quinta-feira, 7 de abril de 2011

O BANCO NO JARDIM

2 – AMIGOS

Sentado no banco Luís Alberto, dirigiu-se ao desconhecido:
- O senhor desculpe, mas eu sinto que precisa de qualquer coisa e eu gostaria muito de o ajudar. Diga-me, não está a pedir esmola, então porque está aqui à chuva e ao frio? Não tem família ou anda perdido?
Para sua surpresa o desconhecido respondeu.
- Fico aqui sentado umas horas até ver regressar a minha mulher e a minha filha e depois vou para casa, respondeu.
- Não percebo, mas o senhor não vive em casa com elas?
O solitário, olhou-o fixamente, com uns olhos baços e mortiços e nada disse.
-Olhe, penso que a sua família ainda demora a chegar, por isso venha ali comigo, aquela pastelaria, tomar uma bebida quente. Parece-me que está a precisar e eu também.
O solitário levantou-se, e ia a iniciar os passos, quando voltou atrás e se sentou novamente. Eu ali não as vejo passar, disse em voz decidida.
-Vê, claro que vê, venha comigo, escolhemos uma mesa perto da porta e pelos vidros o senhor vê passar as pessoas, tão bem como agora. E é um pouco de companhia que partilhamos.
Pegou-lhe num braço, e acompanhou-o até à pastelaria. Na mesa o desconhecido ocupou logo, o lugar de frente para a rua.
Luís Alberto foi ao balcão, encomendar um galão e uma torrada e um café para si. Pagou e levou para a mesa.
O seu convidado, bebeu o galão comeu a torrada, era óbvio que era a sua primeira refeição, mas sem demonstrar prazer ou satisfação, pois não tirava os olhos do movimento que passava na rua.
Cada vez mais curioso, Luís Alberto perguntou ao dono do estabelecimento se, por acaso, conhecia ou sabia alguma coisa sobre aquele senhor que veio comigo e está ali sentado a olhar para a rua.
-Sim senhor, respondeu o dono da pastelaria, há cerca de três ou quatro meses que o vemos sentado naquele lugar. Não fala, não pede nada. Não sabemos o que faz e como se chama. A minha mulher tentou por mais de uma vez levar-lhe lá um prato com comida, que ele sempre rejeitou. Retirava apenas o pão, que ia distribuindo pelos pombos que já estavam à espera. Não falava, mas o olhar era tão triste e profundo que a minha mulher se sentia enternecida e voltava quase sempre de lágrima no canto do olho. Eu perguntava-lhe a razão, ela encolhia os ombros e respondia, não sei.
Ao entardecer, levanta-se e cambaleando vai-se embora pela rua acima, mas nunca conseguimos ver onde mora. Mas não é um sem abrigo.
Luís Alberto saiu, parou e sentou-se mais uns momentos junto do desconhecido, olhou-o nos olhos. Sentiu neles algum calor, um pequeno brilho e ficou feliz, dizendo:
- Amanhã estarei aqui ao pé de si, no mesmo banco, e iremos tomar o café juntos. Passarei todos os dias de segunda a sábado e se precisar de alguma coisa diga, saiba que tem aqui um amigo, que não lhe vai fazer perguntas e se contenta em ficar algum tempo na sua companhia. Faça isso por mim.
Um aceno afirmativo foi a resposta, que recebeu.

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