NOVA IORQUE
O navio encostara numa doca em Miami Beach. Os turistas começaram a descer, trocando promessas de encontros futuros e cumprimentos à tripulação, lamentando os dias que se haviam escoado num instante. Na despedida, prometiam voltar.
O comandante e os outros oficiais vestidos com a farda de um branco imaculado cumprimentavam com um sorriso, cada um dos passageiros.
Ruben, aliás José como já era conhecido entre os colegas, fazia parte da tripulação que ajudava a transportar as bagagens e recebera alguns dólares de gratificação.
Com a saída do último passageiro, o comandante e o imediato abandonaram o barco, que ficaria à responsabilidade do piloto até à chegada de instruções da Companhia sobre o cais a que deveria atracar, até nova viajem.
Era para José a hora de descer e enfrentar o destino.
Com a bagagem numa das mãos e com os documentos na outra foi andando até ficar na fila para o controlo das Autoridades. Fazia todo o esforço para aparentar um à-vontade que, na realidade, era só aparente.
Respondeu às perguntas que o agente de Polícia lhe fazia enquanto ia controlando o passaporte. Parecera uma eternidade mas não fora assim. Recebeu ordem para entrar, passou na alfândega, foi minuciosamente revistado. Não tinha nada de suspeito, apenas o livro que a senhora folheou comentando em Espanhol:
- Também eu gosto muito de poesia e o autor é um dos meus favoritos.
Na rua o novo José Pinar ficou aturdido e meio perdido no meio da multidão.
Não pedira conselhos a ninguém e vira algures que um dos caminhos para o seu destino poderia ser o Greyhound Bus. Não arriscou procurar alternativa e tomou um táxi com destino à central de onde o autocarro iria partir.
Foi cara a corrida, era longe e o trânsito era infernal. O motorista resmungava sempre que um carro andava mais devagar e a língua que utilizava era familiar. Era um hispano como ele. Como já sabia seriam a maior parte dos habitantes da grande cidade.
Comprou o bilhete para o transporte que partiria às 7,30 AM. Pagou e foi analisar o percurso que teria de fazer.
Confirmou que teria duas mudanças. A primeira às 13 horas em Orlando e nova partida quase duas horas depois. Serviria para comer qualquer coisa pois não se atrevia a perder a ligação. Voltaria a parar em Richmond agora pelas 5 horas AM. Mais um tempo de espera de duas horas. Finalmente a chegada a Nova Iorque às quinze horas PM do dia seguinte. Fez as contas, iria andar metido num autocarro, um dia completo e mais quinze horas.
Arrependeu-se, mas era tarde para mudar de transporte. Já gastara o dinheiro e pior ainda, teria que dormir na estação desde que ali chegara, dezoito horas até à hora de partida.
Mas agora na América tudo iria valer a pena, o seu futuro estava ao alcance de menos de dois dias de viajem. O que era isso para uma vida perguntava a si mesmo?
Já se aproximava do destino quando a seu lado uma mulher ainda jovem e que pela pele parecia ser natural da América Latina, depoois de um ou outro olhar furtivo, começou a falar.
- O meu nome é Dolores, sou natural de Porto Rico e venho de Washington para visitar os meus tios que já não vejo há tempo. Aproveito esta altura, o pico do verão, pois a cidade fica mais calma. Os que podem, fogem da fornalha do mês de Agosto. E você, vem de férias ou também para junto de familiares?
- Eu, chamo-me José, sou natural da Costa Rica e venho cumprir um sonho e ao mesmo tempo tentar encontrar trabalho, para me manter e poder ajudar a família que deixei na minha terra. A minha Mãe e as minhas irmãs.
- Desculpe a minha curiosidade, insistiu Dolores, você já tem alojamento ou vai ficar em algum hotel?
José respondeu que não nem sabia o que fazer, pois o dinheiro não lhe permitiria permanecer num hotel mesmo modesto, por mais de uma ou duas semanas, o tempo de arranjar trabalho, confessou.
- Posso dar-lhe um conselho Josè?
- Claro até agradeço.
- É assim, o alojamento nesta cidade é caro, as pessoas têm o hábito de partilhar o apartamento, dividindo a renda e mais despesas. É assim com os jovens que estão a estudar, outros à procura de trabalho e as coisas funcionam bem. Eu só vou ficar por um mês em casas dos meus tios. Se quiser venha comigo, eles arranjarão um cantinho para si e as despesas nem dará por elas, vai ver. Mas lembre-se, arranjar trabalho não será fácil. O melho é poupar pois ganhar dinheiro pode demorar algum tempo.
Ruben não tinha nada a perder e aceitou o convite. A rua era longe da paragem final do autocarro, mas tinham metro, até relativamente perto. Ruben fixou a Rua E 127, nº. 148. Era uma zona onde via muita gente parada nos passeios, muitos jovens jogando à bola no meio da rua, enfim, pensou, cheguei à minha terra.
Dolores, avisou.
- Como calcula não vamos ficar numa zona chic da cidade. A zona chama-se Spanish Harlem, e isso diz tudo.
Tente encontrar trabalho mais na zona comercial, lá para o sul da ilha.
Os tios de Dolores optaram por dividir o quarto que prepararam para a sobrinha, Era nas águas furtadas, mas tinha janela para a frente e para a traseira da casa, o que facilitou a tarefa.
Quanto ao preço, nem quiseram falar. Não é assunto que seja importante. Temos dois filhos na vida militar. Um está bem longe, lá no Afeganistão o outro está no quartel na Virgínia. Por isso a vossa companhia será bem-vinda, disseram olhando com amizade para Dolores e o amigo de viajem.
Era noite, deitado na pequena cama junto à janela, Ruben olhava as estrelas e lá longe a torre do edificio Chrysler.
Deixou escapar uma lágrima. lembrando a família distante. Ele ali estava, tão longe mas onde sempre sonhara estar. Mas apesar de ter encontrado gente que o ajudara, prometeu que um dia voltaria à sua terra. Quando?
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