quinta-feira, 30 de junho de 2011

O RAPTO

6 – O INFORMADOR

Foi com um ar preocupado que António Pedro voltou para a secretária, pegou no cartão de visita, simples mas de bom gosto. Profissão médica com consultório em Lisboa e residente em Cascais. Escrito, manualmente, no verso encontrou o número do telemóvel.
Ligou para o antigo colega e amigo Inspector Artur Marques, o telemóvel estava desligado e a sua chamada foi remetida para a caixa de correio. Não deixou mensagem.
Esteve a percorrer sítios da Internet para se actualizar. Já não lia jornais há muito tempo e Televisão nem a ligava. Estava fora do mundo que o rodeava e precisava de voltar a saber o que acontecera em Portugal e no Mundo que pudesse ter algo a ver com o desaparecimento de crianças. Ficou admirado com a quantidade de informação sobre o assunto. Só na Europa a taxa de desaparecimento de pessoas, velhos, jovens de crianças era enorme e assustadora. Que mundo é este em que vivemos, perguntava-se?
Ouviu o sinal de chegada de uma mensagem. Abriu era do Artur Mateus e dizia:
- António, o que achaste do desaparecimento da filha da doutora Maria Clara? Precisamos de falar sobre o assunto, mas só estarei disponível à noite. Eu ligo-te. Artur.
Espreitou pela janela, parecia ir chover. Vestiu o impermeável, fechou o gabinete e saiu para a rua. Como tantas vezes fizera começou a andar até ao Marquês, subiu a Fontes Pereira de Melo e dali seguiu para a Almirante Reis. Passou perto da Igreja dos Anjos, onde um significativo grupo de sem abrigo aguardava a sopa da noite. Nas ruas adjacentes, por entre os carros, vendia-se droga e grupos de dois ou três jovens injectavam-se, com heroína ou qualquer outro produto manipulado. Quantas vezes não assistira àquele espectáculo. Quantos traficantes não havia levado para a prisão. Teria valido a pena, interrogou-se? De facto, conseguira desmantelar alguns grupos organizados, mas a verdade é que outros haviam tomado conta do negócio.
Entrou num café pequeno e mal iluminado, sentou-se ao balcão bebendo um café, enquanto pelo canto do olho vigiava os outros clientes. O olhar cruzou-se com um velho conhecido, que imediatamente se dirigiu à porta para fugir. Mas passou perto, pelo que não foi difícil agarrá-lo e com ele seguro por um braço, sair para a rua.
- Então Carlos o que é que fizeste para saíres com tanta pressa? Já não queres falar comigo?
- Oh senhor Inspector, juro que não fiz nada de mal.
- Está bem, então anda dar uma volta comigo, porque preciso de te falar. Não tentes fugir, pois sabes que te apanho quando quiser e se fores a julgamento apanhas uma pena jeitosa.
- Oh senhor Inspector, o senhor sabe que eu nunca me meti em coisas grandes, e que o negócio é só para sobreviver. Tenha pena de mim e deixe-me ir embora.
- Olha Carlos, tu podes não acreditar, mas eu sempre pensei que bastava um pequeno esforço da tua parte, para largares esse mundo em que vives, e voltares a ser um rapaz normal. Vou por à prova esta minha teoria.
Eu já não pertenço aos quadros da PJ, mas abri um pequeno escritório de investigações e irei precisar de informações. Pode ser uma oportunidade para ti. Amanhã vais ter comigo ao escritório, e deu-lhe a morada. Quero-te ver por volta das seis da tarde. Entretanto vai abrindo os olhos e presta atenção às conversas sobre os negócios da noite. Falo de tráfico de armas, de pessoas e de droga. Eu perdi essa informação, pois estive muito tempo afastado dessa área criminal. Tu vais ser meu colaborador, já nos conhecemos há muito tempo e sabes que te posso ajudar.
- Mas porquê eu, um solitário e independente? No mundo da noite e dos negócios escuros eu não passo de um Zé-ninguém!
- Não sejas modesto Carlos, tu tens algo que a maioria dos teus amigos não sabe sequer o que é. És inteligente, observador, e sabes guardar segredos. Essas características são adequadas para o que eu pretendo de ti. Em resumo, quero que oiças e vejas por mim, que faças perguntas e me contes as respostas. Mas tudo de forma informal. Nunca te porei em risco, podes confiar. Já uma vez me ajudaste e agora peço-te ajuda novamente. Vai, e não te esqueças, amanhã às seis da tarde. Toma lá algum dinheiro para te arranjares. Não me apareças com o aspecto desleixado. Faz por merecer esta oportunidade. Eu espero por ti e confio que lá estarás.

Sem comentários:

Enviar um comentário