terça-feira, 28 de junho de 2011

O RAPTO

5 – O LADO OBSCURO

Com um ar distante, António Pedro foi dizendo que a PJ, tinha um excelente departamento especializado para tratar estes casos, tem tido muito sucesso e, além do mais, tem também os meios necessários e a experiência para investigar esse tipo de situações. Eu pelo contrário não sou experiente nessa área da investigação.
Maria Clara argumentou que a PJ tinha sido o seu primeiro caminho. Dera todas as informações que lhe pediram e o processo fora aberto. Mas, dizia recear que, apesar da reconhecida competência da Polícia, o caso da filha fosse apenas mais um.
Por outro lado, vim ter consigo recomendada por um amigo e antigo colega, porque o senhor tem uma grande vantagem, tem tempo e uma reconhecida sensibilidade e eu ficarei mais tranquila se o desaparecimento da minha filha for investigado de perto, quase me atrevo a dizer em regime de exclusividade. E estou disposta a pagar por isso. Peço não me desiluda eu acredito que o senhor vai conseguir trazer de volta a minha filha.
Ficaram um momento em silêncio. O apelo de Maria Clara tinha sido feito de forma veemente e nervosa, mas António Pedro não vislumbrara no olhar angústia e dor. Era estranho, pensava, não lhe parecera que a visitante, fosse assim tão capaz de esconder sentimentos tão naturais.
Prolongou o silêncio, olhava fixamente o rosto da senhora, como se quisesse captar qualquer sinal que o levasse a recusar. Foi com um frémito que desconfiou, que o caso não era apenas o desaparecimento da jovem, e isso fê-lo mudar de ideias. Sentira algum desconforto, como se alguém o estivesse a empurrar para um lado negro. Alguém que sabia que só assim ele aceitaria o desafio. Fora certamente o amigo, mas não entendia o porquê.
Levantou-se da secretária, andou alguns passos de um lado para o outro, parou em frente da cliente, olhou-a nos olhos e disse:
- Minha senhora, estou disposto a aceitar o seu caso mas terá de confiar, absolutamente, em mim. Isso significa, dar-me todas as informações que eu lhe pedir, mesmo se elas lhe parecerem deslocadas ou até demasiado íntimas. Vou precisar de a conhecer, saber o seu agregado familiar, conhecer o que pensa o Pai da criança, como é a rotina do vosso dia a dia, onde passam férias, com quem costumam conviver, amigos, etc.
Aceitarei investigar o caso que me traz, mas quero que fique bem claro, não vou ser simpático e que a conclusão, se a ela chegar, pode ser duma imensa dor e eu não deixarei de a assinalar.
Se estiver de acordo, preencha agora ou entregue-me depois, o questionário que aqui tem, e estendeu-lhe uma folha A 4, e junte uma série de fotos da sua filha, sózinha ou em grupo, que tenham sido tiradas nos dois últimos anos.
Quanto ao pagamento dos meus serviços falaremos mais tarde. Não antevejo custos extraordinários.
Maria Clara, aceitou as regras sem levantar qualquer obstáculo, dizendo apenas que não gostaria de ver a fotografia da filha, nos ecrãs da Televisão ou nas primeiras páginas dos jornais. Compreenda o meu desejo de privacidade.
Pareceu-lhe razoável e tranquilizou-a.
Concentre-se no fundamental, tente encontrar qualquer coisa a que não tenha prestado atenção e que poderia ter originado a que a sua filha perdesse a confiança e fugisse. Ás vezes há um pequeno sinal e isso pode ser a diferença entre o sucesso ou o insucesso. Mas concluiu pense bem, não me esconda nada.
Aqui tem o meu cartão com os números de telefone e o endereço de correio electrónico. Esteja à vontade para me contactar se algo lhe ocorrer.
Amanhã, pelas 14 horas gostaria de a receber, e comentar os dados do questionário que lhe entreguei. Esperarei por si. Entretanto deixe-me por favor um cartão com o nome e endereço.
Acompanhou a cliente à porta, despediu-se com um aperto de mão que lhe pareceu algo estranho. Os olhos de Maria Clara estavam brilhantes e ele sentiu um fluxo de sangue que lhe percorreu as veias. Algo lhe parecia fora do contexto.


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