domingo, 20 de março de 2011

POR AMOR

5 – SONHO DE AMOR
Acordou ao romper da madrugada. Não se lembrava de há quanto tempo tinha dormido uma noite sem ser assaltado por pesadelos. Sair da cidade, esquecer as rotinas, o ar que agora respirava, a paisagem lunar que se estendia à sua volta naquele nascer do dia, tinham sido a razão do seu sono, calmo.
Estava frio mas pouco o pouco, o despontar do sol por detrás dum pequeno monte, trouxe o calor que precisava.
Acendeu o seu primeiro cigarro, que lhe soube de forma diferente. Já não sentira a dependência do tabaco, e apagou-o.
Finalmente, decidira ir conhecer a casa da colina. Pelo que reparou, o exterior não era bem a imagem que vira da Internet e com base na qual construíra a sua memória. Foi pois, com alguma desconfiança, que abriu a porta. Recebeu de imediato uma lufada de cheiro bafiento, carregado de humidade pútrida, que o envolveu e se entranhou. Sentiu-se indisposto e não evitou o vómito.
Não conseguira entrar, recuara para longe da porta entreaberta, enquanto protestava consigo próprio pela sua imprudência. Quisera tanto ter uma casa na colina e acabara por comprar, o que mais parecia ser um túmulo, impregnado do cheiro a morte.
Olhou em redor da casa e pareceu-lhe ouvir o correr de um pequeno regato. Era água e água era o que ele precisava para se livrar do odor que se colara ao corpo. Foi correndo que encontrou um fio de água, que brotando de um pequeno monte, se ia acumulando num pequeno tanque.
Nem hesitou, arrancou a roupa que vestia, atirou-se para dentro do tanque. A água estava muito fria, esfregou-se com energia mas só conseguiu estar por breves minutos. Saltou para fora e para aquecer, começou a correr à volta da colina. De repente parou. Junto da sua bagagem estava uma motocicleta e um atrelado. Pensava ver o Manuel, mas deu com uma mulher jovem, que se ria, enquanto ele, olhos arregalados pela surpresa e tapando com as mãos os órgãos genitais, batia os dentes com o frio.
-Não fique assim envergonhado, a sua figura é peculiar mas não é surpreendente. Trate lá de encontrar a toalha para se secar, para ficar mais à vontade, enquanto eu vou dar uma volta.
Luís não tinha toalha. Mesmo assim trocou de roupa, sentiu ainda alguns arrepios de frio mas, sentado virado ao sol, foi ficando mais calmo.
A mulher voltou do pequeno passeio, sentou-se ao lado e apresentou-se:
- Não se admire, o meu nome é Joana e sou irmã do Manuel que já é seu conhecido. Pela sua cara vejo que já foi visitar a sua casa e não gostou. O meu irmão deveria tê-lo avisado que a casa esteve fechada durante muito tempo, creio há mais de oito anos, e como calcula, precisará de uma limpeza profunda e alguns pequenos arranjos.
- Sim de facto a casa foi uma surpresa que me deixou agoniado. Ali, tão depressa não volto a entrar, respondeu com desgosto.
- Não diga isso. Siga o meu conselho, volte para a aldeia, eu levou-o no atrelado, e lá arranjaremos lugar para se acomodar, enquanto não tiver sido feita e recuperação da sua casa. Mas desde já lhe recomendo que não desista, a casa da colina é um lugar especial, pois ela foi testemunha de um lindo sonho de amor. Um dia ouvirá contar a história.

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