quarta-feira, 20 de abril de 2011

O EXECUTOR

3 –PRISTINA - KOSOVO 2002

Pedro Dias, logo que terminou a sua graduação, decidiu integrar, enquanto oficial de operações especiais, as estruturas na Nato em Bruxelas. Viveu nesta cidade entre 1998e 2000 e depois de um treino intensivo e muito exigente, foi requisitado pelo comando Nato para responsável pelo controlo e análise da informação, durante a guerra do Kosovo. Foram dois anos muito intensamente vividos, viu cenas de horror, criou as suas próprias defesas e ultrapassou tudo, ganhando sangue frio e uma coragem e força mental que, ele próprio se admirou.
Tinha agora 27 anos e nos dois últimos anos no teatro de operações, tinha percebido a sua capacidade para enfrentar situações difíceis. E, apesar dos riscos que correra, não sentira medo, antes prazer.
Estava no final do contrato e livre de continuar ou sair.
A decisão não estava tomada.
Lutava entre o prazer que uma vida de aventuras, com os seus perigos e fracassos, e a monotonia duma vida encerrado num qualquer gabinete, com horário de trabalho, reuniões, conversas de circunstância, sem ter uma palavra a dizer. Seria ouvir, executar e calar.
Era uma decisão difícil, para quem desde sempre ambicionara ter uma vida diferente, feita de aventuras e de viagens, e o sonho juvenil de ter um amor em cada cidade.
Apesar das recomendações dos Pais e da Patrícia a sua namorada desde os bancos da Universidade, para parar, ganhar juízo, trocar o incerto pela tranquilidade duma vida conformável, constituir família e viver o futuro, ainda não se convencera. Pedro reconhecia a justeza dos conselhos mas, pensava que algum dia, poderia querer ir à procura dos sonhos e, tarde demais, todos teriam desaparecido.
O dia do regresso estava cada vez mais perto e Pedro continuava sem saber o seu caminho. À noite, enquanto tomava uma bebida ao balcão de um bar que conhecera na cidade, e fazia o balanço entre os sonhos e a realidade, reparou num estrangeiro que despejava copos de whisky e cerveja a um ritmo impressionante. Beber whisky e cerveja gelada ao mesmo tempo é um hábito que permitia, desde logo, identificar o bebedor como sendo de origem Americana.
O bebedor sequioso aproximou o banco e disse um nome, que Pedro não percebeu, e continuou dizendo que sabia quem ele era o que fazia e tinha uma proposta para fazer. Entregou um cartão de visita, dizendo que se estivesse interessado o podia procurar através do contacto telefónico que escrevera. Não tenha pressa em responder, pense bem e faça-me uma visita. Não se irá arrepender, concluiu enquanto pagava as bebidas e partia.
Pedro guardou o cartão no bolso, sem olhar sequer.
Mas pensou melhor e de repente ficou com a certeza que já teria tido um qualquer contacto com a pessoa que o convidara, mas não era capaz de precisar onde e a que título.
Aquele encontro, para ele fortuito, podia ser a resposta às suas dúvidas e hesitações. O desconhecido não o procurara para lhe oferecer trabalho num Banco ou algo de semelhante. Talvez o destino lhe tivesse batido à porta.
À noite do silêncio do seu pequeno quarto, pegou o cartão de apresentação, Que dizia:

Larry Collins
Senior Advisor
Security Consulting Group, INC.
LONDON
E então lembrou-se. Ainda em Bruxelas, tinha frequentado um curso intensivo de utilização das novas tecnologias para conseguir acesso a informação classificada, decifrar códigos e entrar no mundo das transferências electrónicas de fundos, o principal meio de financiamento de grupos ligados a operações de terrorismo. O curso fora completado com treino de técnicas de combate, dirigido por um especialista dos serviços secretos de Israel.
Havia gostado e tinha obtido uma das melhores classificações pelo que fora entrevistado para discutir resultados, precisamente pelo indivíduo que, agora, o tentara aliciar.
Estabeleceu o contacto, encontraram-se num lugar discreto e Pedro ouviu com atenção:
-Se é, como eu acredito que seja, uma pessoa inteligente e discreta, sem receios de desafios difíceis você vai ter sucesso, salientou Larry.
Alguém o irá contactar sobre as condições e regras impostas pela Companhia. Será no seu País. Lembre-se duma coisa muito importante, hoje e no futuro. Não sabe quem eu sou e eu já me esqueci quem você é. Há-de receber toda a informação que vai precisar, mas a partir desse dia, terá de contar, sobretudo com a sua inteligência, ânimo e coragem, concluiu Larry, dando por terminado o encontro.

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