domingo, 30 de junho de 2019

QUATRO SONHOS -AMOR









                                                       QUATRO SONHOS


                                                               A M O R
  
                                     
                                                      A CASA NA COLINA








 


5 – POEMA DE AMOR


 


 


Aquele momento, fora o encontro de dois corações desesperados. Fora uma vertigem que passou como uma nuvem perdida.


 Joana saiu correndo. Luís ficou sentado controlando as emoções.


“Quem diria que eu, desiludido na vida, fugindo à procura de um lugar calmo para viver o resto dos dias, passados três do início do caminho, iria viver um momento tão emotivo, tão apaixonado? Ele que já havia esquecido o amor e o sexo, entregaram-se como se fosse o primeiro dia, do primeiro amor.


Ficou no lugar onde ainda sentia o calor e o cheiro daquela mulher que lhe deixara marcada na pele os sinais de desejo e de angústia. Ficou revivendo aquele momento.


Fechou os olhos mas não conseguia dormir. Precisava de um calmante que o médico lhe aconselhara para um batimento acelerado do coração. Desceu, abriu a caixa dos medicamentos, encontrou o calmante que tomou e, enfim, enfim descansou.


Acordou cedo, barbeou-se, tomou um duche rápido, a água estava mesmo fria, limpou-se com energia e sentiu de novo o calor. Vestiu uns calções e uma camisola leve, calçou ténis e desceu.


Joana não estava na sala, mas tinha deixado uma chávena, pão e manteiga e no fogão a cafeteira que ainda fumegava. Serviu-se, generosamente de café, comeu uma fatia de pão com queijo, e sentiu que a felicidade chegara.


Sentia-se leve e sedento de companhia. A noite, aquela primeira noite, seria o prenúncio dum verão escaldante, talvez o maior e mais intenso. Até quando? Ah isso não sabia nem queria saber. Seria até ao fim.


Ouviu o ruído da motoreta, saiu à rua e Joana já o esperava sentada ao volante e avisando:


 


- Hoje está um dia de sol que me desafia a ver as árvores a florir, o trigo a crescer, o canto dos pássaros, enfim a Natureza é a minha confidente e companheira. Convido-o para ficar a conhecer o meu mundo mas ficará num local à sua escolha e eu irei fazer o meu trabalho. Levo um farnel para si e de for do seu agrado, traga um livro, daqueles que eu vi no seu saco de viajem, e espere por mim.


Luís voltou a casa, abriu o saco dos livros e escolheu o livro que poderia ser a história da sua vida. Vinte Poemas de Amor e uma Canção desesperada. Autor, Pablo Neruda.


Com os solavancos pelo caminho, Luís sentiu o mesmo desejo que perfumara a noite que não esquecera. Ele bem sentia a pele macia da companheira, por baixo dos seios soltos. Isso excitou-o como há muito tempo se não sentia, e fazia-o desejar que a viajem fosse até ao fim do mundo.


Mas Joana parou à sombra de uma velha oliveira e explicou:


“ Esta oliveira marca a separação de três propriedades. Naquela encosta que se vê à esquerda, plantei um olival novo. São oliveiras plantadas há dois anos e que são regadas num sistema gota a gota. Pertencem-me e eu trato-as como se trata um filho. Dia sim, dia não, faço-lhe uma visita, falo com elas, limpo algumas ervas e sento-me numa pedra que me permite espraiar os olhos pelos campos e beber a magia do meu Alentejo. Esqueço as desventuras e os desgostos, porque como Luís deve calcular, também os sofri. Aprendi a viver a tranquilidade e a beleza da natureza e as oliveiras que plantei com suor, dar-me-ão os frutos que me ajudarão a enfrentar o futuro.


A seara que se estende daqui até aquele monte, e indicou uma elevação bem distante é minha e de meu irmão. Foi a herança que recebemos dos nossos Pais. Cultivamos o trigo ou outro cereal conforme o mercado ou se o ano for seco ou chuvoso. É o Manuel quem toma as decisões. Este ano, como choveu bastante semeamos trigo e é de esperar uma boa colheita.


Os terrenos que não estão cultivados são de pouca qualidade, embora seja neles que construímos duas pequenas barragens de terra, guardando a água das chuvas e de um pequeno regato que por ai corre. É uma zona pedregosa, cheia de flores selvagens, com o cheiro da esteva e da madressilva. Passo muito do meu tempo, estendida numa rocha, molhando os pés na água, e ouvindo o chilrear da passarada que aqui faz os seus ninhos.


O Luís escolha um lugar de que goste, ficará só enquanto eu vou beber o cálice da minha amargura. Demorarei tempo mas no final do dia passarei para o levar. Parou a motoreta, indicou ao companheiro a árvore que serviria de local para o encontrar no regresso, Luís desceu, caminhou e sentou-se na sombra do pinheiro.


 


Luís descansou algum tempo e começou a caminhar. Sem destino, foi guiado pelo pensamento que encontrou um pequeno grupo de madressilvas, com as flores chamando as abelhas que voavam sugando o néctar. Ficou fascinado, para um citadino não seria fácil reconhecer a beleza do trabalho das abelhas operárias, duma sociedade perfeita.


Avançou, escorregou e caiu na água da pequena lagoa que as madressilvas escondiam. Ficou encharcado, voltou para o local de onde partira e deitou-se aproveitando o sol que, mesmo ao entardecer dum dia de Abril, lhe dava o conforto que há tanto procurara. Precisava de calor, no corpo e no coração. Afinal, quando esperava o sinal de partida, encontrou prazer, ternura e amor. Tremeu pensando: Estarei sonhando e tudo será, apenas, uma nuvem passageira?


 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

QUATRO SONHOS - AMOR







                                                QUATRO SONHOS




                                                          A M O R

                                            A CASA NA COLINA








4 - PAIXÃO


 


Luís hesitou, não sabia o que dizer, mas abriu o coração.


-“ Joana, perceba que um homem desiludido, doente, e carente de paz interior como eu, não podia assistir ao desmoronar dum sonho. Mas acredito que os sentimentos podem fazer renascer a esperança, e por isso me rendo. Vou cumprir o destino que aqui me trouxe, nesta colina, nesta casa, olhando o infinito que adivinho para lá daqueles montes. Já agora não me chama de senhor, o meu nome é Luís. Digo que já decidi ficar, não conseguirei viver na casa, preciso de recuperar das emoções e esperar os arranjos que terei de mandar fazer. Até lá, ficarei debaixo daquela árvore que já me estendeu o seu braço protetor.


-“ Aceite a minha sugestão, respondeu Joana, eu vivo na aldeia, ocupo a casa que os meus Pais me deixaram, tenho o primeiro andar livre e ainda um pequeno terraço. Também tenho umas vistas bonitas e o terraço pode servir para os seus exercícios matinais, já que não há casas mais altas na cercania. Ninguém irá reparar se está nu ou em cuecas.


Pode ficar o tempo que quiser até à conclusão das obras, na sua nova casa. Quando o convidei não pensei em fazer negócio. Eu apenas quero ajudá-lo.”


-“Mas o seu irmão e a vizinhança acharão bem que você partilhe a sua casa com um homem, para mais desconhecido, retorquiu Luís?”


“- Com isso não se importe, sou maior e vacinada e faço a vida de acordo com a minha maneira de ser e não tenho de prestar contas a ninguém. Sou livre como o vento. Respeito as pessoas, ajudo os que precisam mas mantenho sempre alguma distância que não é preconceito, mas apenas a defesa dos sentimentos e emoções que são apenas meus e não costumo partilhar. O meu irmão, único familiar próximo, entendeu a minha vontade. Também ele tem casa própria, terá amigas, nunca me disse que havia assumido algum compromisso duradouro, mas é a vida dele. Temos de trabalhar juntos, na época da sementeira e da colheita. Mas o trabalho é tanto, que nem dá para conversarmos.


Mas, antes de se decidir, quero dizer-lhe que o que lhe proponho é apenas espaço físico, alguma companhia mas a Joana não estará incluída no negócio. “


 Luís surpreendido com a afirmação não soube o que dizer. Apenas agradeceu e aceitou o convite.


Em silêncio, juntaram a bagagem, carregaram o atrelado e prepararam a descida da colina.


- “Luís, o atrelado não suporta mais peso, avisou Joana. Por isso o seu lugar terá de ser partilhado comigo, no selim do condutor. Agarre-se bem à minha cintura, pois não quero perdê-lo, logo a seguir a tê-lo encontrado.


A descida da encosta feita com razoável velocidade e destreza, obrigou Luís a colar-se ao corpo da condutora. Sentiu o seu calor, há quanto tempo não sentia o calor do corpo duma mulher, mergulhou o rosto na cabeleira farta e respirou o cheiro a alfazema.


A motoreta parou à porta de casa, mas Luís nem disso se apercebeu. Foi Joana quem com um sorriso irónico lhe disse:


 -“Pode largar-me, já chegamos.”


Luís estremeceu, como se acordasse dum sonho, soltou as mãos, desceu da motoreta e encostou-se à parede, pois com a descida, havia sentido uma tontura inabitual.


“- Olhe, disse Joana, eu tenho de ir à minha vida. Vá levando as suas coisas para o quarto do primeiro piso, será o seu enquanto quiser. Faça como se estivesse em sua casa.


 Só uma observação, dentro de casa não existem chaves nas portas. A única que existe é a chave da rua que está pendurada atrás da porta, mas não creio que precise de a utilizar.


Como é habitual, não sei quando irei voltar. O tempo para mim é marcado pelo sol ou pelas estrelas, não sou escrava das horas, aliás, nem uso relógio. Fique à vontade, em algum momento regressarei.”


Dito isto, arrancou a toda a velocidade e rapidamente desapareceu.


 


Luís foi transportando a sua bagagem para o quarto que Joana havia indicado.


Estava cansado, deitou-se da cama cerrou os olhos e sonhou.


O foi um sonho lindo. O calor do corpo de Joana acendera a chama da paixão.


Era o entardecer quando Joana espreitando pela porta o convidou.


“- Suba comigo para o terraço. Eu preparei uma refeição leve e, enquanto comemos, ficaremos olhando as estrelas.


Sentados no banco do terraço, Luís fixou os olhos na mulher que se sentara a sua lado, não resistiu e perguntou:  


             “- Joana, porque me olha assim? Se quer conhecer-me, pergunte o que quiser e eu responderei a tudo, com a verdade, prometo.”


            “- Eu não tenho dúvidas de que o fará, respondeu Joana, mas confesso que a sua decisão de vir habitar uma aldeia perdida no meio da planície e numa casa em ruínas, me faz pensar que, por uma qualquer razão que não conheço, mas pressinto, não gostarei de ouvir a sua história. Embora eu possa parecer insensível, a verdade é que, ouvir uma história triste despertará em mim angústias e dores que tento esquecer.


Sugiro-lhe que fale com o meu irmão sobre a recuperação da sua casa na colina.


Até lá é meu convidado.


A minha vida começa bem cedo. Percorro os campos, paro com alguma frequência para admirar um formigueiro, uma flor. Nesses momentos encontro-me comigo, relembro o que vivi e como vivi e faço-o em comunhão com o que de mais belo existe, a natureza.


Quando me quiser fazer companhia, já sabe é sair pelas sete da manhã e regressar pelas sete da tarde. O caminho é o que for. Descansaremos quando nos apetecer, refrescar-nos-emos nalgumas pequenas albufeiras, respiraremos o ar puro e o odor dos campos em flor.”


        “- Joana a minha vida não será um romance, aliás teria até muito pouco que contar. De qualquer modo o destino encaminhou-me para um lugar, que me fez lembrar a minha infância com o cheiro da terra e o brilho do sol. E como prémio o poder sentir o fascínio de uns lindos olhos verdes.”


Joana não escondeu um sorriso leve.


Agora olhava para Luís e sentia-se inquieta, e só ao longe, como um murmúrio ouviu que Luís, olhando no vazio, abria o coração.


Olharam-se nos olhos e num impulso Joana apertou a mão do companheiro, e beijaram-se. Um beijo leve que rapidamente se transformou num momento de paixão. Corpos unidos e sem uma palavra soltaram as emoções esquecidas. Amaram-se com loucura, partilhando calor, desejo, emoções, angústias e paixão.


No cimo da colina a casa que os juntara ficara só.


 

terça-feira, 25 de junho de 2019

QUATRO SONHOS - (AMOR)


                             QUATRO SONHOS

                                
                              AMOR

                      
                             A CASA NA COLINA

                      

                       

 3 – DESILUSÃO E FASCÍNIO

 

Quando o sol se escondeu, Luís, cheio de entusiasmo, decidiu ir ver a nova casa. Procurou a chave, abriu a porta e sentiu uma estranha sensação. Sentiu um arrepio e, rapidamente, voltou ao ponto de partida. Como sentira o cheiro dum ambiente estranho, não conseguiu controlar as náuseas que, como já lhe acontecera, seriam o prenúncio de muitas convulsões para conseguir expelir um líquido amarelo que lhe feria a garganta.

Abanou a cabeça, passara do entusiasmo ao desânimo. Aquilo não era uma casa, não podia ser a sua casa. 

Ficou sentado debaixo da árvore, respirou o ar puro, calou os vómitos e chorou. Perdido e sem força para lutar. Fechou os olhos e sentiu uma lágrima que se soltava. Mais uma esperança perdida. O vento era frio para quem não tinha grandes resistências. Escolheu roupa que transportava num saco, embrulhou-se e deu descanso a um corpo cansado e dorido. Acordou ao raiar da aurora. Sentiu que o seu próprio corpo exalava um cheiro que não conseguia suportar, Voltaram os vómitos. Precisava de mudar de roupa mas antes tinha que se lavar. Onde, perguntou-se?

Olhou em redor, a casa não era solução, mas no silêncio da manhã ouviu o chilrear dos pássaros. Seguiu o seu voo e ouviu como um chamamento, o som de água a correr. Foi ver e brotando de umas rochas na traseira da casa, encontrou um fio de água e um pequeno tanque. Nem hesitou, despiu-se, saltou para dentro e esfregou-se com toda a força. Só aguentou uns breves minutos, a água estava fria, saiu e correu à procura do sol. Foi no momento em que ouviu o ruído da motoreta que parava junto da sua bagagem. Olhou, não era o Manuel que a conduzia, mas sim uma mulher, ainda jovem, que se ria da figura que ele fazia, tapando a sua nudez enquanto tremia de frio.       

- Não fique envergonhado, já vi homens nus. Mas para ficar mais à vontade eu vou dar uma volta e volto já.
Luís vestiu-se, com roupa lavada e sentou-se no lugar de eleição
, debaixo da árvore, e quando a mulher voltou já tinha recuperado da situação insólita que acabara de viver. Todavia os seus olhos não escondiam a tristeza e a desilusão que a casa lhe causara. E eram tão marcados que a mulher parou na sua frente e disse com voz triste:

-“ O meu nome é Joana e sou a irmã do Manuel. Ele contou-me que a casa da colina já tinha um novo proprietário e eu quis ver, com os meus olhos a pessoa que escolheu aqui viver.

Percebo que o meu irmão que está sempre muito ocupado, talvez não o tenha avisado do que iria encontrar, logo que abrisse a porta.

Sinto que sofreu uma desilusão, certamente não esperava encontrar uma casa em ruínas, mas eu digo-lhe que a primeira impressão é para esquecer.
A casa precisa de ser recuperada depois de anos de abandono, mas acredite, se há casas com alma eu dir-lhe-ei, esta é uma delas.
Não acredito que o senhor seja homem para desistir. Pelo menos, dê oportunidade que o ocaso que o fez escolher este lugar, tão belo, tenha algum significado para si. O senhor foi atraído por forças que, talvez não tenha ainda reconhecido, mas que, pode crer, existem na natureza e na alma de cada um. Arrisco-me a prever que esta casa irá ter um papel na sua vida. Será um papel de felicidade ou de desesperança, isso caberá ao seu coração ir construindo.

Luís ouvindo as palavras ditas com um sentimento tão profundo fizeram com que ele, um náufrago da vida, esquecesse a doença e ousasse acreditar que a poesia que sentira nas palavras daquela mulher, que via pela primeira vez, poderiam ser o renascer da esperança. E ele precisava tanto de acreditar.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

1 - QUATRO SONHOS


                           QUATRO SONHOS


                      

                       AMOR
                           


                              A CASA NA COLINA
 

3 – O paraíso

Acordou sentindo a brisa suave da tarde que se aproximava. O silêncio, a calma, eram o remédio que procurava para as suas dores. Respirou fundo, bebeu o ar puro e sentiu que o Paraíso seria ali, naquela aldeia perdida na imensidão do seu Alentejo.


 Olhou em redor, Não avistava movimento ou pessoas. sentiu a dor ao constatar,o que já lera nos jornais que ainda mereciam ser lidos,que o Alentejo interior estava quase deserto . E sentiu pena. Tal como ele, também aquela terra, tão bonita, estaria já condenada.
Olhou o relógio, eram quase cinco horas da tarde e ainda nem sequer sabia como iria chegar à casa da colina, a sua future casa. Teria de ia subindo, carregando malas, as que conseguisse, e depois voltaria a descer para  outro carregamento. Mas pergunta-se, terei forças para subir aquele monte? Duvido murmurou.
Entretanto do meio da angústa que já começara a sentir, teve um golpe de sorte.



“Vossemecê parece perdido. Posso ajudar?

Aliviado por encontrar alguém, Luís esboçou um sorriso e respondeu:

“ Sabe, eu estava era admirado por não ver ninguém. Até pensava que me tinha enganado no destino.  Porque com o meu entusiasmo esqueci de procurar transporte para o monte onde está minha futura casa  e as forças já não me pemitem grandes aventuras.Receio não conseguir!
 

Então o senhor vem para ficar e presumo na casa da colina que ouvi dizer ter sido vendida?”

“- Sim e fui eu quem a comprou. Queria um lugar isolado, onde pudesse encher os pulmões de ar puro e beber a paisagem. Não encontrei nada melhor e por isso aqui estou, contente, mas embaraçado com tanta bagagem que não sei como transportar.”

O meu nome é Luís “

Meu amigo, isolada a sua casa é. Respirar ar puro e admirar a paisagem também lhe vai ser fácil, mas a casa está desabitada há muito tempo, poderá encontrar algumas limitações ao conforto em que terá vivido. Nada, porém, que não possa ser resolvido. Mas, acredite o que lhe digo, os primeiros tempos não serão fáceis. O acesso também não o será, pois se bem me recordo, existe apenas um carreiro, que deve estar em mau estado, e que era utilizado, por uma carrocita pequena, puxada por um burro, quase tão velho como o casal que lá habitava, e lá morreu. Não o quero desmoralizar, o sítio é muito bonito, de verdade, mas também vai encontrar dificuldades. Por exemplo e para já, não terá acesso ao abastecimento de água, à distribuição de energia elétrica e para ajudar não existe rede para o funcionamento de telemóveis. O abastecimento de água será o menor dos males. Tem, ao que eu me lembro, uma nascente de água mesmo perto da casa, com um pequeno tanque de reserva. E o resto terá de se habituar. Porque garantido, só terá a calmaria dos dias no Alentejo e a solidão como companheira. Eu poderei ajudar, passarei para o visitar, dia sim, dia não. Pode passear e deixar escrito num papel, pregado na porta, o que vai precisar.

Agora e para o ajudar a transportar as suas coisas, eu resolvo a questão utilizando a minha motoreta com atrelado. Mas terá de esperar mais um pouco, até que o empregado que me ajuda na loja, se apresente ao trabalho.”



- Então eu já volto. Já agora apresento-me. “O meu nome é Manuel Carvalho e aqui nas redondezas toda a gente me conhece pois, além de comerciante, sou também o Presidente da Junta da Freguesia.”

Passou algum tempo, mas cansado como estava nem isso era importante. O sol começara a cair e pouco a pouco viu pessoas carregando o peso dos anos e as dores do trabalho de sol a sol, Sim, afinal a aldeia ainda tinha vida mas que vida! 
Ouviu o ruído estridente de um motor. Era o Manuel Carvalho que se aproximava, montado na motoreta e puxando um pequeno atrelado.

“- Vamos embora amigo, vamos lá subir a encosta. A casa na colina espera por si.” Carregaram as malas, os sacos e o atrelado ficou cheio.

Caramba, diz Manuel o senhor traz a casa às costas! Quer isso dizer que vai ficar na casa dos sonhos até ao fim da vida?

Diz bem meu amigo, até ao fim da minha vida, respondeu Luís:

Foi uma subida difícil. Como Manuel previra, o caminho estava quase intransitável o que lhe exigiu perícia, acelerações do motor e em alguns lugares foi necessário recorrer à força de braços para mover a composição. Manuel era um homem ainda jovem, criado no campo e, apesar do suor que lhe escorria pelas fontes não parou de empurrar. Luís também procurou ajudar, mas entre tropeções e escorregadelas a sua ajuda foi apenas cheia de vontade, porque força não tinha. Mas conseguiram chegar ao terreiro em frente da casa. Manuel ajudou a descarregar a bagagem e despediu-se:

            “ Vou ter de regressar a tempo de fechar a loja e seguir para uma reunião na Junta. Não se esqueça que pode, sempre, contar comigo.

            “- Não se prenda comigo amigo Manuel. Vou descansar olhando a paisagem que, tenho a certeza, me irá deslumbrar.

Luís assistiu à partida do Manuel. Estava só, olhou em redor, viu uma grande árvore, uma azinheira que desafiava o sol. É lindo, pensou, enquanto sentado no chão admirava o entardecer.

Ajeitou-se, acendendo um cigarro que saboreou com prazer e percebeu, que só aquele momento, admirando os campos que se estendiam por pequenos montes e vales até onde a vista alcançava, já teria pago o cansaço da sua aventura.

  O pôr do sol foi como o recordar um filme que quase esquecera.Afinal, murmurou, cheguei à minha casa, na colina da saudade. -

                           

segunda-feira, 10 de junho de 2019

QUATRO SONHOS


                     
                       QUATRO SONHOS

    
 

                            


                                    AMOR

Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.


                                                   

 

                                      A CASA NA COLINA

 

1 – A VIAGEM

 

A camioneta da carreira, embora com significativo atraso, acabara de estacionar no largo da pequena povoação perdida no Baixo Alentejo.

Saíram dois miúdos apressados, as sacolas ao ombro eram o sinal de que regressavam da escola. Iriam brincar? Quem sabe, pensava o passageiro que viajara deste Lisboa, na procura do fim do caminho.

O desconhecido, homem acima dos quarenta anos, foi o último a abandonar a camioneta, ajudando o motorista a retirar as suas coisas, bastantes, que quase enchiam o porta-bagagens da pequena e já cansada, camioneta.

O motorista esboçou um sorriso de agradecimento e arrancou. Foi um instante de alguma agitação mas depressa o largo voltou a ficar calmo e vazio.

No meio, sem saber bem o que fazer, ficara o passageiro desconhecido, um homem da cidade, que se sentia perdido, rodeado por malas e sacos que nem sabia como e para onde transportar.

Sentou-se na mala, puxou dum cigarro e deleitou-se com o fumo que inspirava. Estava só e cansado. Apesar de ter tentado deixar o vício do tabaco, voltara a ele, pois reconhecera que deixar de fumar seria abandonar um dos últimos prazeres que lhe restariam até ao fim da vida.

 Olhou para todos os lados, não viu ninguém. A praça era um quadrado de meia dúzia de casas em cada lado, rodeando um pequeno canteiro onde uma oliveira desafiava o tempo. As casas eram, na sua maioria térreas, uma porta duas janelas, todas caiadas de branco com o rodapé e as molduras da porta e das janelas, pintadas de azul.

Finalmente olhou com mais atenção para uma casa maior que quase completava um dos lados da praça. Era uma casa alta, mais de dois andares e à sua volta um banco corrido ao longo da parede, protegido do sol pela sombra de algumas videiras.

Ali estava a primeira coisa boa que aquele dia lhe trouxera, um lugar à sombra e um banco para se sentar.

Começou a carregar as suas coisas e depois de três ou quatro idas conseguiu terminar a tarefa e sentar-se no banco, encerrar os olhos e recuperar do cansaço. Já o sabia, mas aquele pequeno esforço mostrara a sua debilidade. O corpo já não lhe respondia como antigamente, mais o pior cansaço era a sua luta entre a mente que resistia e a desesperança, que pouco a pouco ia vencendo.

Estava um dia quente, nem uma leve aragem lhe trazia algum alívio. Talvez tivesse subestimado o calor da planície alentejana quando decidira procurar um lugar isolado e calmo, onde pudesse fazer uma vida tranquila, e eventualmente, acabar o livro que prometera a si próprio escrever, sem conseguir dar corpo à história que havia imaginado. Acabar de escrever um livro sorriu, pois aquele fora o pretexto para explicar aos amigos a sua decisão de mudar de vida.

Porém a realidade era bem diferente. Bem que gostaria de ser capaz de escrever um livro, ou dois ou três, mas teria tempo ou talento para tal ?


sexta-feira, 7 de junho de 2019

CLOSE TO THE END


RECYLE

Mais do se pensava há largos atrás é preciso RECICLAR.

Sim, e não apenas o plástico que é mais perigoso para a vida da terra do que foram as bombas atómicas.

É preciso que o mundo combata aqueles que teimam em negar o desastre das alterações climáticas.

E o lado obscuro do poder financeiro, e a ignorância GRITANTE dos donos do poder. E não é só o Presidente (?) Trump, mas também os líderes das maiores economias, como a China, a India, a Rússia e também a senhora Europa entretida a escolher o emprego para os representantes que se vão revezando na política do “ amanhã logo se vê.

Mas, os sinais que diariamente nos chegam, nascidos e espalhados pelo mundo virtual, não são sinais de esperança.

É imperioso reciclar os comportamentos de quem apenas se preocupa com o valor do seu saldo bancário, principalmente a nova geração de políticos “a la carte” que serão a epidemia para a qual ainda não se descobriu a vacina.

E, olhando para o mundo que nos rodeia um só raciocínio è possível. Estamos caminhando para o abismo.

As novas gerações que se cuidem, lutem, protestem, desafiem os poderes instalados porque é o vosso futuro que está em jogo.

Eu que pertenço à geração que é também responsável pelo caminho que foi, também, o começo do fim.