sábado, 23 de abril de 2011

O EXECUTOR

5 – O COMEÇO

O apartamento, ainda vazio, foi o lugar escolhido para Pedro abrir o volumoso envelope e começar a ler, cuidadosamente, os documentos.
Estes estavam agrupados em quatro dossiers, numerados e fechados com fita adesiva.
Pedro não evitou um leve tremor de mãos, sentindo que não ia abrir a arca de Pandora, soltando para o mundo os males que encerrava, mas sim abrir o caminho que teria de percorrer. Ele escolhera trilhar aquele carreiro, estreito e sinuoso, quiçá rodeado por muros altos e protegido com espinhos dolorosos, mas não era homem para resistir ao desafio que antevia.
Os dados estavam lançados, seguiria em frente.
Abriu o dossier número um.
O seu conteúdo, escrito em duas folhas de tamanho usual, descrevia em traços muito largos a Organização.
Não tinha endereços, nomes ou números de telefone. Apenas o nome que Pedro já conhecia: “Security Consulting Group, Inc.” Apresentava-se como uma organização não governamental, regida por princípios de extrema confidencialidade, orientada para prestar serviços em matéria de segurança, civil e militar.
A Organização tinha um pequeno núcleo coordenador, sem um lugar fixo e sem ter influência directa sobre os agentes ou colaboradores.
A Organização não é uma Empresa, sublinhava, os Agentes não terão qualquer vínculo nem podem invocar apoio para executarem as tarefas que lhe forem distribuídas;
Em jeito de conclusão e em palavras sublinhadas, a Organização deixava um aviso:
- Todos os colaboradores foram seleccionados ao longo de vários meses. Ao serem convidados, a Organização admita que qualquer um estava ciente da escolha;
- A Organização lembra que, no decorrer do trabalho para que for escolhido, poderá ter de enfrentar riscos e que para os suplantar terá de contar, apenas, com a sua inteligência e discernimento:
- A Organização não intervirá, salvo em condições extremas, não previstas no planeamento de cada acção;
- A Organização lembra que se o agente não se sentir preparado para enfrentar o desafio, deverá parar aqui, destruindo todo o material recebido.
Nada de novo, pensou Pedro, é a conversa do costume, estarás por tua conta e se algo correr mal ninguém te ajudará.
Abriu o envelope dois.
Era o texto do acordo entre as partes. Parco em palavras assinalava apenas que o Agente conhecia as suas obrigações e deveres, lealdade, confidencialidade e discrição.
Em contrapartida a Organização pagaria um valor anual até ao limite de duzentos mil dólares, devendo o agente particularizar o modo e o local de recebimento, que, recomendava, deveria ser fraccionado.
No valor estava englobada a sua avença pela prestação de serviços, num máximo de cinquenta por cento. O restante será destinado a despesas de organização e deslocações e estadias em serviço.
O envelope número três sugeria procedimentos de segurança.
O Agente teria uma ou mais bases escolhidas dando cobertura a uma actividade legalizada, cumprindo as obrigações fiscais ou outras inerentes;
Esse escritório iria receber Ordens de Compras, generalizadas para justificar a emissão dos débitos correspondentes. Essas facturas, deverão cumprir todas as regras legais em vigor no País;
O pagamento será efectuado até trinta dias da data do débito, por transferência bancária para uma conta a indicar pelo Agente.
O Agente deverá comunicar, através de carta enviada para um Caixa Postal em Nova Iorque, com o número que encontrará no último dossier, os detalhes de operacionalidade;
O Agente não poderá exercer qualquer actividade que configure ou caiba no âmbito deste acordo.
Finalmente o envelope número quadro continha chaves e cifras para enviar ou receber mensagens.
Pedro guardou as chaves e as cifras, dissimuladas em documentos irrelevantes, mas escritas de forma que apenas ele conseguiria decifrar.
Os restantes envelopes e o seu conteúdo foram queimados e as cinzas espalhadas na rede de esgotos.
Respirou fundo. Agora tenho de montar a estrutura de apoio para dar o sinal de partida.
Sentia-se na pele de um Agente Secreto, contratado por uma Organização desconhecida. Estava consciente de que o que passo que iria consumar era sem retorno, mas confiava nas suas capacidades.
Na memória apenas fixara um nome. DAVID seria o seu código, e como na história Bíblica, também ele estava preparado para vencer.

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