domingo, 8 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO DE NOVA IORQUE

EM BUSCA DA CIDADE PERDIDA

Demorou dois dias para que Robert terminasse o que havia prometido. Levantou dinheiro que entregou ao seu jovem amigo, apresentou-o ao comandante do navio de cruzeiros que tinha acabado de atracar e conseguiu que Ruben fosse aceite não como passageiro, mas como empregado da copa.
Ruben estava contente, o seu caminho iria ser mais cómodo e, acima de tudo, mais económico.
Não sabia quando custaria a viajem por avião da cidade de Panamá para Nova Iorque, a cidade dos seus sonhos. Tinha pressa em chegar, arranjar trabalho e começar e enviar dinheiro para a Mãe e Irmãs.

Por sua vez, Robert seguiria pela manhã o caminho de regresso. Ruben assistiu à partida com uma lágrima rebelde e com uma sensação estranha que não conseguia explicar. O amigo decidira à última hora  esquecer o programa e visitar a montanha e a floresta que cercavam o lago Tikal, seguindo  todavia pelo caminho mais longo, e com uma parte quase desconhecida. Planeava contornar o lago Izabal,  embrenhando-se nas florestas à procura da cidade perdida.
Dissera a Ruben que em dado momento, abandonaria a carrinha e seguiria a pé, evitando os trilhos já assinalados nos mapas. Algo me diz que  só assim será possível alcançar o meu sonho, a cidade perdida.
Ruben que acreditava que a cidade era produto da imaginação dos camponeses que contavam histórias assombrosas, de florestas que escondiam tesouros e guardavam os segredos sentiu que o amigo acabaria perdido, algures num lugar inecessível. Segundo a crença dos mais velhos, as montanhas, os vulcões, as florestas era um mundo vivo que atraíam como um íman os aventureiros, mas que nunca um sequer, havia   regressado.

Ouvira o Pai  falar de um povo que ainda resistia ao avanço da civilização. Imaginara que esse povo viveria em  túneis escavados nas montanhas, protegendo-se do avanço da lava dos vulcões. Seria um povo de guerreiros, adoradores do fogo a quem sacrificavam  homens e animais em cerimónias de sangue e de magia.
Claro, ele sabia serem apenas histórias que foram passando de geração para geração, porque afinal, nunca ninguém encontrara rastos da cidade perdida.
O que o não conseguia entender era a febre que atacara o amigo americano. Afinal teria sido um chamamento? 
 E como a confirmar, olhava para Robert. Estava, impaciente e tinha um brilho estranho no olhar. Estava branco como se, de repente o sangue lhe tivesse desaparecido do corpo.
De facto Robert sofrera uma transformação. Agia agora como alguém que teme que a vida se esgote. Arrancou de imediato, sem um adeus ou um aceno.
O arqueólogo fascinado pelas civilizações desaparecidas, também interpretara o seu estado febril como um desafio, um aviso, talvez um apelo. Era estranho, a febre desaparecera logo que tomara a decisão de cancelar o retorno por barco e decidira voltar a perder-se nos caminhos do desconhecido.
 Não partiria de barco porque acreditava que num qualquer recanto perdido da floresta o destino esperava por ele. E não iria faltar ao encontro, nem que isso lhe custasse a vida.

Ruben ficou no meio do caminho, com o coração apertado. Estava só, sentia uma sensação de perda pois acabara de ver partir um amigo que o acaso lhe dera a conhecer e sentia um frémito só de pensar que talvez não o voltasse a encontrar.
Por momentos pensou em desistir, mas quando entrou no navio e se apresentou ao chefe cozinheiro que lhe entregou as fardas, atribuiu um beliche bem perto de uma vigia e lhe distribuiu trabalho, deixou para trás os seus receios, e subiu à coberta para espreitar a saída do navio.
E como era lindo o mar, azul e esverdeado, ondas leves que pareciam abrir-se para deixar que a quilha do navio as ultrapassasse. Estava tranquilo, o trabalho era o mesmo que já fizera no hotel, apenas o navio era um mundo que não esperava.
Regressou à zona da cozinha e da copa e começou o seu trabalho. De repente ficara alegre e determinado. Nada nem ninguém iria impedir que cumprisse o seu sonho. Devia isso ao amigo que partira buscando o sonho, assim como ele também perseguia a ilusão dum futuro melhor.
O navio de cruzeiros seguia cheio de homens e mulheres, turistas que regressavam de férias em Acapulco e haviam escolhido aquele cruzeiro para continuarem a usufruir do sol, do mar, e dos jogos de casino e do amor.
Ruben que ajudava ao serviço,  espreitou e ficou deslumbrado com o requinte com que os passageiros aguardavam a hora do jantar.  As mulheres que durante o dia vira em fatos de banho e ou em calções usavam agora vestidos compridos, decotes ousados e jóias reluzentes. Os homens de fato e gravata, pareciam estar a aguardar uma qualquer recepção oficial. O certo é que uns e outros estavam bem dispostos, riam e despejavam taças de champanhe. No Hotel onde trabalhara, Ruben nunca vira um jantar assim.
Enquanto caminhava pelo salão segurando uma bandeja com taças e copos cheios, o seu colega, um mexicano mais velho, convidava os passageiros a uma bebida que escolhiam de uma mesa farta. Ruben estava de olhos arregalados, nunca vira tanta mulher bonita e sentiu que algumas lhe sorriam de forma convidativa.  Algumas bem reparou que procuravam companhia e ele era um pouco atrevido. Mas o colega mexicano, já o avisara:

- Tem cuidado, sabes algumas procuram apenas uma aventura de uma noite, e o Comandante não admite que na sua tripulação haja envolvimentos com turistas. Olha o teu lugar era de um colega que se deslumbrou e ficou em Acapulco. A Companhia tem uma política muito exigente e basta um turista apresentar uma queixa para o trabalhador ser logo despedido. Se queres conservar o teu trabalho, finge que ignoras os convites mais ou menos descarados. E sobretudo, foge de homens e mulheres que beberam demais.
Ruben percebeu o aviso, não queria deitar por terra a confiança que outros tiveram nele, guardou distância.

O navio atracou no porto na Costa Rica de onde se via uma praia de areia dourada que se estendia ao largo da costa. O director do Cruzeiro confirmou aos passageiros que a praia  e o lugar eram seguros. O navio iria ficar atracado até ao meio dia do dia seguinte, hora a que regressaria ao mar para a última etapa do cruzeiro, o Canal do Panamá.
Porque alguém teria comentado que, teria havido uma invasão por tropas da Nicarágua, o Director explicou que tal se devera a um erro de satélite, na identificação da fronteira entre os dois Países, mas que, esclarecido o erro, tudo voltara a normalidade
Ruben ficou no navio, estava demasiado ansioso. Ficou no seu lugar lendo em voz alta, o poema de Ruben Dário, que o amigo americano lhe recomendara. E lembrou-se do amigo e sentiu frio e medo sem perceber porquê. Interrogou-se se o voltaria a ver?

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