segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A ESTRELA PERDIDA












  E A ESTRELA  APAGOU-SE

 

Era o fim de um dia de verão, daquele período de férias onde quase nada acontece. Mas para ele, era apenas um dia de trabalho de um lado para o outro lado do mundo.

Voava de Singapura para Nova Iorque. Regressava a casa.

A noite caiu e o céu encheu-se de estrelas a brilhar.

Fascinante, murmurou Diogo que seguia sentado junto à janela no avião que cruzava os céus. Mas as estrelas eram diferentes, não as reconhecia, ele que quando miúdo apreendera a identificar estrelas e constelações. De repente o olhar acompanhou uma estrela que lhe parecia cansada de tanto brilhar e tremendo, se apagou.

Que pena, quando uma estrela morre, na terra, alguém ou qualquer coisa se apaga também. Cerrou os olhos, voltou à sua juventude e lembrou-se da conversa com o Pai que por hábito se estendia sobre uma parede que segurava o caminho que passava à beira da casa, enquanto contava histórias e memórias, sempre olhando o céu e acompanhando o caminho das estrelas. Sim, fora naquela casa velha onde nascera e se habituara a sonhar o futuro.

Estranho, como a tantos milhares de quilómetros de distância e decorridos mais de trinta anos a memória lhe trazia a figura do Pai. E lembrava-se dos conselhos e da magia nas cálidas noites de Agosto. Fora uma escola onde bebera da sabedoria daquele homem do campo, filósofo das veredas que havia, apenas, cursado a escola da vida.

E lembrou-se da última lição, que o Pai lhe dera, desta vez deitado na cama onde aguardava com a serenidade o fim da sua viagem. O apagão da sua estrela.

As palavras foram suas companheiras durante muito tempo mas, quase sem saber como, deixara-se capturar por outros valores e só agora, olhando o céu lhe despertaram a memória.

- “ Filho, a vida tem que ser vivida sem temores, sem medos, acreditando sempre que somos capazes, que conseguiremos, atingir o nosso objetivo, respeitando os outros, aprendendo com os erros, ouvindo o saber dos mais velhos e lendo livros. A vida só assim fará sentido. E se alguma vez te sentires perdido, olha para as estrelas, quem sabe encontrarás a tua.”

Pobre Pai, o teu filho perdeu-se nos caminhos da vida e na solidão dos dias e noites e esqueceu-se de procurar a estrela da vida. E a estrela apagara-se.