domingo, 10 de abril de 2011

O BANCO NO JARDIM

5 – UMA LÁGRIMA DE FELICIDADE

Rosália começou por tentar a Junta de Freguesia. No guichet, encontrou uma moça nova e sorridente que a atendeu. Quando lhe contou a história, confirmou que havia muitas pessoas, idosas e sós a quem a Junta prestava auxílio. Na sua grande maioria eram mulheres viúvas ou casais de velhos, esquecidos pela família. A situação que ela relatara, não se encontrava nos registos. Haveria ainda pessoas não referenciadas, mas só o tempo ou a intervenção de familiares ou vizinhos poderiam completar o retrato daquela Freguesia tão envelhecida. A funcionária sugeriu-lhe que tentasse percorrer as ruas olhando para as janelas. Em algumas, em prédios velhos e pequenos, iria ver flores e almofadas, sinal que naquela casa habitava uma mulher, cuja distracção era ver passar as pessoas ou conversar com vizinhas do prédio em frente. Siga esse caminho, só assim terá resultados. Foi o conselho que seguiu. Já tinha percorrido algumas ruas sem sucesso. Quando, já cansada subia uma para regressar a casa, reparou numa janela de primeiro andar que tinha por detrás do vidro e dos cortinados de renda leve, o que lhe parecia ser uma almofada. Ora bem pensou, aqui está o sinal.Tocou a campainha, mas a porta permaneceu fechada. Porém, ouviu abrir-se a janela, e a voz duma mulher perguntar, o que queria. Sorriu para a velhota que assomava à janela, dizendo: - Desculpe-me, eu só quero fazer-lhe uma pergunta e não lhe quero vender nada. - Então diga lá, respondeu a velhota. - É que eu tenho um familiar amigo, um senhor já de certa idade e que não vejo há muito tempo. Eu sei que ele morava nesta rua, mas olhe, não me lembro do número da porta e lembrei-me que talvez a senhora o conhecesse. Ele costuma sair todos os dias, vai dar o seu passeio até ao jardim e depois volta para casa. Costuma vestir um sobretudo e anda sempre de chapéu. A Senhora, por acaso não se lembra de o ter visto? - Eu não tenho por hábito meter-me na vida dos outros, mas lembro-me de ter visto um homem como me disse. Ele vem ali quase do fim da rua, parece-me que do número cinco. É logo ali em baixo, mas já há bastante tempo que o não vejo. No rés-do-chão, mora a porteira do prédio. Ela não está autorizada a abrir a porta a quem não é conhecido, mas diga-lhe que vai da parte da Deolinda, é o meu nome. Ela conhece-me há muitos anos. - Muito obrigada, vou agora lá e pode ser que tenha sorte. Voltou a descer a rua, chegou em frente do número cinco e hesitou. Estava perante um prédio recentemente recuperado e que devia ser habitado por gente com posses. Não deve ser barato morar aqui, não me parece que o desconhecido que Luís, tão ansiosamente procura, possa habitar numa casa como esta, mas vou tentar. O vídeo abriu e uma voz masculina perguntou quem era. Colocou-se bem de frente para ser vista e dizendo que estava ali só para esclarecer uma questão e que tinha sido a Dona Deolinda a dar-lhe a indicação. - Eu logo vi que devia ser uma ideia dessa velha coscuvilheira, que, como não tem nada que fazer, se entretém a espiar a vida dos outros. Volte noutra altura, para que possa falar com o Administrador do prédio. E desligou o vídeo. Ao jantar contou ao marido o resultado das suas investigações. Penso que não vai dar em nada, mas devemos tentar antes de eliminar esta possibilidade. - Olha, diz Luís Alberto com um novo brilho no olhar, vou ligar para saber se pela morada conseguimos obter um número do telefone. Pode ser do Administrador ou de qualquer outro condómino. Á terceira tentativa tiveram sorte. O andar do quarto esquerdo tinha telefone da rede fixa e a PT deu-lhe o número e o nome do assinante, Mariana Vasconcelos. - Deixa-me falar a mim, pediu a mulher, será mais fácil entre mulheres. Pelas oito horas da noite, ligou e ouviu do outro lado uma voz de criança e pediu-lhe para falar com a Mãe. Aguardou e ouviu a mesma vozita chamar, Mãe é para ti, é uma senhora, não é o Pai. A dona da casa atendeu a chamada. - A senhora desculpe, o meu nome Rosália Gonçalves. Eu sei que o meu nome não lhe diz nada mas gostaria de lhe roubar uns minutos, e não é para lhe tentar vender nada. Dona Mariana, eu apenas lhe quero contar uma pequena história, não lhe roubo mais de dois ou três minutos. E contou o desespero do marido por não saber nada do amigo com que partilhava o banco no jardim. E deu-lhe os pormenores que sabia. Ouviu com surpresa. - Sim minha senhora, sei de quem me fala. Mas sabe não é assunto que queira tratar pelo telefone. Se amanhã por volta das seis horas da tarde quiser passar por minha casa, poderei contar-lhe a história de quem procura. Já agora o nome do senhor é Filipe Costa. Rosália amparou o marido. Estava prestes a conseguir encontrar o amigo, estava tão feliz que nem escondia uma lágrima furtiva

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