sábado, 5 de fevereiro de 2011

OS CRIMES DO X




11º. Episódio
Londres, Setembro 2008

Madalena e Hugo tinham partilhado o alojamento, mas com o estudo e a discussão dos projectos, conclusões e apresentação para avaliação, não tiveram tempo, nem oportunidade, para se conhecerem melhor. Tinham uma boa convivência, falavam não só do trabalho que estavam a fazer como também do futuro. Do passado nem uma palavra.
Até que em meados do mês, após terem apresentado um estudo avaliado com excelente, decidiram fazer uma pausa, passear ao longo da margem do rio, aproveitando o tempo convidativo.
Caminharam em silêncio, até que Madalena, encontrando um banco vazio, se sentou, dizendo:
- Hugo, nós vamos ficar juntos por três meses, depois cada um irá regressar ao seu dia a dia e, provavelmente, não nos voltaremos a encontrar. Eu gostava de te contar uma história, se tiveres disposto a ouvir. Hugo acenou que sim, aproximou-se e o seu olhar teve um lampejo de luz como se, naquele momento, tivesse sentido o cair das amarras com que escondia os seus segredos.
- Madalena, sem nunca fixar os olhos do colega, falou do drama da família. Do Pai que vivia ainda, mas num outro mundo que só ele conhecia; da Mãe que se refugiava entre a religião e as visitas ao cemitério para rezar junto do túmulo da filha; e eu, que nunca me perdoei por ter optado por estudar em Londres, por ter estado ausente nos momentos, em que a minha presença poderia ter evitado uma tragédia.
Sim, e a voz ficou mais fraca e algumas lágrimas escorreram pelo rosto, eu poderia ter evitado.
A minha irmã tinha dezasseis anos quando eu viajei para Londres. Era uma rapariga muito bonita, alegre, boa aluna, mas muito ingénua. Entrou na Faculdade para cursar medicina.
Depois não resistiu aos perigos nem aos apelos dos colegas mais vividos, começou a sair e nem sempre com as melhores companhias.
A minha Mãe nunca me disse nada, das noites em que ela não regressava a casa, dos comportamentos algo estranhos e até agressivos. Apenas algum tempo depois me contou, que a Maria Luísa tinha abandonado a casa e tinha ido viver com o homem por quem se apaixonara.
Interrompi as aulas e voltei. A Maria Luísa recusou falar comigo sobre o companheiro, disse-me estar muito feliz e nem admitia voltar à Universidade. Mas os olhos cavados e sombrios fizeram-me desconfiar de algo, droga.
Procurei antigos colegas que me contaram, o que a minha irmã não quis dizer. Ela vivia com um traficante sem escrúpulos de nacionalidade estrangeira.
Contratei um detective, que me elaborou um relatório completo e juntou fotografias. Fiquei a saber tudo sobre o indivíduo.
Depois cometi um erro. Fui à Polícia pedir ajuda.
O fulano, creio que me chama “Yuri”soube, levou a minha irmã para uma casa em Vigo e misturando drogas duras com prostituição, vingou-se da minha denúncia.
No último assomo de energia a minha irmã fugiu de Vigo e regressou ao Porto. Não pediu ajuda a ninguém, queria regressar a casa por si só. Morreu num canto escuro no Bairro do Aleixo, com um overdose de heroína manipulada.
Parou por uns momentos, olhou para Hugo e com a voz dura e áspera concluiu:
- Sobre o caixão de minha irmã, naquela tarde cinzenta do mês de Outubro, jurei que encontraria forma de matar o monstro. E sonho e planeio desde esse tempo, a forma de o executar pelas minhas próprias mãos.
E sei, que mais certo o mais tarde, o hei-de conseguir.

Sem comentários:

Enviar um comentário