quinta-feira, 17 de março de 2011

POR AMOR

2 – Praça Grande

Como opção lembrou-se de procurar no Alentejo interior, longe e perdido em plena planície, um lugar onde pudesse afogar as mágoas, olhando a paisagem sem fim, acompanhar o pôr do sol, respirar as brisas da madrugada, e porque não, escrever a história daquele tresloucado amor.
Através da Internet, encontrara uma casa velha, isolada no alto de um monte e decidiu comprá-la, sem ter tido a preocupação de ver o estado em que a mesma se encontrava. Ficou apaixonado pela localização e esqueceu o resto.
Na realidade apenas sabia que o lugar que escolhera ficava a alguns quilómetros de Beja, rodeado de campos abandonados e aqui e ali por searas de trigo ondulando ao vento. Era a descrição que o funcionário da agência imobiliária lhe tinha vendido.
E ali estava, no meio de nenhures. Olhou à volta, ganhou forças e lentamente refez o caminho descendo a ruela deserta e sem saída, até à praça onde o autocarro o tinha deixado.
Teve sorte, pois reparou que a praça não era assim tão insignificante quanto lhe parecera. Escolheu abrigar-se do sol, debaixo de uma frondosa árvore, rodeada de bancos de maneira. É aqui, pensou, que as pessoas se devem reunir e é aqui que terei de esperar por alguém que me saiba indicar o caminho, para a casa na colina.
Sentado no banco que escolhera, espraiou a vista pelos montes que avistava. Num deles estará a minha futura casa, murmurava. Sabia que não iria habitar um palácio, tampouco uma casa tipo novo-rico, apenas uma casa onde tivesse a quietude de que precisava para iniciar a sua nova vida.
Entretido a olhar o horizonte, não se tinha apercebido que três homens, já tinham ocupado um outro banco e que o olhavam com indisfarçável curiosidade.
Levantou-se e notou também que, arrastando os pés, mais um grupo de homens curvados e amparados em bengalas, se dirigiam para os bancos. Afinal, não era uma praça pequena, toda a experiência de vida daqueles homens,concerteza iria transformar o lugar numa Praça Grande. E ficou feliz.
Dirigiu-se aos novos companheiros:
– Os senhores desculpem eu sou um novo vizinho e vou morar na Casal do Fonte, na Casa da Colina. Chamo-me Luís Freitas. É a primeira vez que aqui estou e peço o favor de me indicarem, o caminho que devo tomar, para chegar a casa.
Dos velhotes uma grande parte nem o devia ter ouvido ou percebido o que dissera. Eram velhos, de olhar ausente, ombros caídos, cansados de viver. Luís sentiu um arrepio, não era nada do que esperava encontrar. Todavia, um outro sorriu, cumprimentou o novo vizinho, dizendo-lhe com voz rouca mas segura, que devia procurar o Senhor Manuel da loja, que não tarda vai abrir a porta, e com a mão nodosa e trémula, de quem tanto trabalhou, indicou-lhe uma casa caiada de branco e debruada a azul. Sobre a porta escrito, Supermercado.

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