quarta-feira, 6 de abril de 2011

O BANCO NO JARDIM

SOLIDÃO

Sentado, no banco do jardim público, um homem via passar os transeuntes que, apressadamente, se dirigiam para o seu trabalho.
Apresentava-se, vestido com um sobretudo que, não sendo novo, mostrava ainda assim ser de qualidade, e o protegia da chuva miúda que começara a cair. Na cabeça, um chapéu, que já fora preto, mas que apresentava manchas escuras, junto à fita, desbotada, que lhe dava a volta.
Não tinha um aspecto desleixado, tinha a cara muito bem barbeada, e as mãos entrelaçadas no colo, não apresentavam sinais de sujidade.
As pessoas passavam, ele segui-as com o olhar ausente, até as perder de vista, voltava a escolher outro caminhante e fazia o seu seguimento da mesma forma.
Luís Alberto, um homem na casa dos seus cinquenta anos, que tinha um estabelecimento comercial na zona do Chiado, decidira, naquele dia ir a pé. Afinal, morava na Avenida Álvares Cabral, e um passeio até à loja, tinha-lhe sido recomendado pelo médico. Todavia, tinha escolhido um mau dia para iniciar o percurso, pois caía uma chuva miúda, mas irritante. Abrigou-se no portal duma escada, em frente do jardim, e por isso assistiu, intrigado, àquele ritual.
Esteve mais de meia hora e a situação permanecia a mesma. Condoeu-se, e resolveu aproximar-se do solitário, convicto que o homem precisava de ajuda. Chegou-se à frente, parou um momento e perguntou se precisava de alguma coisa.
O homem interrompeu por momentos o movimento, olhou quem o interpelava e abanou a cabeça, a dizer não.
Já sei, pensou Luís Alberto, o homem está a pedir, mas de tal forma envergonhado, que nem estende a mão. Deve ser um dos novos pobres de que tanto se fala. Puxou do porta-moedas, tirou uma moeda de dois euros e ia dá-la, quando o desconhecido lhe afastou a mão, recusando a esmola. Sentiu-se incomodado pela sua atitude, afinal o homem não era um pedinte. Deixá-lo em paz, pensou para consigo mesmo. Guardou a moeda e recomeçou a andar, afastando-se do banco de jardim. De repente parou, voltou atrás e como entretanto deixara de chover, sentou-se no mesmo banco.

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