terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

OS CRIMES DO X






14º. Episódio
Sábado, 14 de Novembro de 2009

Ainda não eram dezasseis horas quando o Inspector voltou ao gabinete da Polícia.
O Figueiredo e o Frederico estavam a afixar no painel, os resumos de relatórios de investigações que haviam seleccionado, e que pareciam responder ao perfil idealizado, crimes duros com assaltos, violência, sequestro e violações. Cada documento estava assinalado, com letras a cores, identificando a data e o local do crime, o seu autor, nomes das vítimas conhecidas e a decisão do Tribunal.
Figueiredo virou-se para o colega acabado de entrar na sala, salientando que nunca pensara que a lista fosse tão extensa. Repara, lemos dezenas de relatórios e escolhemos apenas estes seis, alguns porque os crimes apresentaram contornos de uma extrema violência, outros porque o nosso sexto sentido, para eles nos encaminhou.
Por força do nosso trabalho, em que lidamos com casos quase diários, temos tendência a esquecer muitos deles, por norma, os que se traduziram em processos enviados a julgamento, porque a nossa responsabilidade termina ali, respondeu o Inspector. Mas, no caminho que escolhemos para a investigação em curso, nada nos garante que o crime tenha ficado por deslindar, tenha sido presente a Tribunal ou, pior ainda, se os criminosos foram punidos. É muito difícil conseguir entrar na mente de alguém que decide ser juiz e executor, porque ele não age de maneira racional.
O chefe, ainda não baptizamos este caso, diz Frederico. E se lhe dermos o nome “ Os crimes do X”, não era uma boa ideia?
- Pois é, responde Figueiredo, até podes vir a escrever um romance com esse título. Mas primeiro temos de resolver o mistério, ou terás de inventar um final para o livro.
- Com nome ou sem nome, qualquer coisa me diz que acabaremos por chocar com um muro. Eu, dizia Frederico, já identifiquei duas vítimas do bandido encontrado morto junto ao sucateiro, que me disseram, sem qualquer pudor, que quem o matou, fez apenas o que a Polícia e o Juiz não fizeram.
Embora nos custe ouvir essa crítica imerecida, compreendemos as pessoas que sofreram e não estarão dispostas a colaborar. Só com muito trabalho, alguma argúcia e um pouco de sorte, receberemos ajuda. Eu vou tentar convencer uma mulher a colaborar no esclarecimento do assassínio de Telheiras e, garanto, ele não foi morto em ajuste de contas com rivais. Vou sair e volto já.
Pois,o chefe vai namorar com a mulher misteriosa e nós ficamos aqui a olhar para o boneco. Frederico, quando não vale ser Inspector?
Na rua, Monteiro liga o número de telemóvel que o empresário lhe deu, foi atendido por uma voz de mulher e começou a falar:
– Peço desculpe o meu nome não lhe deve dizer nada mas o seu nome e este número foi-me dado por alguém que nos conhece bem. Eu gostaria de a encontrar e de falar consigo sobre um assunto particularmente importante.
Olhe, eu não costumo aceitar encontro com pessoas que não conheço. Percebeu? Por isso diga lá que assunto se trata.
- Minha senhora, vou ser franco consigo. Eu gostava de falar sobre uma pessoa que a senhora conheceu, bem ao que sei, e que foi morta ontem à noite. Sou Inspector da Polícia e prometo que o que me quiser contar será um segredo. Confie em mim. Mas também pode falar com o nosso amigo e confirmar que o Vítor Monteiro cumpre o que promete.
Está em Lisboa, não é verdade?
– Confirmo, estou.
– Então convide-me para jantar no restaurante do hotel Tivoli. Às 20 horas eu esperarei lá por si.
– E como é que eu a vou reconhecer?
– Não vai ser difícil. Para isso é Polícia não é verdade? Riu-se e desligou.
O Inspector Monteiro, entrou na sala de jantar e o chefe de sala, acompanha-o a uma mesa perto duma janela, onde já se encontrava sentada uma mulher.
Puxa uma cadeira, convida-o a sentar-se.
Monteiro senta-se e olhe para a mulher na sua frente. É uma mulher bonita, bem vestida e com um sorriso algo provocante.
Como viu não teve dificuldade em me reconhecer. Não sei que o nosso amigo comum lhe disse, mas aqui o meu nome é Mariana.
Mariana que coincidência. A minha ex-mulher tem o mesmo nome!
Não me diga, então use, por favor, o nome Luciana. Escolheu as entradas e o prato principal, dizendo:
- Olhando para si não me parece um homem que se preocupe com a alimentação. Por isso eu já escolhi pelos dois, espero que goste. Deixei os vinhos ao cuidado do chefe de mesa. Agora faça lá as perguntas?
Eu investigo a morte de um indivíduo chamado de “Yuri” qualquer coisa. Sei que o conhecia, pode ajudar-me?
Luciana fez uma pausa enquanto o empregado servia a entradas. Depois de saborear um gole de vinho, respondeu:
- Acredito e espero que tenha sido executado por uma das muitas pessoas a quem ele arruinou a vida. E assim não quero contribuir para a punição de quem teve a coragem de fazer o que já outros deviam ter feito.
- Esse dilema, como calcula, coloca-se muita vez a quem investiga crimes. Muitas vezes senti o mesmo. Mas na verdade a justiça, boa ou má, tem que ser praticada em Tribunal, caso contrário voltamos à idade das trevas e cada um faz justiça pelas próprias mãos, argumentou o Inspector.
Tem razão, mas acredite que não sei quem está por detrás do crime. Mas se eu fosse amiga íntima duma jovem chamada Maria Luísa Pires, que foi encontrada morta, há cerca de um ano, num beco escuro do bairro do Aleixo do Porto, teria feito o serviço. Mas isso não quer dizer mais nada do que lhe disse, lembro apenas porque foi esse caso que me abriu os olhos. E pronto, não sei nem quero falar mais desse assunto.
Concluíram a refeição falando de assuntos vários. Vitor Monteiro já esquecera como uma conversa, com uma mulher bonita, podia ser interessante. E não resistiu a dizer que teria muito gosto em a voltar a ver.
Até esqueci a sua missão. Você tem o meu número. Ligue quando quiser e ficarei feliz. Não lhe vou desejar sucesso na sua perseguição, porque na realidade, não o desejo.

Sem comentários:

Enviar um comentário