sábado, 26 de fevereiro de 2011

ANOS SESSENTA - II

Aproveitando uma oportunidade de trabalho, não era grande coisa, mas era o que se podia arranjar, vim para Lisboa nos primeiros dias do ano de 1961.
Pouco tempo depois eclodiu a guerra colonial. Alguns dos meus amigos fizeram as malas e foram a salto para França.
Eu decidi ficar, não por razões de patriotismo, mas porque sempre sonhara viver uma guerra, aquela era a oportunidade, e não lamento a decisão.
O vencimento que recebia, dava à tangente para comer e pagar o espaço de uma camarata colectiva, ali para os lados da Bica, muito cómoda e espaçosa, (espero que não acreditem). Éramos dez em dois quartos, todos a trabalhávamos na mesma companhia porque, verdade se diga, foi a Única que aceitou receber tantos jovens, cujo destino já estava traçado, a tropa e a ida para a guerra.
O apartamento não tinha aquecimento nem água quente. Por isso, no sábado, íamos de eléctrico até Santa Apolónia, porque ali perto, tínhamos descoberto um balneário público, limpo de com água bem quente. Nos outros dias da semana era só passar por água os olhos e as mãos.
Éramos um grupo muito heterogéneo e as diferenças levaram que eu e mais três companheiros saíssemos da camarata, para uma pensão da Calçada do Sacramento. Éramos quatro num quarto, mas como o dono também servia refeições, acabamos por ter a vida mais facilitada em termos financeiros. Além do mais tínhamos escolhido uma zona nobre da cidade, isso era subir na vida.
Viver na grande cidade, para jovens do interior, era um constante desafio. O dinheiro era pouco mas a sede de viver era grande. E não enjeitamos o que a cidade nos tinha para oferecer.
E não lamento nada.

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