quinta-feira, 21 de abril de 2011

O EXECUTOR

4 – LISBOA, 2002

Pedro regressou a casa. Tinha pedido ao Pai para lhe procurar um apartamento no centro, que pudesse comprar e recuperar a seu gosto. O Pai tinha conseguido três divisões em Campo de Ourique, comprara e mandara restaurar de acordo com o projecto dum Arquitecto amigo.
O apartamento estava pronto mas não mobilado. Patrícia dera umas sugestões mas Pedro tinha-a convencido a esperar pelo seu regresso para escolherem em conjunto.
Quando voltou percebeu não poderia ir viver com a namorada. Esta não quisera enfrentar a Mãe, que sonhava ver a filha vestida de branco e com um casamento celebrado na Igreja.
Pedro gostava de Patrícia mas não o suficiente para casar, com pompa e circunstância.
Era tempo de férias. Patrícia sugeriu que fossem passar uns dias ao apartamento que os Pais tinham comprado nos arredores de Tavira. Vamos ficar sós, a minha irmã convenceu os meus Pais a fazer um cruzeiro à Escandinávia. O cruzeiro é de 15 dias e esse tempo será nosso.
Pedro aceitou e durante aqueles dias de férias, reconheceram que havia qualquer coisa que os separava.
Um e outro tinham mudado. Pedro não esquecia os seus sonhos e Patrícia também não sentia por ele o mesmo entusiasmo de outros tempos.
Sentiam-se alegres, tinham sexo com entrega mas sem paixão, conversavam sobre o passado e o futuro, iam dançar e beber um copo mas, a barreira permanecia.
E foi Patrícia a tomar a decisão inevitável. Numa noite, confessou:
- Somos amigos há muito tempo, mas na realidade deixámos fugir a paixão. Quando, nestes dias, te ouvi falar do teu passado, apercebi-me da tua nostalgia. Eu sei que tu tens um projecto de vida que, na verdade te digo, não é compatível com o meu. Se ficarmos juntos eu não aceitarei menos do que tudo, corpo e coração. E sinceramente não acredito que tu sejas capaz de desistir dos teus sonhos por mim. Tenho pena, acredita que sim, esperei por ti, tu vieste mas, algures ficou o Pedro que eu provavelmente nunca conheci.
Pedro sentiu um sentimento incómodo. Ele gostava da Patrícia, como amiga e como mulher mas reconhecia verdade nas suas palavras.
Antevia que a sua vida seria um desafio constante, e entendia que ela não mereceria viver na sombra e na mentira. Ele teria de percorrer o caminho só, apenas pelos seus próprios meios.
Foi com emoção que se deu conta que, de verdade, ele tinha pouco para dar. A continuar, mais tarde ou mais cedo, iria sofrer e pior, fazer sofrer.
Não conseguiu evitar um gesto de carinho, e disse, em palavras magoadas:
-Tens razão Patrícia. Perdoa-me, segue o teu caminho e não olhes para trás. Eu não te mereço.
Não houve drama nem lágrimas, apenas duas pessoas tão diferentes que entenderam que, continuar juntos, seria um equívoco.
Regressariam a Lisboa, livres de compromissos.
E foi assim que uma noite, Pedro foi formalmente abordado por um desconhecido. Um carro negro e de vidros fumados, parou à sua porta, abriu a porta para ele entrar. Entrou e recebeu do condutor, única pessoa na viatura, um envelope fechado. Nele vai encontrar tudo o que vai precisar saber. Leia com atenção, se tiver dúvidas, encontrarás uma senha que lhe dará acesso à pessoa que será o seu contacto dentro da Organização. Cumpra o que estiver escrito, memorize e destrua.
Repare, eu sou apenas um mensageiro, não sei mais do que lhe disse e é pouco provável que nos venhamos e encontrar de novo. Adeus e boa sorte, disse parando o carro a meio da Avenida de Roma, noite dentro, para que Pedro saísse. Depois arrancou de luzes apagadas.

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