sexta-feira, 13 de abril de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

ENCONTRO E DESENCONTRO

Ruben estava na amurada na hora que o navio ancorou. Assistiu à saída dos passageiros, e foi com alguma impaciência que aguardava a autorização para abandonar o navio.

Entretanto o Comandante mandara-o chamar, avisando que não devia sair sem falar com ele.
Foi, encontrou o Comandante na torre de comando que lhe estendeu a mão num cumprimento de despedida e lhe entregou um envelope com dinheiro, salário pelos dias de trabalho naquela viajem.
 Ruben aceitou mas mostrou algum constrangimento. O comandante atribuiu o mal-estar do Ruben a qualquer dúvida sobre o valor que lhe pagara e não hesitou em perguntar:
- Ruben eu reparei que não ficaste muito contente com o dinheiro que te entreguei e mais ainda porque nem verificaste o valor. Diz-me o que se passa, estás arrependido?
- Senhor comandante, eu não estava à espera de receber pagamento, nem nisso pensei. Os dias de viajem não foram trabalho, foram principalmente uma forma de percorrer uma parte do caminho que sonhei para alcançar o meu objectivo, os EUA. Mas o senhor Robert não vai estar aqui e confesso que sem ele me sinto um pouco perdido.
- Compreendo e sabes que entrar na América não te vai ser fácil. Ele avisou-te sobre o visto e tens dinheiro suficiente? Podes ser franco se eu puder ajudar fá-lo-ei!
- O senhor Robert deu-me mil dólares que guardo comigo e que serviriam para comprar a passagem para Nova Iorque. O visto, irei procurar um amigo, funcionário no consulado americano, o senhor Perry que, penso, já terá recebido o pedido do meu amigo.
O Comandante ouviu e comentou:
- Acredita o teu amigo não te abandonou. Ele fez o que podia para te ajudar, mas acredita, mesmo assim não vai ser fácil.
Eu não sou natural dos Estados Unidos, e preciso de revalidar o visto no consulado no Panamá.  
Não é fácil de obter e não me recordo de ter conhecido algum funcionário no consulado que se chame Perry. Mas posso estar enganado, tenta e se tiveres dificuldades vem falar comigo.
Mas quero dar-te um conselho. Não confies em pessoas que não conheces, não pagues nenhum serviço, seja ele qual for. Aqui param muitas pessoas, homens e mulheres, que têm uma grande apetência por turistas a quem farão tudo para assaltar e roubar. Tu não és turista mas vieste no barco de luxo, logo és um alvo.
Eu sei que tens experiência de vida, afinal no teu País não será muito diferente. Mas aqui é mais perigoso.
O navio vai aguardar neste ancoradouro, o próximo cruzeiro. Ficará em limpeza e manutenção por uma semana. Aceita o meu conselho, vai à procura do visto, mas se precisares volta aqui.
Ruben regressou ao seu beliche. Juntou o dinheiro que trazia numa bolsa interior das calças, tirou apenas algumas notas de cinco dólares e foi bater à porta da cabine do camarote do comandante, pedindo:
- Por favor Senhor Comandante guarde as minhas economias, e estendeu-lhe a bolsa. Eu sou tentar a sorte, se não voltar antes da partida do barco, peço que mande esse dinheiro para a morada que vai indicada no envelope. É a casa da minha mãe.  
O Comandante aceitou dizendo:
- Vai, não desistas à primeira dificuldade. Acredito que nos voltaremos a ver.

Ruben desceu e perdeu-se andando na avenida ao longo do canal. Havia muito tráfego embora fosse hora de almoço, mas o que o surpreendia era a quantidade de automóveis grandes, cor escura e com filtros espelhados. Ele apenas via o condutor que conduzia olhando atentamente para as pessoas que passeavam a pé ao longo do canal. E lembrou-se do aviso do comandante.
Num hotel do lado oposto viu o letreiro de agência de câmbios. Viu as cotações, vendeu vinte dólares e recebeu uma mão cheia de notas. Eram notas de cinquenta e cem e o valor facial era na moeda oficial, Balboa.
Bem perto viu um polícia e decidiu perguntar o caminho para o Consulado Americano que, só sabia dizer que ficava na Avenida do canal. O polícia, óculos escuros, armado de pistola em coldre descaído na anca, há boa maneira dos cowboys teve alguma dificuldade em perceber o seu dialecto mas acabou por dizer que era longe, lá para o fim da avenida. Se quiseres eu telefono ao meu primo, tem um táxi parado nas redondezas e leva-te lá e até pode esperar. É tudo uma questão de preço. Eu falo com ele e consigo uma tarifa mais simpática. Pode ser?
- Não, obrigado respondeu Ruben, mesmo com um preço simpático não terei dinheiro que chegue.
O Polícia resmungou palavras que Ruben fez por não entender enquanto continuou a sua marcha, sempre atento à passagem de algum autocarro que seguisse na mesma direcção.

Teve sorte, tirou o bilhete e duas paragens depois o autocarro imobilizou-se no final da carreira, precisamente antes do edifício onde se via esvoaçar uma bandeira americana.
Pronto, aqui estou, agora é só encontrar o contacto.
Na portaria e antes de entrar na embaixada, foi revistado por polícias diferentes. Eram soldados do exército americano.
O seu inglês não era muito bom, estava um pouco enferrujado, mas pensava ser o suficiente para se fazer entender. Dirigiu-se a um guichet e pediu para falar com o senhor Frank Perry. A mulher ainda jovem e bonita que o atendeu, riu e propôs que falasse em espanhol, será mais fácil para ti e também para mim. Eu sou da Costa Rica, rematou.
Ruben sorriu e reformulou o pedido. A jovem começou a percorrer os ficheiros de arquivo do terminal de computador, repetiu a pesquisa e causou a primeira desilusão ao jovem viajante. Com esse nome não existe nenhum funcionário em serviço activo. Vou pesquisar se houve alguém com esse nome que entretanto se tivesse reformado ou transferido.
Parou a pesquisa e arregalou os olhos, bonitos. Não pode ser, disse, o senhor Frank Perry foi efectivamente funcionário do consulado mas já morreu, deixa cá ver, há mais quinze anos e foi sepultado na sua terra natal, Nova Iorque.
Ruben ficou lívido sem saber o que dizer.
Foi Marina, assim se chamava a recepcionista que surpreendida, perguntou como é que ele estava a procurar uma pessoa que já desaparecera havia tanto tempo. Foste enganado, não é?
- Não sei o que pensar, E eu que contava com ajuda para obter o visto para entrar nos EUA., lamentou-se Ruben.
- Um visto, quanto tempo em que podes esperar? Seis meses, um ano? É que eu já aqui estou há mais de seis meses e ainda não sei se vou conseguir obter o visto, e quando.
De qualquer modo, preenche o pedido pela internet e aguarda. Tens aqui o endereço e se tiveres dúvidas tens o meu número de telemóvel, liga.
- Assim farei. O meu nome é Ruben, sou da Guatemala e quero ir para Nova Iorque. Eu não me vou esquecer de ti, mas uma fotografia seria bem-vinda. Quem sabe, poderemos ir juntos?
- Marina riu-se, tirou da gaveta um álbum, escolheu uma fotografia e escreveu no verso uma dedicatória. Quem sabe os dois vamos conquistar a América. Um beijo

Entregou e insinuou, porque não? Gostaria da tua companhia, oxalá tu também gostes da minha.

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