quinta-feira, 3 de maio de 2012

O ÚLTIMO VAMPIRO EM NOVA IORQUE

ENCONTRO COM O VAMPIRO

Com uma viajem de tantas horas, Ruben havia perdido a noção do tempo. Acordou estremunhado com a luz que lhe inundava o quarto. O relógio marcava 9 horas, já nem se lembrava de alguma vez ter dormido até tão tarde.
Todavia não ouvia barulho nem no quarto ao lado, apesar de apenas separado por um simples e frágil tabique. Era o quarto de Dolores. Encostou o ouvido e deu por um respirar tranquilo, de alguém que dormia.
Pé ante pé e descalço desceu as escadas até ao quarto de banho que não ficava longe. A casa estava em silêncio, espreitou na sala, no corredor e não viu ninguém. Melhor assim, sem pressas.
Terminara a sua higiene pessoal, mudara de roupa e regressava ao quarto quando ao subir as escadas encontrou Dolores que o provocou:
-Hoje é Sábado, deves estar cansado assim como eu. E à noite temos que estar frescos porque a noite é para dançar, namorar, eu sei lá, para viver. E eu preciso de companhia. Ai Nova Iorque a cidade que nunca dorme e que espera por nós. De uma forma um pouco descuidada ou não, mostrava o corpo quase desnudo e um olhar atrevido.

Ruben ficou sem reacção, mas não conseguia tirar os olhos do corpo que adivinhava.
Todavia comentou:
- Eu também gostava de ver a noite na cidade, gozando da tua companhia, mas o que me preocupa é arranjar trabalho.
- Sim claro, mas hoje é sábado, é a noite de todos os encantos e de todos os desafios. Amanhã começaremos a consultar jornais locais com anúncios. Mas só de tarde, pois acredito a noite vai ser longa.
Levantou-se, mostrou um bocado generoso do corpo, riu e foi para a toilette.
Saíram de casa, era quase meio dia, e procuraram um café restaurante que servisse o desejado brunch.
Enquanto Dolores ia falando ao telemóvel com amigos e amigas combinando o local para a noite, Ruben ia perdendo um pouco de confiança. A cidade que ele imaginara estava em outro lugar, e era lá que teria que procurar trabalho. Naquele bairro acreditava que oportunidades de trabalho não existiriam.
Mas a noite fez esquecer as suas dúvidas. Perdeu-se num clube barulhento, dançando e bebendo até ser dia. Deixara de ver Dolores e interrogava-se como ia voltar para casa, nem tomara nota da rua. Mas Dolores apareceu, pegou-lhe na mão e disse:
- Vamos lá para casa meu cavaleiro. Vamos terminar esta noite, estou exausta e parece que os dois precisamos de descansar. Não é?

Apesar do que pensava fazer, procurar trabalho, aquele mês de Agosto foi passado em passeios pelas sombras do Central Park, partilhando os dias com  Dolores. Gostavam da companhia, Dolores era uma mulher alegre e o seu sorriso contagiou Ruben. Mas ambos reconheciam terem objectivos de vida bem diferentes. Por isso iriam viver aquele mês e, talvez um dia, o destino os juntasse de novo.
Dolores partiu e Ruben dedicou cada dia. cada semana à procura de trabalho. Tantas entrevistas, tantas promessas e afinal, tantas desilusões.
Percebeu que tinha de explorar outras partes da cidade. Um dia em que o calor sufocava, apanhou o metro, uma linha que ainda não experimentara. Desceu em Times Square e por entre grupos de turistas foi descendo até fugir do movimento e escolheu descer a Brodway.
Entrou num café e numa mesa bem no interior esteve de novo a pesquisar os anúncios de ofertas de trabalho. Assinalou dois ou três e sem saber porquê, o primeiro que decidira ir apresentar-se ficava longe, num bairro assinalado como sendo Bowery e o emprego era oferecido pelo hotel com o mesmo nome.
Andou muito, no mapa parecia mais perto, murmurava. O sol já se escondera e pouco a pouco a noite ia caíndo sobre as ruas, até ao momento quase desertas.
Pensou voltar para casa, estava tão longe que demoraria mais de uma hora de metro a chegar ao quarto que mantinha em casa dos tios de Dolores.
 Voltou a ver o mapa para escolher a estação de metro mais próxima. Afinal a que ficava a dois ou três quarteirões era mesmo a estação de Bowery. Que coincidência, andara tanto, percorrera a cidade de ponta a ponta e hoje, ao fim de mais de um mês de procura viera dar ao endereço de que se esquecera.
Sim, lembrava agora,  Robert tinha dito que quisera morar numa parte velha e típica da cidade e que comprara dois apartamentos num prédio desabitado encostado ao Bowery Hotel.
Conseguiu encontrar na carteira o papel onde apontara o endereço que o amigo lhe dera. Estava já escuro mas debaixo de um candeeiro, numa esquina da rua do hotel confirmou a morada. Estava ali, e sentia com algum temor que alguém ou algo o acompanhara até ao destino.
O que o destino lhe reservava não sabia, hesitou por alguns momentos, talvez o amigo já tivesse voltado da sua aventura e ele Ruben devia-lhe uma visita.
Não fora programada, quase se esquecera, mas alguma magia o havia guiado.
Antes de entrar no hotel olhou para o prédio do amigo. Parecia vazio e até um pouco desleixado. Tocou a campainha e à segunda tentativa da chamada, premiu o botão para o terceiro andar e, surpresa, a porta abriu-se. Estava a ficar  escuro, os degraus das escadas mal se viam. Respirou fundo e cheio de coragem e devorado pela cusiosidade foi subindo até ao terceiro piso.  A porta  estava aberta, entrou e sentiu como se um vento frio lhe tivesse percorrido o corpo. Estava  numa sala grande, decorada com estátuas e pinturas que lhe faziam lembrar os mistérios das cavernas e das florestas da sua terra.











Olhava fascinado e não deu que sentado no canto mais sombrio da sala um homem estava sentado e o olhava com atenção.
Era o Robert, mas estava tão mudado que quase nem o reconhecera. Aproximou-se mas recuou, Robert era um homem serpente.

E o amigo disse-lhe com uma voz grave e arrastada, como se lhe faltassem as forças:
- Sê bem vindo meu amigo, esperava há tanto tempo, há tantos anos, pela tua visita. Mas vieste. Isso é que importa.

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