quinta-feira, 31 de março de 2011

ENCONTRO COM UMA MULHER SÓ

3 – O sorriso e o silêncio

O silêncio foi interrompido pelo sinal de chamada do telemóvel que se esquecera no salão, foi atender apressadamente, antes que a Mãe o fizesse.
Do outro lado era a D. Natércia, secretária do gabinete de advocacia para onde tinha enviado o trabalho. Por entre as habituais desculpas, a senhora pediu se lhe era possível atender do Dr. Ricardo Reis, que teria algumas dúvidas para esclarecer. Respondeu que sim, e ouviu o pedido.
- O escritório, tinha uma equipe reunida, para fazer a revisão da documentação que serviria de suporte à negociação de segunda-feira em Berlim. Reconheciam que a sua presença era essencial, e apesar de ser um sábado, vinham pedir para se juntar ao grupo.
Maria Fernanda aceitou. O pedido era a oportunidade de sair, fugindo à rotina de um chá, muito cerimonioso, a Mãe fazia disso questão, e onde as senhoras falavam de trivialidades ou de algum escândalo noticiado nas revistas da moda.
Preparou-se para sair, e perante a surpresa da Mãe, disse que não fazia ideia a que hora iria regressar. Tudo vai depender do trabalho, acrescentou.
Chegou ao escritório que já conhecia de anteriores reuniões e o Ricardo Reis apresentou-a aos outros presentes que não conhecia. Apresentou-lhe então uma colega a Dr.ª. Clotilde, mulher ainda jovem mas com ar experiente, o Dr. Rafael, outro colega e um advogado estagiário chamado Dr. Carlos Alberto.
O trabalho foi revisto por cada um dos participantes e, em reunião conjunta, discutido ao pormenor.
Quando o Ricardo deu o seu acordo ao dossier completo, incluindo a minuta do contracto e seus apêndices, redigido em Português e Alemão, respiraram de alívio.
Era já tarde. Ricardo incentivou-os a irem jantar, o escritório pagaria, mas ele não iria pois que ir buscar os filhos. Foi com um sorriso triste que se despediu de Maria Fernanda. Havia qualquer coisa para dizer, mas ficaram em silêncio, mãos entrelaçadas.
Alguém sugeriu um jantar e depois uma bebida para comemorar e todos deram o acordo. É pena que Ricardo, não possa estar presente, ele está mesmo a precisar de desanuviar, mas eu sei que este é o fim de semana que ele tem para ficar com os três filhos. Conheço a ex-mulher, ela nunca aceitaria qualquer mudança do acordo quando à custódia dos filhos, explicou Rafael.
E saíram, Carlos Alberto era o cicerone e quem decidira o restaurante e o bar para fim da noite.
E Maria Fernanda, sempre tão reservada, integrara-se no espírito do grupo, rira, bebera e dançara até de madrugada. O seu par, Carlos Alberto, jovem e atrevido, dançava de forma sensual e Maria Fernanda sentiu o calor do desejo. A noite despertara-lhe os sentimentos adormecidos, e sentira pena. Como sempre, de si.

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