terça-feira, 3 de maio de 2011

O EXECUTOR

12 – OPERAÇÃO SWORDFISH

Tinha sido uma noite agradável, desfrutando o tempo e a companhia. Entre uma conversa de circunstância, Anne falou a seu respeito. Nascera na Alemanha, estudara em Londres onde encontrara o homem com quem passara a viver. A relação durara apenas alguns meses. Fora o tempo que precisara para se convencer que tinha cometido um erro. Nada tinham em comum, salvo uma atracção física que, com o tempo tinha desaparecido. Além do mais e por acidente, ela veio a descobrir que o companheiro lhe mentira todo aquele tempo, era casado e tinha família constituída na Austrália, donde fugira a contas com a justiça. Acabou detido e enviado para a Austrália para ser julgado por fraude.
Num fundo, confessava, foi uma separação que não deixara marcas mas a deixara prisioneira de dívidas.
Os documentos não correspondiam a financiamento bancário, mas sim a dívidas de jogo e empréstimos de agiotas. Sem trabalho, viveu algum tempo com a ajuda da família da Alemanha, até que, pressionada pelas ameaças, aceitou fazer o trabalho de correio de droga e servir de acompanhante a personagens pouco recomendáveis do submundo do crime organizado.
Foi apanhada pelas autoridades e foi-lhe oferecida a liberdade, em troca de prestar informações sobre os seus contactos, que deveria transmitir a um Departamento dos Serviços Secretos Ingleses.
A sua colaboração permitiu o desmantelamento de uma rede de tráfico de mulheres oriundas dos Países de Leste.
Fora, dizia, o seu passaporte para o trabalho que agora fazia para a Organização.
Pedro não questionou, mas entendeu que a confissão da companheira, tinha sido um pouco espontânea e ele fora habituado a desconfiar, mesmo dos mais pequenos detalhes.
Sobre ele, disse o indispensável e pouco mais, solteiro, analista financeiro, especialista em operações financeiras internacionais, que geria a partir do escritório de Lisboa, avesso a compromissos mas prezando muito, e frisou muito, a confiança.
Tinham escolhido um restaurante, brindaram em silêncio e foram dançar a um clube de nocturno.
Foram momentos agradáveis, Anne adorava dançar e deixava que o seu corpo fosse comandado pelo ritmo e magia da música, enquanto os lábios se entreabriam na busca de um beijo.
Sem palavras regressaram ao hotel. Pedro pediu a chave da suite, subiram, despediu-se dela com um olhar que dizia mais do que mil palavras.
Voltou a sair e no silêncio da madrugada foi andando até encontrar ao hotel onde deixara Gabriela. Sentia desejo de a ver, de procurar no seu olhar, porventura magoado, o alento que precisava, para juntar as peças do esquema que ia desenhando no seu consciente, estratégias isoladas que precisava de articular e consolidar. E para isso precisava de companhia e de um gesto de carinho. Um gesto, nada mais.
De frente para o hotel olhou para a frontaria e viu que uma janela tinha a luz acesa. Sentiu que aquela janela com a luz acesa era um sinal de que Gabriela estava à sua espera. Mas não teve coragem de confirmar. Ficou parado no passeio oposto, olhando para o sinal até que a luz se apagou. Eram quase cinco horas da manhã.
Regressou ao seu hotel, subiu ao quarto, estendeu-se na cama mas não conseguiu dormir. Sentou-se à mesa e escreveu duas breves notas.
Uma para Anne a dizer que seguiria para Montecarlo e depois daria notícias. Outra para Gabriela, mais intimista, dizia:
“- Estive uma hora, na rua do teu hotel, vendo uma janela que mantinha a luz acesa. Era já madrugada e eu senti que poderias ser tu à minha espera.
Mas, hesitei e não tive coragem para te procurar. Eu esperava tanto que aquela luz fosse um sinal teu, porque me senti só e perdido naquela rua deserta.
Vou partir, não sei quanto vou voltar. Até lá ficarei na ilusão de que, naquela madrugada cinzenta, a luz era para mim. E é com ela que eu vou ficar.Adeus
Pedro”.
Pouco depois arrumou a sua bagagem, subiu à suite e por baixo da porta, deitou a pequena mensagem para Anne.
Passou no hotel Plaza e deixou o envelope com a mensagem para Gabriela.
Tomou um táxi para o Aeroporto, alugou um automóvel cómodo que conduziu até Marselha.
Como queria, era já noite quando parou o carro no parque perto do seu escritório. Andou pela rua, prestando atenção ao movimento e num ápice entregou para um edifício, subiu as escadas e abriu uma porta que tinha uma discreta placa dizendo: “Fond d’Investiment Privé sa”.
Estava em casa. Era ali o local para preparar a operação.
Durante a viajem desenhara o esquema. Queria controlar os movimentos do iate suspeito deste Istambul, a sua passagem por Marselha e atacar durante a sua permanência nas águas do Mónaco.
Para a intervenção precisaria de quatro colaboradores, que seriam escolhidos por si. Sem qualquer interferência da Organização. Anne, poderia ser uma excepção, mas teria de a testar.
Orçamentou os custos da operação e mandou uma mensagem para obter o acordo. Era uma verba muito importante e não arriscaria avançar sem ter luz verde. A luz verde chegou sem objecções.

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