é o que temos de descobrir, mas acredito que eles eram comparsas trabalhando para o mesmo objectivo. Fingir a morte do Dr. Bernardo, concluiu Pedro.
Meus amigos, diz Álvaro que até ali se mantivera calado, na minha opinião vocês estão no rumo certo, mas ainda terão muitos passos para dar.
Sim, é verdade, devemos seguir o nosso instinto mas, como dizia o velho professor na Academia, quando não souberem o que fazer, sigam o dinheiro. É isso que faremos.

domingo, 8 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

Aguarela de Guilherme Camarinha
MANUFACTURA DE TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE

CAPÍTULO XI

Como era habitual quando sentia alguma areia na engrenagem, Pedro Gonçalves, não estava nos seus dias. Falou para casa e a mulher, que tão bem o conhecia, notou logo alguma ansiedade na sua voz. Falou com os filhos, dois rapazes gémeos que lhe deram notícias da escola, como era hábito iam bem. Laura, a mulher recomendou uma noite bem dormida, era o que precisaria para  lhe aclarar o raciocínio. Contudo com os nervos que noto da tua conversa, receio bem que os meus conselhos não sirvam para nada, rematou.
Esteve na janela, fazia já algum frio, abriu uma nesga apenas para fumar um cigarro, e mais outro, porque começara a ter dúvidas de que o caminho que levava fosse o correcto. Mas eram apenas sinais, algum desconforto, nada mais.
O quarto tinha uma pequena mesa tipo secretária, instalou-se balanceando o corpo para trás e para a frente. Abriu o portátil e começou a rever, em traços largos, todos os apontamentos que havia coligido durante a sua investigação, desde a sua chegada junto do corpo tombado sobre o volante até ao interrogatório do assaltante ferido, vítima de uma encenação que havia custado a vida do companheiro.
Foi passando em slide todas as fotografias que guardara e de repente parou. Franziu o sobrolho, voltou a passar todos os apontamentos, refez o visionamento das fotografias do automóvel e do corpo, mas aquela campainha, sinal de alarme que sentira, não se repetiu. Fez uma nova passagem do filme e num repente encontrou a razão que lhe fizera todo o frenesim e não o deixava sossegado. E fora uma simples palavra, que não lera nos seus apontamentos mas que no seu subconsciente já bailava embora de forma difusa. Encenação, era esta a palavra que havia disparado o sinal e, como agora tudo lhe parecia mais claro.
A morte do indivíduo no carro nas arribas da praia, reconhecia agora,  teria toda a configuração de um acto encenado.
Mas como é que eu me deixei conduzir, perguntava-se? Os vestígios, como o Iphone encontrado nas arribas, a chave do cofre, o saco com os CD virgens ou com um filme para crianças, teriam sido provas plantadas fazendo, naturalmente, parte da encenação.
Olhou para o cadáver e releu o relatório da Polícia.
O agente assinalara que o corpo estava tombado sobre o assento dianteiro, fez até um desenho do corpo da vítima, e escreveu que a morte fora provocada por um tiro à queima roupa, as queimaduras na testa eram bem visíveis, com a bala a ter sofrido um desvio, dado que lhe penetrara na face direita e ficara alojada junto do ombro.
Pedro raciocinava agora muito rapidamente. Se o tiro fora disparado por alguém sentado ao lado do condutor, o sendo o tiro, confirmado no relatório da autópsia, feito por uma pistola de nove milímetros de calibre, por força do impacto a cabeça teria um impacto contrário e estaria tombada para o lado contrário, o lado esquerdo.
Até o relatório do Polícia era bem claro. Nem num lado nem no outro havia vestígios de sangue.
A conclusão só podia ser uma. A vítima, já não arriscava dizer o nome, fora executada noutro lugar, transportada para aquele automóvel e o tiro que o Fernando ouviu e o fez fugir com o companheiro foi um tiro para simular o crime. Fernando ter-se-á apercebido da armadilha, fugiu antes que a mulher e o homem que o haviam contratado o tivesse conseguido incriminar.
Por algo que não conseguira ainda entender, o casal que negociara o encontro com o Fernando precisava de criar um cenário de ajuste de contas. E Fernando seria o actor ideal.
Momento a momento mais desperto, julgava agora perceber algumas lacunas de que não se dera conta. No relatório da autópsia, a hora da morte fora estimada para o intervalo entre as doze e as quinze horas e o depoimento do LuísTavares dizia que o encontro no Guincho se dera ao anoitecer. 
Agora, Pedro nem se arriscava a dizer que o corpo encontrado fosse o do Doutor Bernardo. Isso significava que a mulher que identificara o corpo, e o havia transportado para ser sepultado, mentira. Faltava descobrir a razão e isso seria tarefa para amanhã.
Conseguiu descansar uma ou duas horas. Ansiava por falar com o Carlos para combinarem a investigação do dia seguinte.
Acordou com o som do telefone. Deu um salto e atendeu.
Do outro lado era o Carlos que lhe lembrava que estava há mais de uma hora à espera para tomarem o pequeno-almoço como combinado de tal modo que até o empregado da pastelaria já o olhava desconfiado.
Pedro pediu mais meia hora. Foi uma corrida para tomar o duche, fazer a barba e escolher e vestir a roupa. Fechou o computador, guardou-o na mala e saiu correndo ao encontro do colega.
Sentou-se na mesa, o empregado tomou nota do pedido, Carlos apenas decidiu beber um outro café enquanto olhava para o ar ausente a cansado do companheiro.
Não resistiu e comentou com um sorriso irónico:
Meu amigo Inspector Pedro, acha bem que um oficial da Polícia, casado e com filhos passe a noite num lugar menos adequado e numa companhia de ocasião?
Antes fosse, antes fosse, respondeu Pedro. Passei a noite quase em branco a matutar no assunto que aqui nos trouxe. E cheguei a um ponto que me deixou não desiludido comigo mesmo que só me dava vontade de gritar bem alto, és um burro.
- Oh chefe não me digas que começaste a ligar pontos e chegaste à conclusão que andamos a ser dirigidos e enganados!
- Sim é isso que agora penso.
- Pois eu também fui assaltado pelas dúvidas, lembrei-me de um colega muito amigo que fora transferido para a Directoria do Porto e liguei a marcar um encontro. E eu sim, passei um bom bocado da noite num clube nocturno muito bem frequentado.
O Álvaro Pinto é subinspector responsável pela área do branqueamento de capitais.
Então eu pensei que antes de interrogar a mulher do Doutor Bernardo, talvez fosse mais aconselhável um encontro entre nós. Não te disse nada, no sítio onde estava só podia utilizar o telemóvel, que tu recomendaste não fizesse.
Se estives de acordo ele aguarda-nos no gabinete às dez horas da manhã. E recomendou, não queria nenhum contacto com o Inspector Florindo Matos. Ele é uma peça insignificante e está referenciado pela própria Polícia. Mas goza de alguma protecção, percebes.
- Carlos fizeste bem, vamos ao encontro. Até porque eu não acredito que consigamos encontrar a mulher do morto. A esta hora a família deve estar de férias do estrangeiro, rindo da nossa cara de parvos. Acreditas?
- Que somos parvos? Sim temos sido, mas lembra-te, quem ri melhor é quem ri por último.




quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

UMA NUVEM NEGRA

GRAÇA MORAIS
O sagrado e o profano
MANUFACTURA DE TAPEÇARIAS DE PORTALEGRE


CAPÍTULO X

Pedro cumprindo o que havia combinado regressou à cidade do Porto. Em Campanhã tomou um táxi e seguiu para um hotel que conhecera, há muito tempo, situado na Avenida dos Aliados. Não tinha nada de especial, apenas ficava perto do hotel onde o Carlos continuava hospedado. Facilmente se encontrariam, mesmo andando a pé. E foi logo à chegada que da cabine telefónica ligou para combinar o encontro. Seria na Avenida perto do Edifício da Câmara Municipal.
Entretanto Carlos havia copiado o arquivo fotográfico que o porteiro lhe havia entregue e partilhou as dezenas de fotografias que o arquivo continha, em correio electrónico que enviou para o seu computador pessoal e para a caixa de correio do Inspector Pedro Gonçalves.
Depois no centro de negócios do hotel, alugou uma impressora lazer e imprimiu todas as fotografias. Organizou um dossier que guardou no cofre do quarto.
Jantaram juntos e foram até ao Aeroporto. Percorreram a zona de chegada mas não encontraram qualquer cacifo reservado aos viajantes. Perguntaram mas não havia nada que se parecesse.
Desistiram, regressaram à cidade. Quando desceram perto da Estação de São Bento, deram uma espreitadela mas também ali não encontraram os cacifos que esperavam.
Pedro retirou a chave do bolso, olhou-a com mais atenção comentando:
- Já te aconteceu estares tão convicto duma razão que te tenhas esquecido do mais óbvio?
- Quantas vezes, e olha que perdi horas a tentar perceber o porquê de uma determinada situação, quando a solução era tão evidente que a tinha rejeitado. Estás a pensar assim com causa da chave, não é?
- Pois, meti na cabeça que este tipo de chave corresponderia a um cacifo num aeroporto ou numa gare de caminho de ferro e nem voltei a pensar em outra alternativa. Mas agora, depois da viagem para nada, tropecei com a evidência. Então ao Bernardo, que foi tantos anos funcionário de um Banco não lhe seria mais fácil e cómodo ter um cofre alugado? E porque não no banco onde trabalhou e teve altos cargos com responsabilidade?
- Percebo, diz Carlos, mas só temos a chave e não acredito que o cofre a existir tenha sido alugado no seu nome, pois acredito que quando ele saiu do Banco toda a sua história foi investigada. Não foi isso que o tal Director Doutor Silvestre nos disse? Mas ou me engano muito, ou este desconfiava da existência desse cofre e não nos disse por interesse ou porque  não sabe onde é e nem que será o titular.
- Tens razão mas estou cá a pensar, diz Pedro. O Bernardo era um homem sabido e esperto mas que se deixou enredar numa aventura e acabou preso numa ratoeira. Quem era a pessoa em que ele confiaria em caso de dificuldades?
- Agora percebo senhor Inspector, diz o Carlos com ar trocista, andámos os dois a dormir na forma. Se eu, casado e com filhos, me deixasse apanhar pelos olhos duma loira sabida e treinada nas técnicas da sedução, poderia embarcar na viagem mas teria colocado o cinto de segurança. E essa segurança faria todo o sentido para proteger a família. Meu caro Sherlock, o cofre estará num outro Banco, quero crer, mas em nome da mulher, mãe dos filhos. Só assim faz sentido.
- Elementar meu caro Dr. Watson, tão elementar que apostaria, terá razão.
Carlos, no meu computador está registado o contacto com a Dona Luísa Maria Magalhães Esteves dos Santos. Amanhã pela manhã arranjarei um pretexto qualquer para combinar uma visita particular. No final apresentaremos o dossier com as fotografias. Estou curioso para ver a reacção. Além de que quero que ela nos conte algo, que receio ter esquecido quando ela foi reconhecer o corpo do marido.
Pedro, eu vi a senhora de relance, não me pareceu uma viúva inconsolável nem com problemas de dinheiro.
E se a senhora também for cúmplice do crime?  
Por favor Carlos, não digas mais nada ou não vou conseguir dormir a pensar nos meandros em que nos andamos a meter. Parece que a nuvem é cada vez mais escura e já não sei se vejo uma luz ou o clarão de um relâmpago.