sexta-feira, 1 de abril de 2011

ENCONTRO COM UMA MULHER SÓ

4 – Amor para sempre

No domingo e ao contrário do que era habitual, Maria Fernanda ficou a dormir até tarde. Todavia sentiu que a Mãe tinha espreitado e fechado cuidadosamente a porta, antes de sair para a habitual missa das dez horas. Todos os domingos eram assim, mas pela primeira vez Maria Fernanda ficara em casa.
Acordou com a Mãe junto à cabeceira e que com um gesto de carinho lhe acariciou os cabelos desalinhados, segredando:
- Então, ontem tiveste uma noite em cheio, nem me lembro de alguma vez ter reparado que a minha filha chegou a casa depois das sete horas da manhã. Não me atrevo a perguntar onde estiveste, és mulher e não mais uma jovem adolescente. Espero e estou a ser sincera, que te tenhas divertido. Vejo-te um ar feliz e isso faz-me bem.
Maria Fernanda nem queria acreditar no que ouvira. Manteve o sorriso e retribuiu a carícia que recebera.
A Mãe não lhe voltou a tocar no assunto e ela também não.
À noite, durante o jantar, a Mãe contou os desabafos e segredinhos que ouvira das três amigas, que tinham aceite o convite para tomar o chá. Calcula tu, acrescentou, que a D. Lurdes foi consultar um quiromante, parece que foi assim que ela lhe chamou, para confirmar se o Marido lhe era fiel. Claro a resposta foi óbvia, o Doutor Faustino, coitado, cheio de reumático e a fazer oitenta anos, era um marido exemplar. E a D. Lurdes ficou muito feliz.
Maria Fernando riu e com o ar mais sério de que foi capaz, respondeu:
- Claro que a Mãe nunca teve dúvidas que o Pai lhe era fiel, pois não?
- Agora que perguntas isso, ele vai-me perdoar, houve uns tempos em que o achei não feliz que suspeitei de algum devaneio, mas não pensei mais no assunto. O teu Pai não era muito exuberante e não mostrava tudo. E tu herdaste essa personalidade. Ontem à noite, tive a prova disso. Maria Fernanda riu mas não comentou.
Como sempre fazia,foi consultar o correio electrónico e a agenda para segunda feira.
No meio das mensagens recebeu uma que, logo identificou.
Dizia:
- Ontem eu fiquei devedor pelo seu trabalho e credor da sua companhia. Acertemos as contas, gostava de a convidar para jantar no próximo sábado e depois, conversar à roda de uma bebida. Faço já o convite pois quero ser o primeiro.
Sei que tiveram uma agradável noite e imagino que algum colega lhe contou porque eu não pude estar presente. Poderemos falar disso, se estiver interessada.
Os miúdos estão na cama, eu sinto-me só e pensei em si. Pense também um pouco em mim.
Ricardo R.
Ela já tinha tido reuniões de trabalho com Ricardo, homem de meia-idade, elegante, muito gentil e educado, que apesar do olhar esquivo, notara nele uma vontade de ir mais além. Mas qualquer coisa o inibira. Talvez medo duma situação sentimental mal resolvida ou algum segredo que guardava.
Ela sonhava amar e ser amada, para sempre, um amor feito de entrega e de renúncia. Partilhando o corpo e a alma. Mas, uma voz interior segredava, cuidado!
Encolheu os ombros, sorriu e aceitou o convite, como um desafio.

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