sexta-feira, 8 de abril de 2011

O BANCO NO JARDIM

3 – A FAMÍLIA

Este encontro no banco do jardim, o pequeno almoço tomado na mesma pastelaria e no mesmo lugar tornou-se um hábito. Luís recebia um olhar de ternura e gratidão que dizia mais que as poucas palavras que o desconhecido murmurava.
Passou a Primavera, o Verão chegou de mansinho e o encontro mantinha-se inalterado.
Luís guardava para si aquela estranha amizade. Estar sentado ao lado do amigo, por mais de uma hora, durante os dias de semana, fazia-o sentir-se em paz com a vida. Não se preocupava com as notícias, nem com o negócio, para ele eram momentos de tranquilidade e serenidade, partilhados em silêncio. Habituou-se a sentir que a amizade não era um jogo de palavras.
Os sentimentos mostram-se, nos pequenos gestos, olhares e silêncios, sem reservas
Só passados alguns meses contou à mulher aquele encontro que lhe fazia bem. Receara que contar uma amizade feita de silêncios fosse difícil de entender. Enganou-se, a Mulher com um sorriso e uma lágrima furtiva, compreendeu e encorajou-o a continuar. Não desistias de dar a tua amizade, lembra que só receberás o que deres. Olha para ele como o irmão que não tiveste ou o Pai que perdeste tão cedo. Afinal reinventa a tua família.
Luís confessou que sentia que o infeliz com quem partilhava o banco no jardim, teria uma história por contar e ele alimentava a esperança de um dia a conhecer.
Infeliz, pergunta a mulher, quem é que te disse que ele se sente infeliz?
- Ninguém, mas não me sai da cabeça, que aquele homem tem sofrido muito.
- Luís, tu tens tempo, porque é que não procuras ali na proximidade alguém que conheça o teu amigo? Podes ir á Junta de Freguesia por exemplo, ou então sais mais cedo e procura segui-lo para saber onde mora. Não deverá ser muito longe.
- É isso mesmo que vou fazer, decidiu.
Para sua surpresa ou por ironia do destino, no dia em que tinha decidido saber algo sobre a vida do amigo, chegou ao banco, que pela primeira vez, estava livre.
Esperou, viu passar as horas e do amigo nada. Sentiu-se triste e desamparado, aquele ritual já fazia parte do seu quotidiano e a falta do companheiro, sem saber o porquê, fazia-lhe mal.
Tenho de o encontrar ou quem fica doente sou eu.

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