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Serra do Marão
1 – A primeira noite
A noite estava estrelada. Era lua nova e todas as estrelas brilhavam mais, naquela noite do mês de Agosto
Estava calor e dois amigos saíram da tenda ao mesmo tempo, estenderam um cobertor no chão atapetado de erva e ficaram imóveis olhando a imensidão do céu e saboreando a brisa ligeira que circulava entre as fragas em redor.
A noite chegara depressa e tinham optado por parar, algures numa encosta da serra do Marão. Era uma solução improvisada, para retemperar as forças, gastas depois de terem guiado desde Lisboa, por estradas secundárias.
Estavam isolados e perdidos. Não se vislumbrava uma casa, uma luz. A escuridão caíra de repetente. Aproveitaram um lugar mais plano para montar as tendas de que se haviam prevenido. Depois conseguiram estacionar na berma do caminho, a carrinha em que se transportavam e que funcionava como apoio e com um pouco de improvisação, fora baptizada de caravana.
Estavam de passagem, ficariam por apenas uma noite, já que o destino de férias seria uma casa do meio da serra, casa rústica à beira de uma estrada que não sabiam exactamente onde ficava mas que os conduziria à aldeia, quase deserta, naquelas terras do fim do mundo. Esperavam encontrar alguém que lhes indicasse o caminho, mas nos quilómetros que haviam percorrido numa estrada terra batida, nem sinal de vida tinham encontrado.
Era uma aventura a que aquele grupo de jovens amigos tinha aderido, fugindo à tradicional viagem de final de curso.
A casa fora uma sugestão do Simão, o amigo sempre disponível e com quem os outros podiam contar. Era calmo, pachorrento mas era sobretudo coração aberto.
Era tão disponível que o grupo, onde se cruzavam temperamentos inquietos, ambições, desilusões afectivas, convicções profundas, se baptizara como Simão & Companhia.
Eram um grupo de amigos, que se conheciam desde os bancos da escola, andavam na casa dos dezassete dezoito anos, estavam portanto na idade de definir o futuro.
E o futuro começava naquele ano, quando tivessem que começar a percorrer o caminho de cada um.
As férias num local isolado, longe de tudo, serviriam como a despedida.
Afinal seria como a passagem da juventude para outro degrau, outra responsabilidade, outros encontros e desencontros. O tempo seria inexorável, a amizade que os ligara poderia ficar pelo caminho. Por isso queriam comemorar e deixar os braços abertos. Todos por cada um.
Pintura
Maria Helena Vieira da Siva
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