terça-feira, 17 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

CARAÍBAS


O encontro com uma bela mulher deu a Ruben uma excitação e alegria que já não sentia há muito tempo. Tinha saído de casa destemido mas sempre com o receio de uma peregrinação inútil.
E por alguns momentos foi isso que sentiu. Ainda estava tão longe do seu objectivo e receava, precisamente, a inutilidade da primeira etapa e o medo de falhar roubou-lhe a alegria e a esperança.
Pensava como conseguiria ele um visto para entrar nos EUA quando Marina que trabalhava no consulado ainda não o conseguira?

Ainda para mais o nome que o amigo Robert lhe dera fora um fugaz relâmpago que depressa desapareceu. Não percebia como é que o amigo lhe dera o dinheiro para a viajem, até a sua morada em Nova Iorque e para obter o visto lhe indicara alguém morto há vinte anos? E pela primeira vez começou a pensar que Robert se desligara do mundo em que vivera e se perdera no caminho, procurando  beber de numa civilização, da qual apenas restavam lendas e histórias, o elixir da vida.
Quanto mais pensava no amigo mais ganhava a certeza de que ele já não sabia onde vivia. A sua mudança, esquecendo o passado para voltar para o meio das florestas e vulcões, fora um grito de desespero, uma renúncia ou o medo do passado? Teria ele contas para ajustar na sua terra e de que quase se esquecera?
Podia bem ser, concluíu enquanto retomava o deambular ao longo do canal.
Quis ver para além da avenida com edifícios modernos, hoteis, lojas finas. A cidade teria que ter outra vida. Atravessou a avenida e entrou numa zona residencial, que foi percorrendo até que desembocou numa zona de prédios velhos e decrépitos, ruas sujas e pessoas paradas que o olhavam com surpresa.

Afinal, não diferenciava em muito da sua Guatemala.
Regressou ao percurso inicial e foi então que encontrou um anúncio de um pequeno hotel, com duas estrelas mas que lhe parecia tranquilo. Entrou, procurou um quarto, não regateou o preço que a senhora do balcão de entrada lhe propusera, pagou adiantado uma semana e subiu para o segundo andar. O espaço não era grande, mas estava limpo e arrumado, tinha janela para uma rua sossegada e uma pequena casa de banho.
Ficou bem e estendeu-se na cama, começava a ficar cansado e sem saber o que fazer.
Na pequena mesa de cabeceira, colocou a fotografia que a Marina lhe dera, e só então olhou bem para ela. Surpresa, a fotografia era de uma jovem com uma faixa dizendo ser miss Costa Rica mas, embora os olhos de Marina fossem bem bonitos, o rosto da fotografia não condizia com a face da mulher que ele vira detrás do guichet!
Eu logo vi, pensou. Se Marina fosse a jovem da fotografia não teria tido qualquer problema em arranjar um visto. Ela brincou comigo e só não sei porquê. Amanhã volto lá.
Descansou por algum tempo, sentiu fome, desceu para a rua tendo tido o cuidado de fechar a porta com a chave bem forte que a senhora lhe tinha entregue, com a indicação que a deveria entregar na portaria quando saísse. Mas ele espreitou, não viu ninguém e saiu com a chave no bolso. Era tão grande e pesada que até pode vir a funcionar como arma de defesa.
Comeu num pequeno restaurante e tomou a decisão que amadurecera. Voltou ao navio para pedir ajuda ao Comandante.
Contou o seu primeiro dia, a desilusão no Consulado e abanou a cabeça em sinal de desalento.
- Eu disse-te que não seria fácil, arranjar um visto num dia mesmo que o teu contacto existisse era impossível. O caminho tem que ser outro, diz o Comandante. Vais ter de correr riscos, mas isso já sabias. Para te ajudar, preciso de ter a certeza que confias em mim!
- Ruben acenou que sim. Já provei de que era no senhor que confiava, pois lhe deixei a minha pequena fortuna e de certo modo o meu destino.
Diga-me o que fazer e eu seguirei os seus conselhos.
- Então estamos de acordo. O teu caminho será assim.
Amanhã compra alguma roupa, casaco, camisa, gravata, calças e sapatos castanhos. Branco não, podes parecer um traficante.  Veste a roupa nova, procura na parte comercial um estúdio de fotografia. e pede uma dúzia de fotografias para documentos oficiais. O fotógrafo sabe as dimensões requeridas.
Depois vais esperar por mim junto do Hotel Bahia, vê no mapa, e vamos almoçar. De tarde vamos ao encontro com a pessoa que te vai fornecer o passaporte novo, com nova identidade e com o visto desejado.
Ele dirá quanto vai custar, não vai ser barato. Vê o dinheiro, admito que tenhas de esquecer o avião e ir em barco de cruzeiro, como fizeste até aqui. Eu consigo-te isso. O navio chega daqui dentro de cinco dias. Eu ainda o vou encontrar.
- Senhor Comandante acha que posso convidar a Marina a seguir comigo? Ela é da Costa Rica e trabalha no consulado Americano?
 - Fala com ela e combina e logo se vê. Quando saíres no quarteirão a seguir à doca, encontras uma loja que vende telemóveis com cartão pré-pago. Não são caros. Compra um e combina com a tua amiga. Se ela estiver interessada  deve preparar-se com as fotografias e documentos que tiver e então falamos durante o almoço.
Ruben voltou a acreditar que o sonho era possível. E enquanto procurava a loja para comprar o telefone, já se via com uma mulher bonita, apreciando o cruzeiro de  que o Comandante lhe dera um folheto.
A viajem iria passar por locais conhecidos em todo o mundo. Começaria por sair do canal e navegar até à Jamaica,

depois Porto Rico,

 Punta Cana na República Dominicana


e por fim Miami


Como já esperava as fotografias que ilustravam o folheto turístico eram as que se mostram aos turistas. Já sabia e já tinha vivido a outra parte, as outras casas, as outras pessoas, Mas isso era a parte escondida de uma sociedade onde se traficava, se jogava,  se roubava e se compravam vontades. Essa era a sociedade de que ele queria fugir.
Aquele momento seria a oportunidade. Na confusão da saída dos passageiros, os documentos seriam todos autênticos. Ninguém iria desconfiar de um casal jovem, sem bagagem suspeita.
Sentiu vontade de gritar. Alegra-te rapaz, se tudo der certo dentro de um mês, mês e meio estarás a descer a quinta avenida em Nova Iorque, levando uma companhia não prevista. Nova Iorque,  que sonho, até o nome lhe soava como uma melodia.


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