quarta-feira, 8 de junho de 2011

O ESTRANHO CASO DO ESCRITOR FANTASMA

2º. Capítulo
Não se apresentava fácil o seu regresso. Admitia que a primeira medida que a família iria tomar era de cancelar a ordem de pagamento que tinha emitido a seu favor. Nem se deu ao trabalho de verificar se o cancelamento teria sido feito. Queria romper com o passado e de uma forma ou de outra, começar de novo.
Precisava, contudo, de encontrar um trabalho. E a oportunidade surgiu quando menos esperava. Uma antiga colega, com quem tinha tido algum relacionamento sentimental mas que terminara sem azedume, procurava alguém disponível para colaborar numa publicação mensal que sempre pertencera à família, um jornal regional e que ela queria transformar num semanário descomprometido, crítico e exigente.
E dava como paradigma um jornal francês, “Le canard enchainé”.
Para este seu projecto, queria beber do jornal francês a sua irreverência e o seu desapego aos interesses instalados. O novo jornal deveria ser sério, crítico e implacável com a mediocridade e com os negócios pouco claros. A notícia proclamava ela, tem que chegar ao leitor duma forma clara e compreensiva, para que se não confunda com as notícias dadas e repetidas até à exaustão, num formato doentio, quase obsceno, com que o quotidiano das pessoas é esmagado pelo audiovisual.
Em suma, pôr a pessoas a pensar, é o meu sonho é nisso que acredito, é o que estou determinada a fazer, dizia com um brilho intenso no olhar.
E continuou. Para isso não aceitarei publicidade paga, não me deixarei corromper!
O sucesso, e acredito nele, vai depender na qualidade da pequena mas muito empenhada equipa que já reuni. Tu és a última peça que eu preciso, pois sei como gostas de escrever, utilizando de forma genuína e autêntica as palavras certas. Conheces meio mundo e nem sempre só a parte clara e pública, mas também a parte escura e escondida da sociedade onde vivemos. Gostava de contar contigo no meu projecto. O que me dizes?
- Oh Luísa mas tu queres um jornal de escândalos, é isso?
- Até parece que não me conheces, respondeu Luísa. Viveste comigo o suficiente para não fazeres essa pergunta. Podes chamar-me idealista, desalinhada, mas reconhece-me ao menos uma qualidade. Nunca aceitaria viver à custa dos pecados dos outros, atirando pedras e escondendo a mão. Se a verdade incomodar alguém, o problema não está na notícia, pois não? Quero olhar de frente e se for caso disso, quero chamar os bois pelo nome!
-Percebo onde queres chegar mas para se ser independente é preciso dinheiro. Onde é que te vais financiar, posso saber?
- O dinheiro, sempre o dinheiro. É evidente que se bater à porta de um Banco a pedir um empréstimo para este projecto, ou recebo um não, o mais provável, ou se for aceite ficarei automáticamente condicionada. Por isso não o farei.
Mas tenho recursos próprios, e não tenho medo de investir. Não poderei pagar aos comentadores conhecidos que, em boa verdade pouca gente lê, mas que cobram mundos e fundos, mas poderei pagar aos que estiverem comigo no projecto. Não será uma fortuna mas estaremos juntos, começaremos do zero e seguiremos em frente.
Hoje é quarta-feira, tenho uma reunião com a equipa. Vamos discutir as ideias de cada um, fazer a síntese e depois é deitar mãos à obra. Aqui tens a morada neste cartão. Se quiseres juntar-te nesta aventura, aparece, acho que contigo a equipa ficará mais forte.

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