segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

OS CRIMES DO X




13º. Episódio
Londres, Outubro de 2008

A confissão que Madalena fizera na naquela tarde junto ao rio, fora uma surpresa que deixara Hugo sem palavras.
Começou a dormir mal e a trazer à memória os pensamentos de revolta, que ele também sentira e dos quais, fazia todos os esforços para se afastar. Ao mesmo tempo, perguntava-se, como fora possível que o destino tivesse juntado duas pessoas, com tanta dor e raiva da sociedade? Seria tudo uma coincidência que ninguém podia explicar, ou haveria algo mais?
Ele alimentava o ódio que o consumia, e tantas vezes imaginara o prazer de se vingar.
E foi esse ódio, recalcado, que o levou a contar a sua história.
Aproveitando um intervalo entre dois trabalhos e enquanto passeavam pelo “ Hyde Park”, Hugo, com o olhar ausente, confessou a Madalena:
- Sabes, não esqueci a conversa que tivemos sobre a tua família e tua vontade de fazer justiça. Eu compreendo a tua revolta porque, há coisas que não se entendem, eu também calo o grito que me vai da alma, não esqueço e não perdoarei nunca, a minha vida destroçada.
Faz uma pausa, limpou uma lágrima rebelde, ele que julgara, já não ter sentimentos para chorar, depois recomeçou.
Tudo começou numa sexta-feira, 10 de Outubro de 2003, quando sai do Banco, já noite, e me lembrei de ir ao multibanco, para levantar dinheiro. Maldita a hora em que o fiz, porque a minha vida entrou numa espiral de violência inimaginável.
Acabara de introduzir o cartão, quando um assaltante, de pistola encostada, me obrigou a levantar o máximo, pedir o saldo e me empurrou para um carro parado na avenida, de luzes apagadas e com um outro bandido ao volante. Agrediram-me com uma coronhada na cabeça, ataram-me as mãos atrás das costas, enfiaram um trapo na boca e um saco na cabeça.
Eu recuperei os sentidos e ouvi a discussão entre os dois sobre o meu destino. Um queria largar-me em Monsanto o outro, com uma voz áspera, que nunca mais esqueci, mandou que eu deveria ser preso na garagem da vivenda em construção, para que ele, de posse dos meus documentos, pudesse aumentar o produto. Ele era o chefe e o seu riso era prenúncio de morte. Ouvi o seu nome, Valdemiro.
Atirado para um buraco improvisado, manietado e sem poder ver o local, lembrei-me do que tinha aprendido nas aulas de artes marciais e consegui libertar-me. Com ajuda de uma moeda de cinquenta cêntimos que tinha do bolso das calças, desapertei os parafusos que seguravam as portas de madeira em tosco e abri a porta. O tipo perigoso tinha saído com o carro e o meu guarda era um bandido de meia tigela. Foi fácil dominá-lo; de mãos atados, boca tapada e um trapo da cabeça, encerrei-o no buraco de onde eu havia saído. Fechei a portas, deitei fora a chave e fugi, até encontrar uma estrada alcatroada, mas com pouco movimento.
Era noite escura, mas tive a sorte de encontrar um condutor que não teve medo, parou e me levou ao posto da PSP da Caparica.
Depois o piquete, que já havia assinalado aquela vivenda, como um covil de assaltantes, prendeu o que eu tinha deixado amarrado, montou uma emboscada e na madrugada, deixaram a mão ao Valdemiro.
E depois, perguntou Madalena?
- Hugo endurece ainda mais o olhar. Depois? Depois, foi a tragédia.
Mas estou tão cansado, desculpa, alguém ou dia, calo a raiva que sinto e conto-te o final.

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