sexta-feira, 27 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

NOVA IORQUE

O navio encostara numa doca em Miami Beach. Os turistas começaram a descer, trocando promessas de encontros futuros e cumprimentos à tripulação, lamentando os dias que se haviam escoado num instante. Na despedida, prometiam voltar.
O comandante e os outros oficiais vestidos com a farda de um branco imaculado cumprimentavam com um sorriso, cada um dos passageiros.
Ruben, aliás José como já era conhecido entre os colegas, fazia parte da tripulação que ajudava a transportar as bagagens e recebera alguns dólares de gratificação.
Com a saída do último passageiro, o comandante e o imediato abandonaram o barco, que ficaria à responsabilidade do piloto até à chegada de instruções da Companhia sobre o cais a que deveria atracar, até nova viajem.

Era para José a hora de descer e enfrentar o destino.
Com a bagagem numa das mãos e com os documentos na outra foi andando até ficar na fila para o controlo das Autoridades. Fazia todo o esforço para aparentar um à-vontade que, na realidade, era só aparente.
Respondeu às perguntas que o agente de Polícia lhe fazia enquanto ia controlando o passaporte. Parecera uma eternidade mas não fora assim. Recebeu ordem para entrar, passou na alfândega, foi minuciosamente revistado. Não tinha nada de suspeito, apenas o livro que a senhora folheou comentando em Espanhol:
- Também eu gosto muito de poesia e o autor é um dos meus favoritos.
Na rua o novo José Pinar ficou aturdido e meio perdido no meio da multidão.
Não pedira conselhos a ninguém e vira algures que um dos caminhos para o seu destino poderia ser o Greyhound  Bus. Não arriscou procurar alternativa e tomou um táxi com destino à central de onde o autocarro iria partir.
Foi cara a corrida, era longe e o trânsito era infernal. O motorista resmungava sempre que um carro andava mais devagar e a língua que utilizava era familiar. Era um hispano como ele. Como já sabia seriam a maior parte dos habitantes da grande cidade.
Comprou o bilhete para o transporte que partiria às 7,30 AM. Pagou e foi analisar o percurso que teria de fazer.
Confirmou que teria duas mudanças. A primeira às 13 horas em Orlando e nova partida quase duas horas depois. Serviria para comer qualquer coisa pois não se atrevia a perder a ligação. Voltaria a parar em Richmond agora pelas 5 horas AM. Mais um tempo de espera de duas horas. Finalmente a chegada a Nova Iorque às quinze horas PM do dia seguinte. Fez as contas, iria andar metido num autocarro, um dia completo e mais quinze horas.
Arrependeu-se, mas era tarde para mudar de transporte. Já gastara o dinheiro e pior ainda, teria que dormir na estação desde que ali chegara, dezoito horas até à hora de partida.

Mas agora na América tudo iria valer a pena, o seu futuro estava ao alcance de menos de dois dias de viajem. O que era isso para uma vida perguntava a si mesmo?
Já se aproximava do destino quando a seu lado uma mulher ainda jovem e que pela pele parecia ser natural da América Latina, depoois de um ou outro olhar furtivo, começou a falar.
- O meu nome é Dolores, sou natural de Porto Rico e venho de Washington para visitar os meus tios que já não vejo há tempo. Aproveito esta altura, o pico do verão, pois a cidade fica mais calma. Os que podem, fogem da fornalha do mês de Agosto. E você, vem de férias ou também para junto de familiares?
- Eu, chamo-me José, sou natural da Costa Rica e venho cumprir um sonho e ao mesmo tempo tentar encontrar trabalho,  para me manter e poder ajudar a família que deixei na minha terra. A minha Mãe e as minhas irmãs.
- Desculpe a minha curiosidade, insistiu Dolores, você já tem alojamento ou vai ficar em algum hotel?
José respondeu que não nem sabia o que fazer, pois o dinheiro não lhe permitiria permanecer num hotel mesmo modesto, por mais de uma ou duas semanas, o tempo de arranjar trabalho, confessou.
- Posso dar-lhe um conselho Josè?
- Claro até agradeço.
- É assim, o alojamento nesta cidade é caro, as pessoas têm o hábito de partilhar o apartamento, dividindo a renda e mais despesas. É assim com os jovens que estão a estudar, outros à procura de trabalho e as coisas funcionam bem. Eu só vou ficar por um mês em casas dos meus tios. Se quiser venha comigo, eles arranjarão um cantinho para si e as despesas nem dará por elas, vai ver. Mas lembre-se, arranjar trabalho não será fácil. O melho é poupar pois ganhar dinheiro pode demorar algum tempo.
Ruben não tinha nada a perder e aceitou o convite. A rua era longe da paragem final do autocarro, mas tinham metro, até relativamente perto.  Ruben fixou a Rua E 127, nº. 148. Era uma zona onde via muita gente parada nos passeios, muitos jovens jogando à bola no meio da rua, enfim, pensou, cheguei à minha terra.

Dolores, avisou.
- Como calcula não vamos ficar numa zona chic da cidade. A zona chama-se Spanish  Harlem, e isso diz tudo.
Tente encontrar trabalho mais na zona comercial, lá para o sul da ilha.
Os tios de Dolores optaram por dividir o quarto que prepararam para a sobrinha, Era nas águas furtadas, mas tinha janela para a frente e para a traseira da casa, o que facilitou a tarefa.
Quanto ao preço, nem quiseram falar. Não é assunto que seja importante. Temos dois filhos na vida militar. Um está bem longe, lá no Afeganistão o outro está no quartel na Virgínia.  Por isso a vossa companhia será bem-vinda, disseram olhando com amizade para Dolores e o amigo de viajem.
Era noite, deitado na pequena cama junto à janela, Ruben olhava as estrelas  e lá longe  a torre do edificio Chrysler.

Deixou escapar uma lágrima. lembrando a família distante. Ele ali estava, tão longe mas onde sempre sonhara estar. Mas apesar de ter encontrado gente que o ajudara, prometeu que um dia voltaria à sua terra. Quando?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

UMA VEZ, NA AMERICA

Ruben acordou do sonho parado à porta da loja que vendia telemóveis. Olhava como se hesitasse em entrar. Precisava do telemóvel para falar com Marina, a menina do Consulado Americano desafiando-a para a aventura. Mas havia qualquer coisa que lhe aconselhava prudência, talvez a entrega da fotografia tivesse sido mais do que uma brincadeira, antes uma provocação.
Precisava de clarificar as dúvidas que, num repente o assaltaram. Tinha aprendido na vida que ninguém é só o que aparenta e a imagem do amigo americano não lhe saía da cabeça. Um homem inquieto, demasiado inquieto reconhecia.
E a jovem que o atendera no Consulado estaria na verdade aguardando um visto para os EUA ou seria alguém que fazia o trabalho de informadora?
Voltou para o hotel e utilizando o telemóvel que acabara por comprar, ligou para o número que Marina escrevera na fotografia.
O número estava desligado e mandava para a caixa de mensagens. Identificou-se e disse apenas que esperaria uma chamada.
Era já noite quando Marina telefonou, tinha acabado de chegar a casa, o quarto que dividia com uma amiga do trabalho. Convidou-o para lhe fazer uma visita:
- Espero por ti, esta noite estarei só, a Cármen viajou para ver a família. Temos todo o tempo para falar sobre o teu projecto.
A voz de Marina suou tão ciciada e melodiosa que mais parecia um chamamento para um encontro amoroso. E Ruben estava particularmente vulnerável aos encantos de uma mulher bonita.
Voltou a sair, era noite fechada, não se atreveu a percorrer o caminho para a casa da amiga. Na porta do hotel tomou um táxi. O condutor era um homem com certa idade e isso deu-lhe confiança.
Marina abriu a porta logo que Ruben tocou a campainha. Ao ver os olhos brilhantes e o sorriso da jovem amiga, Ruben quase esqueceu as dúvidas. Por uma palavra sussurrada, confidências, um café, um sorriso prometedor e uma pose ousada, Marina acabou por perguntar como é que ele, acabado de chegar, podia ter um plano estruturado para entrar na América.
- Tens alguém que te ajuda e como, queres dizer?
Ruben sentiu por entre beijos leves e carícias o cheiro do perigo. Foi evitando responder. Mas Marina voltou a perguntar com uma voz um pouco menos doce:
- Nós mal nos conhecemos, eu não irei embarcar numa aventura perigosa sem ter a certeza do caminho em que me vou meter. Mas quero mesmo ir e para isso vais ter de me contar com detalhe o teu programa.
Ruben teve tempo para pensar. E inventou:
- Eu vi aqui parar por um golpe do destino. O meu contacto no Consulado, já morreu há muitos anos.
Mas eu tenho um programa alternativo e é nesse que vou apostar. Dentro de quinze dias receberei a visita de um amigo vindo de Miami.
É um amigo importante, pertence ao corpo diplomático dum País amigo e dá-me todas as garantias de que conseguirei comprar dois passaportes com vistos. Apenas teremos de aguardar duas semanas e depois tomaremos o avião para Miami.
 Marina pediu algum tempo para pensar e Ruben aceitou aguardar uma semana por uma resposta e pela entrega de fotografias reais e não as da miss Costa Rica que ela lhe havia dado.
Por entre carícias em crescendo, enquanto se despia de forma provocante e com movimentos carregados de sensualidade, Marina acabou perguntando a Ruben o nome e a morada do contacto que lhes iria arranjar o visto.
Ruben pressentira o perigo e defendera-se. Fora esperto, enganara Marina, numa altura em que estivera quase a cair na armadilha. Mas perante a insistência inventou o nome de Francisco Nunez Gonzales e que o encontro teria lugar no Victoria Hotel  com as condições já fixadas:
            -Eu vou pagar pelo meu visto mil dólares, o teu deverá ser o mesmo valor mas, até poderá haver um novo valor, tentaremos reduzir. Pensa na tua vida e se quiseres partilhar eu aceito a tua companhia. Não me telefones, dentro de uma semana eu passarei pelo Consulado para saber a resposta.
Marina ouviu com atenção, lembrou-se de que afinal teria um compromisso a que não poderia faltar.
- É pena, podia ser a nossa primeira noite, mas vamos ter tempo para isso, concluiu Ruben ao deixar o apartamento.
Já na rua escondeu-se numa esquina vigiando o movimento da amiga. Ainda demorou algum tempo, um carro parou à porta Marina desceu, entrou e partiu.
Ruben apreendera a lição. Que lhe iria servir para o futuro. Destruiu o telemóvel, foi deitando pedaço a pedaço nos caixotes de lixo que encontrou no caminho, que fez a pé para regressar ao hotel.
Mal dormiu, pela manhã cumpriu o acordado com o Comandante Vasquez e cinco dias depois estava a bordo do navio de cruzeiros Princess, com um passaporte novo, emitido pelas Autoridades da Costa Rica com o nome de José Pinar e, o mais importante, com um visto para entrar na América e com seis meses de permanência, eventualmente renováveis.
O cruzeiro era de quinze dias. O seu dia de trabalho era intenso. O navio seguia cheio de gente que procurava momentos para recordar. Os dias eram passados atrás do balcão de um dos seis bares de que o navio dispunha. Estava na primeira classe, as pessoas eram mais experientes e sabiam usufruir de tudo o que o cruzeiro lhes proporcionava. Jogavam, dançavam, perdiam dinheiro, traíam o companheiro ou a companheira e eram muito generosos nas gratificações. 
O navio aproximava-se da costa. Era a última noite, ao longe já se avistavam as luzes da cidade. Ruben, nessa noite deitou à água os seus receios, esqueceu a semana que passara no Panamá, quase sem sair do hotel, olhou para o seu percurso e realizou que, talvez tivesse percorrido a parte mais fácil.
            E perto de chegar, lembrou Robert, o misterioso aventureiro que o ajudara antes de regressar para enfrentar os medos e os mistérios duma civilização perdida, e que dissera, de memória, um lindo poema de Ruben Darío. Foi buscar o livro, a herança do Pai, e procurou um outro que lhe desse esperança e força. E leu em voz alta, sentida, pausada como o amigo lhe ensinara, se deve dizer a poesia.
Rubén Darío

A Juan Ramón Jiménez

¿Tienes, joven amigo, ceñida la coraza
para empezar, valiente, la divina pelea?
¿Has visto si resiste el metal de tu idea
la furia del mandoble y el peso de la maza?

¿Te sientes con la sangre de la celeste raza
que vida con los números pitagóricos crea?
¿Y, como el fuerte Herakles al león de Nemea,
a los sangrientos tigres del mal darías caza?

¿Te enternece el azul de una noche tranquila?
¿Escuchas pensativo el sonar de la esquila
cuando el Angelus dice el alma de la tarde?...

¿Tu corazón las voces ocultas interpreta?
Sigue, entonces, tu rumbo de amor. Eres poeta.
La belleza te cubra de luz y Dios te guarde.

O jovem Ruben que aprendera a amar a poesia, ganhara a experiência de um mês de caminho, de algumas desilusões que sofrera mas que o fizeram crescer. Agora que se transformara em José Pinar, estava pronto para a caminhada final. E ao longe, as luzes de Miami eram como o farol que precisava.  "Que Deus me guarde", murmurou antes de adormecer.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

CARAÍBAS


O encontro com uma bela mulher deu a Ruben uma excitação e alegria que já não sentia há muito tempo. Tinha saído de casa destemido mas sempre com o receio de uma peregrinação inútil.
E por alguns momentos foi isso que sentiu. Ainda estava tão longe do seu objectivo e receava, precisamente, a inutilidade da primeira etapa e o medo de falhar roubou-lhe a alegria e a esperança.
Pensava como conseguiria ele um visto para entrar nos EUA quando Marina que trabalhava no consulado ainda não o conseguira?

Ainda para mais o nome que o amigo Robert lhe dera fora um fugaz relâmpago que depressa desapareceu. Não percebia como é que o amigo lhe dera o dinheiro para a viajem, até a sua morada em Nova Iorque e para obter o visto lhe indicara alguém morto há vinte anos? E pela primeira vez começou a pensar que Robert se desligara do mundo em que vivera e se perdera no caminho, procurando  beber de numa civilização, da qual apenas restavam lendas e histórias, o elixir da vida.
Quanto mais pensava no amigo mais ganhava a certeza de que ele já não sabia onde vivia. A sua mudança, esquecendo o passado para voltar para o meio das florestas e vulcões, fora um grito de desespero, uma renúncia ou o medo do passado? Teria ele contas para ajustar na sua terra e de que quase se esquecera?
Podia bem ser, concluíu enquanto retomava o deambular ao longo do canal.
Quis ver para além da avenida com edifícios modernos, hoteis, lojas finas. A cidade teria que ter outra vida. Atravessou a avenida e entrou numa zona residencial, que foi percorrendo até que desembocou numa zona de prédios velhos e decrépitos, ruas sujas e pessoas paradas que o olhavam com surpresa.

Afinal, não diferenciava em muito da sua Guatemala.
Regressou ao percurso inicial e foi então que encontrou um anúncio de um pequeno hotel, com duas estrelas mas que lhe parecia tranquilo. Entrou, procurou um quarto, não regateou o preço que a senhora do balcão de entrada lhe propusera, pagou adiantado uma semana e subiu para o segundo andar. O espaço não era grande, mas estava limpo e arrumado, tinha janela para uma rua sossegada e uma pequena casa de banho.
Ficou bem e estendeu-se na cama, começava a ficar cansado e sem saber o que fazer.
Na pequena mesa de cabeceira, colocou a fotografia que a Marina lhe dera, e só então olhou bem para ela. Surpresa, a fotografia era de uma jovem com uma faixa dizendo ser miss Costa Rica mas, embora os olhos de Marina fossem bem bonitos, o rosto da fotografia não condizia com a face da mulher que ele vira detrás do guichet!
Eu logo vi, pensou. Se Marina fosse a jovem da fotografia não teria tido qualquer problema em arranjar um visto. Ela brincou comigo e só não sei porquê. Amanhã volto lá.
Descansou por algum tempo, sentiu fome, desceu para a rua tendo tido o cuidado de fechar a porta com a chave bem forte que a senhora lhe tinha entregue, com a indicação que a deveria entregar na portaria quando saísse. Mas ele espreitou, não viu ninguém e saiu com a chave no bolso. Era tão grande e pesada que até pode vir a funcionar como arma de defesa.
Comeu num pequeno restaurante e tomou a decisão que amadurecera. Voltou ao navio para pedir ajuda ao Comandante.
Contou o seu primeiro dia, a desilusão no Consulado e abanou a cabeça em sinal de desalento.
- Eu disse-te que não seria fácil, arranjar um visto num dia mesmo que o teu contacto existisse era impossível. O caminho tem que ser outro, diz o Comandante. Vais ter de correr riscos, mas isso já sabias. Para te ajudar, preciso de ter a certeza que confias em mim!
- Ruben acenou que sim. Já provei de que era no senhor que confiava, pois lhe deixei a minha pequena fortuna e de certo modo o meu destino.
Diga-me o que fazer e eu seguirei os seus conselhos.
- Então estamos de acordo. O teu caminho será assim.
Amanhã compra alguma roupa, casaco, camisa, gravata, calças e sapatos castanhos. Branco não, podes parecer um traficante.  Veste a roupa nova, procura na parte comercial um estúdio de fotografia. e pede uma dúzia de fotografias para documentos oficiais. O fotógrafo sabe as dimensões requeridas.
Depois vais esperar por mim junto do Hotel Bahia, vê no mapa, e vamos almoçar. De tarde vamos ao encontro com a pessoa que te vai fornecer o passaporte novo, com nova identidade e com o visto desejado.
Ele dirá quanto vai custar, não vai ser barato. Vê o dinheiro, admito que tenhas de esquecer o avião e ir em barco de cruzeiro, como fizeste até aqui. Eu consigo-te isso. O navio chega daqui dentro de cinco dias. Eu ainda o vou encontrar.
- Senhor Comandante acha que posso convidar a Marina a seguir comigo? Ela é da Costa Rica e trabalha no consulado Americano?
 - Fala com ela e combina e logo se vê. Quando saíres no quarteirão a seguir à doca, encontras uma loja que vende telemóveis com cartão pré-pago. Não são caros. Compra um e combina com a tua amiga. Se ela estiver interessada  deve preparar-se com as fotografias e documentos que tiver e então falamos durante o almoço.
Ruben voltou a acreditar que o sonho era possível. E enquanto procurava a loja para comprar o telefone, já se via com uma mulher bonita, apreciando o cruzeiro de  que o Comandante lhe dera um folheto.
A viajem iria passar por locais conhecidos em todo o mundo. Começaria por sair do canal e navegar até à Jamaica,

depois Porto Rico,

 Punta Cana na República Dominicana


e por fim Miami


Como já esperava as fotografias que ilustravam o folheto turístico eram as que se mostram aos turistas. Já sabia e já tinha vivido a outra parte, as outras casas, as outras pessoas, Mas isso era a parte escondida de uma sociedade onde se traficava, se jogava,  se roubava e se compravam vontades. Essa era a sociedade de que ele queria fugir.
Aquele momento seria a oportunidade. Na confusão da saída dos passageiros, os documentos seriam todos autênticos. Ninguém iria desconfiar de um casal jovem, sem bagagem suspeita.
Sentiu vontade de gritar. Alegra-te rapaz, se tudo der certo dentro de um mês, mês e meio estarás a descer a quinta avenida em Nova Iorque, levando uma companhia não prevista. Nova Iorque,  que sonho, até o nome lhe soava como uma melodia.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

ENCONTRO E DESENCONTRO

Ruben estava na amurada na hora que o navio ancorou. Assistiu à saída dos passageiros, e foi com alguma impaciência que aguardava a autorização para abandonar o navio.

Entretanto o Comandante mandara-o chamar, avisando que não devia sair sem falar com ele.
Foi, encontrou o Comandante na torre de comando que lhe estendeu a mão num cumprimento de despedida e lhe entregou um envelope com dinheiro, salário pelos dias de trabalho naquela viajem.
 Ruben aceitou mas mostrou algum constrangimento. O comandante atribuiu o mal-estar do Ruben a qualquer dúvida sobre o valor que lhe pagara e não hesitou em perguntar:
- Ruben eu reparei que não ficaste muito contente com o dinheiro que te entreguei e mais ainda porque nem verificaste o valor. Diz-me o que se passa, estás arrependido?
- Senhor comandante, eu não estava à espera de receber pagamento, nem nisso pensei. Os dias de viajem não foram trabalho, foram principalmente uma forma de percorrer uma parte do caminho que sonhei para alcançar o meu objectivo, os EUA. Mas o senhor Robert não vai estar aqui e confesso que sem ele me sinto um pouco perdido.
- Compreendo e sabes que entrar na América não te vai ser fácil. Ele avisou-te sobre o visto e tens dinheiro suficiente? Podes ser franco se eu puder ajudar fá-lo-ei!
- O senhor Robert deu-me mil dólares que guardo comigo e que serviriam para comprar a passagem para Nova Iorque. O visto, irei procurar um amigo, funcionário no consulado americano, o senhor Perry que, penso, já terá recebido o pedido do meu amigo.
O Comandante ouviu e comentou:
- Acredita o teu amigo não te abandonou. Ele fez o que podia para te ajudar, mas acredita, mesmo assim não vai ser fácil.
Eu não sou natural dos Estados Unidos, e preciso de revalidar o visto no consulado no Panamá.  
Não é fácil de obter e não me recordo de ter conhecido algum funcionário no consulado que se chame Perry. Mas posso estar enganado, tenta e se tiveres dificuldades vem falar comigo.
Mas quero dar-te um conselho. Não confies em pessoas que não conheces, não pagues nenhum serviço, seja ele qual for. Aqui param muitas pessoas, homens e mulheres, que têm uma grande apetência por turistas a quem farão tudo para assaltar e roubar. Tu não és turista mas vieste no barco de luxo, logo és um alvo.
Eu sei que tens experiência de vida, afinal no teu País não será muito diferente. Mas aqui é mais perigoso.
O navio vai aguardar neste ancoradouro, o próximo cruzeiro. Ficará em limpeza e manutenção por uma semana. Aceita o meu conselho, vai à procura do visto, mas se precisares volta aqui.
Ruben regressou ao seu beliche. Juntou o dinheiro que trazia numa bolsa interior das calças, tirou apenas algumas notas de cinco dólares e foi bater à porta da cabine do camarote do comandante, pedindo:
- Por favor Senhor Comandante guarde as minhas economias, e estendeu-lhe a bolsa. Eu sou tentar a sorte, se não voltar antes da partida do barco, peço que mande esse dinheiro para a morada que vai indicada no envelope. É a casa da minha mãe.  
O Comandante aceitou dizendo:
- Vai, não desistas à primeira dificuldade. Acredito que nos voltaremos a ver.

Ruben desceu e perdeu-se andando na avenida ao longo do canal. Havia muito tráfego embora fosse hora de almoço, mas o que o surpreendia era a quantidade de automóveis grandes, cor escura e com filtros espelhados. Ele apenas via o condutor que conduzia olhando atentamente para as pessoas que passeavam a pé ao longo do canal. E lembrou-se do aviso do comandante.
Num hotel do lado oposto viu o letreiro de agência de câmbios. Viu as cotações, vendeu vinte dólares e recebeu uma mão cheia de notas. Eram notas de cinquenta e cem e o valor facial era na moeda oficial, Balboa.
Bem perto viu um polícia e decidiu perguntar o caminho para o Consulado Americano que, só sabia dizer que ficava na Avenida do canal. O polícia, óculos escuros, armado de pistola em coldre descaído na anca, há boa maneira dos cowboys teve alguma dificuldade em perceber o seu dialecto mas acabou por dizer que era longe, lá para o fim da avenida. Se quiseres eu telefono ao meu primo, tem um táxi parado nas redondezas e leva-te lá e até pode esperar. É tudo uma questão de preço. Eu falo com ele e consigo uma tarifa mais simpática. Pode ser?
- Não, obrigado respondeu Ruben, mesmo com um preço simpático não terei dinheiro que chegue.
O Polícia resmungou palavras que Ruben fez por não entender enquanto continuou a sua marcha, sempre atento à passagem de algum autocarro que seguisse na mesma direcção.

Teve sorte, tirou o bilhete e duas paragens depois o autocarro imobilizou-se no final da carreira, precisamente antes do edifício onde se via esvoaçar uma bandeira americana.
Pronto, aqui estou, agora é só encontrar o contacto.
Na portaria e antes de entrar na embaixada, foi revistado por polícias diferentes. Eram soldados do exército americano.
O seu inglês não era muito bom, estava um pouco enferrujado, mas pensava ser o suficiente para se fazer entender. Dirigiu-se a um guichet e pediu para falar com o senhor Frank Perry. A mulher ainda jovem e bonita que o atendeu, riu e propôs que falasse em espanhol, será mais fácil para ti e também para mim. Eu sou da Costa Rica, rematou.
Ruben sorriu e reformulou o pedido. A jovem começou a percorrer os ficheiros de arquivo do terminal de computador, repetiu a pesquisa e causou a primeira desilusão ao jovem viajante. Com esse nome não existe nenhum funcionário em serviço activo. Vou pesquisar se houve alguém com esse nome que entretanto se tivesse reformado ou transferido.
Parou a pesquisa e arregalou os olhos, bonitos. Não pode ser, disse, o senhor Frank Perry foi efectivamente funcionário do consulado mas já morreu, deixa cá ver, há mais quinze anos e foi sepultado na sua terra natal, Nova Iorque.
Ruben ficou lívido sem saber o que dizer.
Foi Marina, assim se chamava a recepcionista que surpreendida, perguntou como é que ele estava a procurar uma pessoa que já desaparecera havia tanto tempo. Foste enganado, não é?
- Não sei o que pensar, E eu que contava com ajuda para obter o visto para entrar nos EUA., lamentou-se Ruben.
- Um visto, quanto tempo em que podes esperar? Seis meses, um ano? É que eu já aqui estou há mais de seis meses e ainda não sei se vou conseguir obter o visto, e quando.
De qualquer modo, preenche o pedido pela internet e aguarda. Tens aqui o endereço e se tiveres dúvidas tens o meu número de telemóvel, liga.
- Assim farei. O meu nome é Ruben, sou da Guatemala e quero ir para Nova Iorque. Eu não me vou esquecer de ti, mas uma fotografia seria bem-vinda. Quem sabe, poderemos ir juntos?
- Marina riu-se, tirou da gaveta um álbum, escolheu uma fotografia e escreveu no verso uma dedicatória. Quem sabe os dois vamos conquistar a América. Um beijo

Entregou e insinuou, porque não? Gostaria da tua companhia, oxalá tu também gostes da minha.

domingo, 8 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO DE NOVA IORQUE

EM BUSCA DA CIDADE PERDIDA

Demorou dois dias para que Robert terminasse o que havia prometido. Levantou dinheiro que entregou ao seu jovem amigo, apresentou-o ao comandante do navio de cruzeiros que tinha acabado de atracar e conseguiu que Ruben fosse aceite não como passageiro, mas como empregado da copa.
Ruben estava contente, o seu caminho iria ser mais cómodo e, acima de tudo, mais económico.
Não sabia quando custaria a viajem por avião da cidade de Panamá para Nova Iorque, a cidade dos seus sonhos. Tinha pressa em chegar, arranjar trabalho e começar e enviar dinheiro para a Mãe e Irmãs.

Por sua vez, Robert seguiria pela manhã o caminho de regresso. Ruben assistiu à partida com uma lágrima rebelde e com uma sensação estranha que não conseguia explicar. O amigo decidira à última hora  esquecer o programa e visitar a montanha e a floresta que cercavam o lago Tikal, seguindo  todavia pelo caminho mais longo, e com uma parte quase desconhecida. Planeava contornar o lago Izabal,  embrenhando-se nas florestas à procura da cidade perdida.
Dissera a Ruben que em dado momento, abandonaria a carrinha e seguiria a pé, evitando os trilhos já assinalados nos mapas. Algo me diz que  só assim será possível alcançar o meu sonho, a cidade perdida.
Ruben que acreditava que a cidade era produto da imaginação dos camponeses que contavam histórias assombrosas, de florestas que escondiam tesouros e guardavam os segredos sentiu que o amigo acabaria perdido, algures num lugar inecessível. Segundo a crença dos mais velhos, as montanhas, os vulcões, as florestas era um mundo vivo que atraíam como um íman os aventureiros, mas que nunca um sequer, havia   regressado.

Ouvira o Pai  falar de um povo que ainda resistia ao avanço da civilização. Imaginara que esse povo viveria em  túneis escavados nas montanhas, protegendo-se do avanço da lava dos vulcões. Seria um povo de guerreiros, adoradores do fogo a quem sacrificavam  homens e animais em cerimónias de sangue e de magia.
Claro, ele sabia serem apenas histórias que foram passando de geração para geração, porque afinal, nunca ninguém encontrara rastos da cidade perdida.
O que o não conseguia entender era a febre que atacara o amigo americano. Afinal teria sido um chamamento? 
 E como a confirmar, olhava para Robert. Estava, impaciente e tinha um brilho estranho no olhar. Estava branco como se, de repente o sangue lhe tivesse desaparecido do corpo.
De facto Robert sofrera uma transformação. Agia agora como alguém que teme que a vida se esgote. Arrancou de imediato, sem um adeus ou um aceno.
O arqueólogo fascinado pelas civilizações desaparecidas, também interpretara o seu estado febril como um desafio, um aviso, talvez um apelo. Era estranho, a febre desaparecera logo que tomara a decisão de cancelar o retorno por barco e decidira voltar a perder-se nos caminhos do desconhecido.
 Não partiria de barco porque acreditava que num qualquer recanto perdido da floresta o destino esperava por ele. E não iria faltar ao encontro, nem que isso lhe custasse a vida.

Ruben ficou no meio do caminho, com o coração apertado. Estava só, sentia uma sensação de perda pois acabara de ver partir um amigo que o acaso lhe dera a conhecer e sentia um frémito só de pensar que talvez não o voltasse a encontrar.
Por momentos pensou em desistir, mas quando entrou no navio e se apresentou ao chefe cozinheiro que lhe entregou as fardas, atribuiu um beliche bem perto de uma vigia e lhe distribuiu trabalho, deixou para trás os seus receios, e subiu à coberta para espreitar a saída do navio.
E como era lindo o mar, azul e esverdeado, ondas leves que pareciam abrir-se para deixar que a quilha do navio as ultrapassasse. Estava tranquilo, o trabalho era o mesmo que já fizera no hotel, apenas o navio era um mundo que não esperava.
Regressou à zona da cozinha e da copa e começou o seu trabalho. De repente ficara alegre e determinado. Nada nem ninguém iria impedir que cumprisse o seu sonho. Devia isso ao amigo que partira buscando o sonho, assim como ele também perseguia a ilusão dum futuro melhor.
O navio de cruzeiros seguia cheio de homens e mulheres, turistas que regressavam de férias em Acapulco e haviam escolhido aquele cruzeiro para continuarem a usufruir do sol, do mar, e dos jogos de casino e do amor.
Ruben que ajudava ao serviço,  espreitou e ficou deslumbrado com o requinte com que os passageiros aguardavam a hora do jantar.  As mulheres que durante o dia vira em fatos de banho e ou em calções usavam agora vestidos compridos, decotes ousados e jóias reluzentes. Os homens de fato e gravata, pareciam estar a aguardar uma qualquer recepção oficial. O certo é que uns e outros estavam bem dispostos, riam e despejavam taças de champanhe. No Hotel onde trabalhara, Ruben nunca vira um jantar assim.
Enquanto caminhava pelo salão segurando uma bandeja com taças e copos cheios, o seu colega, um mexicano mais velho, convidava os passageiros a uma bebida que escolhiam de uma mesa farta. Ruben estava de olhos arregalados, nunca vira tanta mulher bonita e sentiu que algumas lhe sorriam de forma convidativa.  Algumas bem reparou que procuravam companhia e ele era um pouco atrevido. Mas o colega mexicano, já o avisara:

- Tem cuidado, sabes algumas procuram apenas uma aventura de uma noite, e o Comandante não admite que na sua tripulação haja envolvimentos com turistas. Olha o teu lugar era de um colega que se deslumbrou e ficou em Acapulco. A Companhia tem uma política muito exigente e basta um turista apresentar uma queixa para o trabalhador ser logo despedido. Se queres conservar o teu trabalho, finge que ignoras os convites mais ou menos descarados. E sobretudo, foge de homens e mulheres que beberam demais.
Ruben percebeu o aviso, não queria deitar por terra a confiança que outros tiveram nele, guardou distância.

O navio atracou no porto na Costa Rica de onde se via uma praia de areia dourada que se estendia ao largo da costa. O director do Cruzeiro confirmou aos passageiros que a praia  e o lugar eram seguros. O navio iria ficar atracado até ao meio dia do dia seguinte, hora a que regressaria ao mar para a última etapa do cruzeiro, o Canal do Panamá.
Porque alguém teria comentado que, teria havido uma invasão por tropas da Nicarágua, o Director explicou que tal se devera a um erro de satélite, na identificação da fronteira entre os dois Países, mas que, esclarecido o erro, tudo voltara a normalidade
Ruben ficou no navio, estava demasiado ansioso. Ficou no seu lugar lendo em voz alta, o poema de Ruben Dário, que o amigo americano lhe recomendara. E lembrou-se do amigo e sentiu frio e medo sem perceber porquê. Interrogou-se se o voltaria a ver?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

DOIS CAMINHOS

Uma noite quente, num quarto de hotel, o amigo americano não conseguia dormir. Ardia em febre e o suor empapava a roupa. Levantou-se e apoiando-se pelo caminho, foi bater à porta do quarto onde o companheiro descansava, na primeira noite da sua aventura.
Ruben acordou sobressaltado, ficou inquieto e com receio que alguém o procurasse. Tinha medo da família da Mercê, estava com medo que eles já andassem à sua procura.
Prestou atenção e ouviu a voz do amigo americano que pedia ajuda.
Deu um salto, acendeu a luz e abriu a porta. Caído e encostado na parede do corredor, Robert quase a desfalecer, estendeu a mão murmurando:
- Preciso de ajuda, tenho muita febre.
 Ruben levantou-o e ajudou a que ele se deitasse da sua cama. Depois com uma toalha molhada em água fria ia limpando o suor fazendo com que a temperatura baixasse. No seu saco de viagem guardara uma caixa de comprimidos que a Mãe lhe dera, lembrando que eram aspirinas para combater a febre.
Deu dois comprimidos que Robert engoliu com um copo de água.
O amigo americano fechou os olhos, a temperatura descera e parecia descansar.
Ruben ficou sentado na beira da cama dormitando mas atento aos movimentos do doente. Era assim que se lembrava de ver a mãe fazer quando um dos filhos aparecia com febre alta, situação que era frequente naquele clima.
O dia nasceu, a luz entrou pela janela do quarto. Ruben abriu a janela e espreitou o sol que aparecia vindo do lado do mar. Era bonito, a luz do sol fazia dançar as ondas. Ruben via pela primeira vez o mar das Caraíbas. Por um momento sentia a nostalgia de uma paisagem única e imaginava quanto teria de andar para chegar à terra prometida.
O americano acordou fraco mas bem disposto. Olhou para o amigo e disse:
- Assustei-me já não me lembrava de ter uma crise como esta. Ajuda-me a voltar ao meu quarto, pede para nos servirem o pequeno almoço porque quero conversar contigo. Enquanto comiam, Robert olhava fixamente o rosto do amigo como se procurasse algum sinal de inquietação. Mas Ruben estava tranquilo embora receasse que a conversa do amigo, pudesse alterar o rumo da sua vida.

- Ruben, meu bom amigo, senta-te e ouve o que eu te quero contar. Tu já imaginaste a minha idade, estou certo, mas também julgo que andarás longe da realidade. Eu já dobrei os setenta anos e desde os trinta que percorro a América atrás dos mitos e dos sinais da civilização Maia.
Admito que no teu pensamento te interrogues o que faz com que um homem velho, gasto, sem família ande a correr mundo. Pois bem, fiquei doente e a medicina fez o seu diagnóstico e prescreveu a terapia. Deveria descansar, alimentar-me regularmente, dormir bem, fazer exames médicos frequentes, tomar uma série de medicamentos respeitando a periodicidade indicada e morrer um dia, no conforto da minha casa. Sim, confirmaram uma doença que não perdoa. Eu tomei consciência que ainda me faltava percorrer parte do caminho onde se sentia feliz. Decidi ignorar as recomendações da medicina e optei por procurar nas florestas, nos caminhos percorridos por civilizações destruídas o prazer da descoberta, respirando o ar puro da natureza. Foi o que me trouxe ao teu País.

Esta noite senti que já não me restará muito tempo e não consigo deixar de pensar que ainda me falta completar um ciclo. A minha saga só ficará completa se subir o caminho até ao lago e ruínas de Tikal. Sem essa visita o meu roteiro ficará incompleto. E, repara, esse lugar mítico é na tua terra.
Depois irei até Belize, um voo para Miami e o regresso a casa. Um mês, dois meses, talvez.

Porém para o teu destino será uma viagem desnecessária. Por isso te proponho o seguinte:
-Vais tomar o barco de cruzeiros até ao Panamá. Eu posso garantir a tua passagem sem qualquer problema, sou amigo do comandante do navio.

No Panamá vais contactar um outro amigo que trabalha no Consulado Americano. Procuras o Sr. Frank Perry e ele ajuda-te com um visto que te possibilita a entrada nos Estados Unidos. Será um visto temporário, um ano no máximo. Mas depois poderá ser prolongado. Eu vou-lhe enviar ainda hoje ou amanhã, por correio electrónico os teus dados e o meu pedido. A tua residência nos EUA será o meu apartamento em Nova Iorque e eu assumirei a responsabilidade.

 Hoje vamos ao Banco e eu procederei ao levantamento de dólares que te permitirão a compra das tuas passagens de barco e de avião e ainda ficarás com algum disponível até encontrares trabalho. Depois quando eu voltar pagas o meu empréstimo. Está bem assim?
Aceito a vontade de me ajudar e também compreendo o seu desejo de visitar Tikal. Sempre ouvi dizer que é um lugar mágico e que nunca se pode esquecer. Mas está doente, será um trajecto longo, até perigoso e ficarei preocupado. Porque é que eu não lhe faço companhia? É para isso que os amigos servem não é verdade?
- Sim é verdade, mas tens que compreender que é a minha última viagem e que, para mim é muito importante que a faça só. Aliás o que é que me pode acontecer? O pior será ficar sepultado numa floresta, quem sabe, protegido pelas nuvens. Confesso que se isso acontecer o risco terá valido a pena.
  
Mas fica tranquilo, eu não me vou esquecer de ti e prometo que vou voltar à minha casa e que tu lá estarás à minha espera. Não nos vamos despedir. Terei que escrever o livro que te prometi.