sábado, 9 de abril de 2011

O BANCO NO JARDIM

4 – O VAZIO Tomada a decisão de encontrar o amigo, Luís Alberto esbarrou com uma verdade de que não se apercebera. Na realidade ele não conhecia o nome, a casa ou a rua do companheiro, apenas conhecia o banco no jardim. Contava, contudo, que um homem que durante alguns meses permanecera sentado naquele lugar, não passaria despercebido e alguém o poderia conhecer, algum vizinho, ou transeunte habitual, já que o espaço físico em que ele se movimentava, não seria muito vasto. Tentou a Polícia, mas sem resultado, dos hospitais também não, porque se confrontou com o pedido de dados, nome e morada, a que ele não sabia responder. Não sabia a quem mais recorrer. Olhando para uma planta da cidade, traçou um círculo à volta do banco e do jardim. Nesse espaço, delimitado por ruas íngremes,ladeadas por casas antigas com muito pouco movimento,deveria encontrar alguém que conhecesse o amigo. Assim, todos os dias, depois de confirmar que o banco estava vazio e de mapa nas mãos, palmilhava as ruas procurando interrogar homens e mulheres, de preferência de idade. Os resultados foram uma série de respostas que o deixaram estupefacto. Desde “ não sei nem quero saber”, “a minha vida já chega para me preocupar com os outros”, eu não tenho por hábito espiar os vizinhos” até ao “vai trabalhar”. Nunca pensara que a indiferença fosse tão evidente, ele que sempre julgara que a existência de cumplicidade entre vizinhos, e disponibilidade para ajudar, eram comuns. Não, as pessoas a quem se dirigira pedindo ajuda, não eram os vizinhos de antigamente, que se conheciam e preocupavam uns com os outros. Hoje era cada por si. Andava já há alguns dias desta procura infrutífera e não sabia o que mais fazer. De repetente, olhou para o largo do Jardim onde grupo de homens assistia a um jogo de cartas. Eram certamente conhecidos de todos os dias e foi tentar pedir ajuda aos presentes. Alguns lembravam-se do homem do sobretudo, mas como ele nunca se juntara ao grupo, não sabiam nem o nome nem a morada. Regressava a casa de coração vazio, cansado de tantas voltas e desenganos. Acabou contando à Mulher a sua aventura e o seu fracasso. Sabia que era inútil a procura mas não conseguia esconder a tristeza. Perdera um amigo. Passou a ficar em casa, dizia que não se sentia bem e pedia à mulher para ficar a seu lado. Era estranho, não sabia porquê, mas tinha medo de ficar só. A Mulher preocupada sugeriu: - Deixa-me tentar ser eu a procurar, percebes que talvez uma mulher consiga obter alguma ajuda. Vai para a loja, sempre conversas e passas o tempo, em vez de ficares a definhar encafuado em casa. Entretanto eu me encarregarei da investigação. Dá-me três dias, propôs Dona Rosália.

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