quinta-feira, 9 de junho de 2011

O ESTRANHO CASO DO ESCRITOR FANTASMA

3º - Capítulo
Entre umas cervejas bebidas com o grupo da República, Luís Miguel teve um momento de desânimo. Olhava para os colegas e sentiu-se uma raridade. Todos o olhavam com admiração e respeito porque estavam na presença de uma relíquia da Universidade. Ele conhecera tantos colegas, quase todos haviam singrado em função dos cursos. Dois ou três que se lembrava ainda o contavam como amigo, muito embora fossem já assistentes das respectivas Faculdades. Os outros tinham partido, deixando saudades.
Os tempos tinham mudado, a cidade também e a velha Universidade deixara de ter um mesmo significado de há tantos anos.
Ele era um último dinossauro, uma espécie em vias de extinção.
Por entre as nuvens de fumo de cigarro, daquela acanhada casa onde vivia, há tanto tempo que nem já sabia quanto, ficou só. Os colegas tinham recolhido aos respectivos quartos, supostamente para estudarem.
E ele dava voltas à vida que vivera ou que julgara ter vivido!
Bocejou e olhou para o relógio de parede. De repente deu um salto, esquecera-se de que Luísa o tinham convidado para uma reunião, estava já atrasado mas não queria faltar.
A morada que Luísa lhe dera era um velho edifício numa viela estreita da cidade velha.
O rés-do-chão parecia ser uma oficina, tinha um portão grande e largo e uma pequena escadaria dava acesso ao andar superior. A porta estava aberta, entrou e pela primeira vez sentiu que a sua presença tinha sido saudada com um sorriso de confiança.
Uma mesa larga e algumas cadeiras em redor significavam um local de partida.
Sentada na cabeceira da mesa, com o seu cabelo ruivo, como habitualmente desalinhado, Luísa sorriu e fez-lhe um sinal para a cadeira vazia do seu lado direito. Eu tinha esperança que viesses e fico muito feliz por isso. Senta-te aqui que eu quero apresentar-te a tripulação:
- O Luís Miguel que agora chegou é o elo que faltava na corrente em que todos nos ligamos;
- Luís, estes são os companheiros desta aventura. Aqui mesmo em frente, o Carlos, responsável pela gráfica que há mais de trinta anos trabalha para a minha família. Apesar dos seus cabelos brancos, aviso-te que ele é o mais jovem e entusiasmado de todos; Ao lado, o Filipe apaixonado por fotografia e um especialista em computadores e com formação profissional de Web Designer;
Depois a Rita que é jovem, crítica feroz do jornalismo que nos é servido, e portanto desejosa de mostrar, como se deve fazer;
Por fim a Elvira, assistente da Faculdade de Letras, que se juntou ao grupo trazendo a sua cultura, a sua sensibilidade e a disponibilidade para fazer revisão de textos, escrever sobre temas culturais, da crítica ao ensaio.
E eu, que tu bem conheces, teimosa ruiva que só tem uma qualidade. Não tem medo.
Hoje será o princípio e iremos criar, degrau em degrau, o projecto em que acreditamos.
Da bolsa retirou uma garrafa de espumante, alguns copos de plástico, colocou na mesa, dizendo: Brindemos agora e depois vamos ao trabalho.

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